Publicado em 25/07/2018, às 12h40 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h24 por Redação Pais&Filhos
Tarefase atividadesmarcadas no relógio e seguindo uma lógica diária podem ser vistas como algo tedioso, mas não deveria ser assim. A rotina faz sentido em todas as fases da nossa vida e é ainda mais fundamental para os nossos filhos. A importância vai além do planejamento eficiente do dia a dia para atender às necessidades dos pais. Rotinaé essencial para a saúde!
Primeiro porque, quando a criança se acostuma a fazer cada coisa em um horário predeterminado, ela já espera por aquele momento. As refeições, por exemplo, precisam ocorrer a cada três horas para a criança ter energia para brincar, estudar e se desenvolver corretamente. Sabendo que todos os dias ele almoça ao meio-dia, seu filho vai aprender a não pular a refeição. Vai assimilar, inclusive, que aquele momento é para comer junto com a família, sem nada que tire a atenção. Todo dia, sem escapar.
O sono é outro ponto que tem ligação direta com a rotina. As crianças precisam dormir a quantidade certa, e não só isso: dormir e acordar cedo faz toda a diferença. A criança tem que brincar ao ar livre para aproveitar os benefícios do Sol, fundamental no processo de absorção de vitamina D dos alimentos. “Se a criança acorda às 11 da manhã, já não pode sair para brincar no Sol por causa do risco de queimaduras solares”, explica a pediatra do Delboni Auriemo Medicina Diagnóstica Natasha Slhessarenko, mãe de Marina e Maria Eduarda. O sono é importante também por questões hormonais. O cortisol, conhecido por ser responsável pela sensação de prazer e de bem-estar, tem o ritmo de liberação mais alto pela manhã e depois vai caindo durante o dia. Além disso, quando as crianças dormem pouco, elas ficam mais cansadas durante o dia, o que prejudica nas brincadeiras e até no aprendizado. “Elas não vão ter a produtividade esperada na escola e podem ter um baixo rendimento”, acrescenta a pediatra.
A rotina também é um quesito valoroso para a saúde mental das crianças. O psicólogo Breno Rosostolato, pai da Sofia e professor da Faculdade Santa Marcelina (FASM), explica que a criança organiza o pensamento a partir das repetições. “Ela passa a se organizar mentalmente e começa a elaborar sozinha novas repetições”. Manter a rotina é, portanto, manter um nível de informação adequado para a criança, que se sente segura sabendo o que virá a seguir no seu dia e nos dias seguintes. É complexo, mas é necessário. Além da segurança, à medida que vai crescendo, a criança internaliza regras, o sistema da casa e as leis que existem na família, segundo o psicólogo. “Tem que respeitar essas normas e entender que em outra família pode ter outras regras”. Se na infância os pais conseguem fazer os filhos entenderem o sistema de regras da família e fora dela, no futuro, o adolescente e o adulto terão menos dificuldades com isso.
Hora marcada pra tempo livre, sim!
Não pense que é porque a rotina é importante que a agenda dos pequenos deve ser lotada de afazeres. “Criança precisa de horário para brincar e para ficar sem fazer nada”, confirma a pediatra. Uma quantidade muito grande de atividades durante o dia pode estressar as crianças. O momento de ficar com a família também deve estar entre os hábitos principais. Quando chega um bebê, todos da casa devem se adaptar a uma rotina adequada para o novo membro. “A rotina faz parte do processo de educação. As crianças precisam se sentir amadas e seguras dentro de um ambiente”, afirma a pediatra. E é justamente a repetição dos hábitos do dia a dia que dá a segurança necessária.
Flexibilidade com moderação
Já está claro que rotina é vital por vários motivos, mas também vale a pena dizer que sair do combinado de vez em quando é tolerável, e até bom. Não devemos perder um aniversário só porque ele foi marcado no meio da semana, por exemplo. Nessa mesma linha, é recomendado que a criança almoce sempre no mesmo horário, mas não precisa ser sempre arroz e feijão, entende?
Essas escapadas da rotina, no entanto, devem ser explicadas para as crianças como algo que realmente não acontecerá todos os dias. “A partir de 3 anos de idade elas já têm condições de entender”, diz a pediatra. Quando a mudança é relacionada a algo mais relevante, como a hora de dormir ou das refeições, ela precisa ser feita devagar. “Tem que ser gradativo, até que a criança consiga se equilibrar com o novo horário, mas as mudanças ajudam a família a não estagnar e aprender a se adaptar às adversidades”, explica o psicólogo.
Cada família, uma rotina
É importante lembrar também que não existe uma fórmula única ou uma rotina ideal que deve ser seguida igualmente em todas as casas. De acordo com a médica Iracema Benevides, filha de Electra e Wilson e presidente da Sociedade Brasileira de Antroposofia, as crianças são muito sensíveis e abertas aos estímulos sensoriais e externos. Portanto, os pais ou cuidadores devem estabelecer uma rotina que respeite o jeito da criança e seus diversos momentos da vida. A antroposofia estuda a natureza do ser humano e do universo. A individualidade deve ser priorizada nos tratamentos, de acordo com a médica especialista nessa doutrina. Isso quer dizer que, antes de definir uma rotina ideal para os filhos, os pais devem analisar o comportamento deles. Uma criança mais sensível aos estímulos externos, que chora mais e acorda com qualquer barulho, por exemplo, precisa de uma rotina mais calma.
“Evitar lugares barulhentos e receber mais estímulos motores, como caminhar descalça na grama, são atitudes mais recomendadas para essas crianças”, indica Iracema. Já a garotada mais ativa, que chora pouco, dorme bem e gosta de comer bastante, precisa ter na rotina mais atividades que a façam gastar energia para que se possa ter equilíbrio no sono e na alimentação. Também existem os meninos e meninas que são mais tranquilos e introspectivos. Esses devem receber estímulo para se movimentar mais, brincar e falar. A brincadeira é muito importante também, de acordo com a médica, para a medicina antroposófica. Iracema cita a famosa frase do filósofo e educador Rudolf Steiner para explicar a relevância de incluir a brincadeira na rotina: “Se a criança é capaz de se entregar por inteiro ao mundo ao seu redor em sua brincadeira, então em sua vida adulta será capaz de se dedicar com confiança e força a serviço do mundo.”
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