Publicado em 07/02/2022, às 10h36 por Redação Pais&Filhos
Imagine a cena: você está no supermercado pegando congelados e seu filho está no fim do corredor analisando os sorvetes (mais uma vez). Você o chama para ir embora, mas ele está muito entretido com as cores e padrões do doce. Tudo o que você quer fazer é ir para casa e preparar logo o jantar, mas tudo o que ele quer fazer é continuar ali analisando o sorvete – e porque ele é uma pessoa e tem seus interesses (quer você os compartilhe ou não), ele merece respeito. Então, em vez de dizer: ‘Sério? O sorvete de novo?’, você pode dizer: ‘Sei que você está observando ainda, acha que dois minutos é tempo suficiente?’. Ou talvez vocês tirem uma foto pra ele olhar com calma no carro, ou você pode chamá-lo para ir embora educadamente.
Passar mais tempo no corredor do freezer é a solução para os problemas do mundo? Ao racismo, à violência contra a mulher e respeito à comunidade LGBTQIAP+? Claro que não. Mas tratar o seu filho com respeito é a forma como você o educa para ser uma pessoa respeitosa, que conviva em uma sociedade saudável, que tenha o respeito como base. Esses tipos de momentos desafiadores no mercado – na hora de dormir, na hora de comer, dentro do carro… – são quando o respeito é tão importante quanto difícil de demonstrar.
Sabemos quando sentimos, mas o que é o respeito? Thomas Lickona, Ph.D., psicólogo do desenvolvimento e autor de ‘How to Raise Kind Kids’ – em português: ‘Como Criar Filhos Gentis’, define respeito como “mostrar respeito pelo valor individual de alguém ou algo. Tratamos todos, mesmo as pessoas de quem não gostamos, como tendo direitos, dignidade, e valor igual ao nosso”, disse em entrevista à Parents. E Lizzie Post, co-autora de ‘Emily Post’s Etiquette’, um livro de boas maneiras, diz: “Respeito significa fazer escolhas que constroem relacionamentos”.
Acima de tudo, o respeito deve ser recíproco. Você deve dá-lo ao seu filho e esperá-lo em troca. Você pode entender que seu filho está chateado porque o saco de bolacha caiu da mão dele e agora todas estão no chão – e isso tornará mais fácil para seu filho entender essa frustração, mesmo que você esteja disponível para confortá-lo e ajudar a pegar a vassoura, você não estará disponível para absorver toda a sua raiva e negatividade. Respeito, como a Ética da Reciprocidade, significa tratar os outros da maneira como você espera ser tratado. Com isso em mente, aqui estão algumas maneiras de abordar a parentalidade que vão te ajudar a criar filhos que farão do mundo um lugar mais gentil e respeitoso.
Uma boa maneira de praticar é com um pedido de risco baixo: seu filho quer usar meias de pares diferentes? Deixe! Respeite as preferências e o estilo do seu filho (mesmo que você nunca use uma camisa xadrez por baixo de um vestido de festa) como uma forma de estabelecer as bases para respeitar o fato de que esse humano é diferente de você. Você quer sair da chuva, mas seu filho em idade pré-escolar quer ficar do lado de fora e ver a água escorrendo pelas calhas. Como respeitar essa diferença? Pode ser pegar um guarda-chuva em casa, esperar lá dentro com uma toalha grande ou dizer: “Você está super empolgado com a água hoje! Vamos preparar um banho para você. Está muito frio para ficar na chuva”. O conteúdo específico da sua resposta é menos importante do que o fato de honrar o interesse de seu filho.
E lembre-se de que da maneira que você falar com seu filho, é a maneira como ele falará com você e com todos os outros. Por exemplo, “Nossa, por que você sempre demora tanto para calçar os sapatos?”, poderia ser melhor expressado como uma observação respeitosa: “Você está se esforçando tanto para amarrar os sapatos! Adoro isso. Será que deveríamos começar a nos preparar mais cedo para que você tenha mais tempo para praticar sem que eu o apresse?”. Da mesma forma, “vou pegar uma esponja para limparmos isso, filho” ensina respeito (e solução de problemas) de uma forma que “você sempre é tão bagunceiro”, não ensina. E se por acaso você estourar e “estragar tudo” (porque afinal você é uma pessoa real e não uma vela com perfume Zen), peça desculpas ao seu filho.
Uma pesquisa mostrou que as crianças se beneficiam ao participar do desenvolvimento de uma tomada de decisão que vai afetar a própria vida, diz o Dr. Lickona. Ao perguntar: “o que você acha que devemos servir no jantar quando seu amigo vier amanhã?”, ou “que música você quer ouvir no carro?”, mostra às crianças que você as vê como pessoas que têm sentimentos e seus próprios pontos de vista.
O Dr. Lickona recomenda discussões familiares sentadas e com o que ele chama de “audiências justas” – que envolvem oferecer um ouvido democrático e receptivo às opiniões do seu filho. Você quer que ele veja que você está fazendo o melhor para ouvi-lo com respeito, mesmo que discorde dele. À medida que ele cresce, os problemas só aumentam – desistir das aulas do coral, questionar a fé, namorar alguém de quem você não gosta – e para enfrentar tudo isso, é importante ter a prática do respeito mútuo solidamente estabelecida.
Isso não significa que as crianças sempre conseguem o que desejam e não significa que não haja espaço para sentimentos fortes. Mas, em vez de simplesmente dizer: “Não seja desrespeitoso”, tente ouvir os sentimentos por trás do que parece desrespeito. “Lembro de uma vez ter tirado minha filha de 3 anos de uma brincadeira antes que ela quisesse ou estivesse pronta para parar. Ela chorou e chutou os próprios sapatos. Eu calmamente expliquei que tínhamos que pegar seu irmão. Não era negociável, mas eu podia ouvir o quão triste e frustrada ela estava. Não tentei forçá-la ou fazê-la aceitar. Eu apenas fiz o que precisava ser feito e deixei que ela tivesse seus sentimentos sobre isso. ‘Você está tão brava!’, eu disse a ela: ‘você ainda não estava pronta para ir embora’. E ela disse: “eu não estava!”, e chorou um pouco. E então ela parou de chorar”, lembra Catherine Newman, redatora da Parents.
Ouça e modele a escuta ativa desligando o telefone, fazendo contato visual e fazendo perguntas complementares. O Dr. Lickona chama a boa escuta de “um ato de amor”, e realmente é. Um dia, essas crianças terão telefones (se ainda não tiverem), e você vai querer que eles tenham aprendido com o seu exemplo a colocar o celular de lado e ouvir o que você tem a dizer. Diga: “Eu preciso que você olhe para mim para que eu saiba que você está prestando atenção”. Esperemos o mesmo dos adultos. “Eu me treinei para ouvir a porta da frente se abrindo como uma dica para fechar meu laptop e desligar meu telefone”, conta Catherine.
Sim, isso também é conhecido como etiqueta, mas não estamos falando sobre usar o garfo adequado em um jantar chique. Estamos falando sobre ‘por favor, você pode me passar o sal?’ e ‘muito obrigado por ter vindo à minha festa de aniversário’, entre outras respostas graciosas que dizem “agradeço seus esforços por mim e respeito o tempo que você se dedicou’. Você também vai querer ajudar seu filho a aprender a se desculpar e a assumir a responsabilidade por suas ações, caso faça algo (mesmo que acidentalmente) que magoe outra pessoa. Se ele não souber o que quer dizer, você pode ajudar oferecendo alguns exemplos. Tente não usar frases como: “seu bicho de pelúcia velho rasgou, e eu não sei por que você ainda tem aquela coisa de qualquer maneira”, mas sim: “eu rasguei o braço do seu urso de pelúcia antigo enquanto eu tentava tirar ele de trás da cama. Eu sei que ele era um dos seus favoritos, e eu sinto muito por isso”.
Sim, seu filho pode passar por fases de realmente querer um monólogo sobre o jogo do momento, e você vai querer ensiná-lo como manter uma conversa em que as duas pessoas participam do diálogo. Mostrar interesse por outras pessoas (e os interesses delas) é uma ferramenta importante para fugir do narcisismo eu-eu-eu – do tipo que é irritante e, de uma forma mais ampla, é traiçoeiro. Ensine seu filho que uma boa conversa envolve fazer perguntas. Porque mesmo que a pergunta seja sobre algo pequeno (“o pão de queijo sempre foi seu lanche preferido depois da escola?”), faz parte de uma curiosidade maior que diz, em essência: eu sei que você é diferente de mim. Quem é você e como se sente em relação ao mundo?
Isso significa perceber o que há de bom nas pessoas em sua vida e falar sobre isso. Você pode dizer: “Ana foi tão bem naquela gravação! Não acredito que ela e os amigos dela conseguem tocar aquela música com tanta harmonia, que legal”; ou “adoro como a vovó sempre se lembra de que sua cor favorita é azul. Ela é tão atenciosa”. A fofoca positiva é basicamente o oposto de falar com maldade de alguém, e é maravilhosa para desenvolver gratidão, admiração e – sim – respeito.
Digamos que você normalmente leva um lanche para seu filho para comer no carro depois da escola, mas hoje você se esqueceu, e digamos que seu filho reclame disso revirando os olhos e resmungando: “que saco!”. Respire fundo e conte até dez. Lembre-se de que, para ensinar respeito, você precisa mostrar respeito. Em seguida, demonstre a definição de limite respeitosa na prática: “Sinto muito por ter esquecido seus biscoitos e sei que você está com fome”, você pode dizer. “Mas você ouve a maneira como sua voz soa quando você está falando comigo desse jeito? Isso me faz sentir mal, e também me faz realmente não querer fazer coisas boas por você”. É uma boa ideia também pedir desculpas. Lembre-se que seu filho aprende muito pelo exemplo.
Amplie a mente do seu filho para que o respeito e a curiosidade – ao invés do julgamento negativo – sejam sua resposta automática à diferença. Isso pode significar falar sobre o que você acha mais legal num bairro da sua cidade com outra cultura, como a Liberdade em São Paulo, comer no restaurante árabe que acabou de abrir no seu bairro, ou ir ao desfile do orgulho gay. Leia um livro sobre crianças de todo o mundo, para que possa falar sobre o que é semelhante e diferente – eles também adoram brinquedos, eles pegam água de um poço, e por aí vai. Todos esses hábitos significam que você criará sua identidade familiar em torno da prática do respeito. Seu filho vai pensar: “Este é o jeito de nossa família, não o de todo mundo – e tudo bem”. E assim será.
As crianças vão fazer e dizer coisas desrespeitosas – talvez porque estão fora dessa realidade ou testando limites ou aprendendo. Considere esses cenários e como você pode (respeitosamente) reagir a eles.
Seu filho anda com sapatos sujos de lama pelo chão que você acabou de limpar. DIGA: “Estou chateada porque acabei de limpar o chão e agora está sujo de novo. Você poderia pegar uma esponja e me ajudar a limpar essas manchas de lama, por favor?”
Seu filho está construindo um castelo de Lego e não te dá atenção quando você diz que está na hora do jantar. DIGA: “Vejo que você está ocupado construindo, mas fico chateada quando você me ignora. Venha e me diga o que você está fazendo enquanto comemos, e então você pode brincar mais depois”
Seu filho diz: “Quero mais purê”. DIGA: “Estou tão feliz que você gostou! Aqui na nossa família, sempre pedimos dizendo ‘por favor’. Você pode, por favor, tentar pedir de novo?”
Seu filho está bravo e irritado com a hora de dormir e te chama de idiota. DIGA: “Sei que você está chateado, mas não pode falar dessa maneira grossa comigo. Depois de se desculpar, você pode escolher alguns livros que podemos ler juntos. Ou se ainda sentir que vai ser grosso comigo, você pode ir direto para a cama. Depende de você”.
Extraído da revista Parents, copyright ©️ 2021 Meredith Corporation. Todos os direitos reservados. Reimpresso com permissão. Sujeito às leis e tratados nacionais e internacionais de propriedade intelectual. Parents®️ é uma marca registrada nos EUA da Meredith Corporation.
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