Publicado em 24/10/2020, às 06h17 - Atualizado em 26/10/2020, às 07h30 por Redação Pais&Filhos
2020. Uma mudança de comportamento jamais vista nos últimos tempos. Entramos neste ano com o pé direito e todas as esperanças renovadas. Mas logo de cara, com a pandemia, foi necessário enxergar a nova realidade que foi imposta às famílias mundo afora. Corremos para nossas casas e voltamos ao núcleo familiar para proteger quem mais amamos. Passamos a ter medo de viver. Mas mesmo com todas as dificuldades, continuamos lutando dia a dia para buscar a felicidade e identificar o que é o novo normal para cada um de nós.
Nos levantamos de cabeça erguida. Olhamos para frente em busca dessa renovação. A ideia é respeitar o que passamos. A busca pela transformação é a nova realidade. É necessário discutir as mudanças em sermos mais gentis, firmes, gratos e razoáveis por cada dia em que podemos passar lado a lado com quem a gente mais ama. Em meio a todo esse cenário, por mais difícil que pareça, é quando você encontra o apoio para seguir em frente, cultivando o que realmente importa e construindo juntos a coragem para enfrentar o medo de viver, cada um com a sua família e dentro de suas casas.
A pandemia mudou muita coisa: rotina, trabalho, relação com a família e amigos. Em meio a tantas novidades, é comum pipocarem aí na sua cabeça muitas dúvidas e aquele sentimento de incerteza. Junto dele, podem chegar a ansiedade, o estresse e a impaciência. Isso porque o ser humano não é programado para mudanças. Nosso cérebro busca segurança e conforto e, não à toa, situações particulares como essa geram emoções adversas. Segundo Maria Augusta Rhein, mestre e doutora da USP, o novo normal nada mais é que a proposta de um novo padrão que possa garantir a sequência dos humanos, ou seja, a sobrevivência. “Temos um aumento de ansiedade principalmente porque neste caso é um acontecimento que atinge a todos, sem exceção no país. É como se todos estivessem no estado de estresse aumentado, o que dificulta que tenhamos um apoio de alguém próximo de forma mais calma e tranquila”, reforça Vera Iaconelli, psicanalista e mãe de Mariana e Gabriela.
Os impactos do início do isolamento social e a chegada da pandemia na saúde mental das pessoas também foram analisados em uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em parceria com o Yale New Haven Hospital, nos Estados Unidos. O estudo abrangeu outros oito estados brasileiros e mostrou que os casos de depressão praticamente dobraram, enquanto as ocorrências de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80% nos primeiros dois meses da pandemia no Brasil. Especialistas defendem que no momento atual em que estamos, é preciso ficar atento para que essas sensações não tomem conta do dia a dia e não ocupem um lugar maior do que devem.
“Diante do momento atual, tivemos a necessidade de reformular todo o nosso processo de vida como trabalho, relacionamentos, dinâmica e até cuidados com a casa”, comenta Raul Spitz, pai de Eric e consultor pedagógico do LIV – Laboratório Inteligência de Vida. A dica dos especialistas é procurar ocupar a mente. “Não podemos ficar reféns da ansiedade. Temos que exercitar a nossa cabeça. Que tal mudar um pouco o olhar do que pode dar errado e tentar enxergar novas oportunidades?”, provoca Márcia Luz, mãe de Guilherme, Natália e Juliana, psicóloga, palestrante e autora do livro Minuto da Gratidão, da Luz da Serra Editora.
Segundo Vera, a ansiedade é o que sentimos quando projetamos o futuro em vez de viver o presente – e o contrário é a melancolia, quando vivemos projetando o passado. O que devemos fazer é o velho e bom clichê de viver o hoje. “Manter a calma é justamente pensar em um dia de cada vez, um momento de cada vez e não se projetar no futuro”, reforça.
Apesar das frustrações e do sentimento de termos deixado várias das nossas vontades de lado, é importante viver um dia de cada vez, estar presente no aqui e agora e entender que a pandemia veio para ensinar (e muito!). A resposta imediata do medo é a vulnerabilidade, na qual tentamos buscar de volta todo o controle da situação, criando planos e construindo uma rotina ideal, sem a garantia que ela dará certo. Para a psicóloga Daniella Freixo de Faria, mãe de Maria Luisa e Maria Eduarda, é importante viver esse novo dia a dia em sua essência, valorizando as coisas mais simples. “Às vezes, colocamos nossa segurança em coisas que mudam a cada momento. Famílias que se propuseram a aprender começaram a viver um lugar de humildade frente a esse dia a dia. E nessa postura mais humilde, surgiu mais colaboração, disponibilidade e perdão pelos erros que foram cuidados e reconciliados de alguma forma. Com isso, elas experimentam a segurança de fazer o melhor possível, andando um dia de cada vez”, explica.
É essencial ressaltar os aprendizados que irão além da duração da pandemia. Foi durante esse período cheio de emoções paradoxais que muitas famílias perceberam a importância de mudar os hábitos, apostando em boas horas de sono e dando mais valor para a companhia um do outro, por exemplo. “Muitas sementes plantadas puderam nascer e florescer neste ano. Especialmente a semente do amor e da conexão com as minhas filhas. Se antes a gente plantava nos poucos momentos a ideia de que tínhamos que aproveitar os mínimos momentos possíveis juntos, agora era a hora de colher. Teríamos, tivemos, temos e talvez ainda teremos muitos momentos juntos para aproveitar nosso contato”, conta Renato Oliveira, nosso blogueiro parceiro, do @contatoria, pai de Camila e Marília.
Esse momento também pôde ser encarado como uma oportunidade de reforçar o vínculo e construir memórias entre pais e filhos. “Um dos maiores ensinamentos que levamos este ano é que não temos controle sobre nada nesta vida. E que a família é o nosso bem maior. É com quem estaremos sempre de verdade. Independente disso, quando não podemos estar perto de todos os parentes, nunca estivemos tão próximos à família. Mesmo à distância, tivemos a chance de nos reconectarmos com todos de uma forma muito grandiosa”, lembra Fernanda Alfano, embaixadora da Pais&Filhos, blogueira no @promovidaamae, mãe de Rafael e Felipe.
Uma pesquisa feita pela Fundação Canadense de Saúde do Homem (FCSH) mostrou que 60% dos pais se aproximaram mais dos filhos durante a quarentena. Cerca de 1000 dos homens entrevistados contaram que identificaram mudanças positivas na dinâmica familiar e mais da metade afirmou que está mais consciente do sue papel na visa dos filhos. “Nós aprendemos o valor da simplicidade como regra básica. Nada de encher a casa de eletrônicos, mas de resgatar as brincadeiras antigas e deixar a criatividade solta. Nunca desenhamos ou colorimos tanto quanto agora. O ‘eu te amo’ não é mais aquele de passagem, corrido, mas intenso e repetido. Crescemos como família”, diz Renato.
A transformação e a adaptação são alternativas para seguir em frente, principalmente na vida da família. A famosa frase “vai, e se der medo, vai com medo mesmo”, nunca fez tanto sentido como agora. “Quando você anda um dia de cada vez, cria uma nova rotina, outros caminhos de fazer as coisas. E nesses novos caminhos, tem coisas que você sentirá saudade, mas que também conheceu novos jeitos de fazer”, comenta Daniella. Com toda a aprendizagem (e bagagem) adquiridas desde o início desta jornada, o que parecia tão longo e distante nos tornou ainda mais fortes. “Nesse um dia de cada vez, passaram-se muitos meses e estamos inteiros. Tivemos dias melhores, dias piores, dias terríveis e dias maravilhosos. Você se prepara para o pior, mas espera o melhor. É importante fazermos a nossa parte para cuidar disso da forma mais correta possível”, completa a especialista.
Oito meses já se passaram e com eles vencemos diversos desafios para chegar onde estamos, sendo um deles a importância do reconhecimento e saber colocar a humildade em primeiro lugar. “Quando entendemos que somos amados sem merecer, começamos a ter prazer em entregar o melhor por gratidão. De receber o que você recebe não por merecimento, mas sim por conta desse amor”, defende Daniella.
E caso a ansiedade e a incerteza parecerem te consumir, pare tudo o que estiver fazendo. Imagine o mundo voltando ao normal. “Focar os pensamentos nesse futuro bom ajuda muito quando a ansiedade aperta”, indica Saulo Nardy Nader, pai de Mel e neurologista no Hospital Albert Einstein. Outro exercício indicado pelo especialista é imaginar que um amigo próximo está passando por isso e você quer ajudá-lo. “Pense em coisas que você falaria para ele, para acalmá-lo, incentivar e apoiar. Coloque tudo no papel e repita para você mesmo. E não se esqueça: mesmo numa situação ruim, sempre terão coisas boas”, completa.
“Nós sabemos que tudo isso vai passar e o nosso desafio é sair desse momento de crise como seres humanos melhores: mais resilientes, mais fortalecidos e pessoas melhores”, defende Márcia. Nesse contexto, também aprendemos muito sobre empatia. “Quando nos preocupamos com os outros, geralmente, temos a tendência de pensar nas pessoas dentro do nosso núcleo: nós mesmos, nossa família e nossos amigos. O momento atual nos traz a oportunidade de expandir nossa mente, exercitar o altruísmo e se preocupar pelo bem de todos os seres. Quem quer que seja e onde quer que esteja”, defende Vivian Wolff, coach especialista em desenvolvimento humano e mindfulness pelo Integrated Coaching Institute (ICI), mãe de Chloé, Alexia e Arthur.
“Um dos principais pontos para aprender é que não temos nada como garantido, o que traz um respeito pelas relações e tudo que compõe nossa vida”, comenta Daniella. Para a psicóloga, estamos começando a reorganizar uma vida que não vai deixar por último, ou de fora, a conexão – e essa é uma mudança extremamente positiva. Ainda estamos encarando um período de incertezas e medo, mas que nos convoca a refletir para construir um mundo melhor, começando dentro de casa.
– Valorize sua saúde mental
– Consuma de uma forma mais consciente e sustentável
– Introduza a atividade física à rotina da família toda!
– Não basta cair no sono, é importante dormir bem
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