Publicado em 23/10/2022, às 05h22 - Atualizado em 24/05/2023, às 11h30 por Yulia Serra, Editora | Filha de Suzimar e Leopoldo
A infância é uma fase muito importante no desenvolvimento do indivíduo. É ali que temos o primeiro contato com o mundo, descobrimos os outros e, principalmente, nós mesmos. E é impossível falar desse estágio da vida sem lembrar das brincadeiras. Provavelmente, uma das suas primeiras memórias tem alguma relação com o brincar. E isso não acontece à toa, a brincadeira vai muito além de um momento de lazer, é uma oportunidade de aprendizado e troca constante e fundamental. Por isso, a Pais&Filhos defende que brincar é um direito de todas as crianças.
Bianca Solléro, psicóloga, arte-educadora e arteterapeuta, autora do livro “Pare de perguntar o que seu filho vai ser”, mãe de Elisa e Filipe, explica: “Os principais estudiosos do desenvolvimento infantil como Montessori, Piaget, Vygotsky e Winnicott atestaram que as crianças aprendem diversos conceitos sobre o mundo através do brincar. No brincar elas experimentam emoções, exploram o corpo, reconhecem seus limites e orgulham-se de suas conquistas. Aprendem a ganhar e a perder, e a lidar com seus medos”. Para a especialista, brincar é uma metodologia de aprendizagem eficiente e, por isso, merece ser explorada.
O mais interessante de tudo é que você pode moldar a atividade de acordo com o objetivo e necessidade da criança, sendo possível brincar com um mesmo brinquedo por muito tempo para que ela consiga explorá-lo em todas as possibilidades e desenvolver a concentração, ou até mesmo variar a brincadeira e brinquedos ampliando o repertório imaginativo e relacional dela.
“‘Brincar é o trabalho da criança’, é uma frase de Montessori. Uma criança que não brinca não se realiza enquanto sujeito e tem seu desenvolvimento cognitivo altamente comprometido”, completa. E os incentivos devem começar desde os primeiros dias de vida. Bianca conta que um adulto estimula os 5 sentidos (toque, audição, fala, visão e até olfato) do bebê ao brincar com ele. “Isso mobiliza uma série de sinapses – que são ligações neuronais – a partir das quais a inteligência da criança é construída e a plasticidade cerebral estimulada”. Dessa forma, a psicóloga defende: “Brincar não descansa a mente, pelo contrário, a ativa. Porém, faz com que a criança se conecte consigo mesma. Brincar é olhar para dentro”.
Tatiane de Sá Manduca, psicóloga clínica e autora do livro Valida-te, mãe de Mateus, concorda e acrescenta: “A brincadeira é uma parcela importante da nossa vida, e isso não se fixa ao universo infantil. O brincar é um fio que passa por toda a constituição do indivíduo, em que para poder se desenvolver o sujeito necessita do brincar”. Ela justifica que assim como a personalidade do adulto se desenvolve através das próprias experiências de vida, o mesmo ocorre com as crianças e o brincar é bastante presente nesse período. “O bebê através da brincadeira poderá apropriar-se de si, interagir, experimentar, criar, reproduzir modelos, explorar e descobrir-se gradualmente.
Através da interação, a criança cria representações do mundo que vivencia, formando uma base referencial para que novas experiências sejam interpretadas e representadas”, diz. Neste espaço, ela pode ser quem quiser, elaborar hipóteses para resolver problemas, criar possibilidades, vivenciar a própria realidade (interna e externa), desfrutar do ócio, fantasiar… Portanto, é preciso tratar a brincadeira como algo além da diversão. “É brincando que podemos utilizar a potência da criação e experimentação”, pontua. Nesse sentido, Tatiane reforça a importância de um correspondente lúdico (mãe, pai ou cuidador) para uma experiência singular e rica para o estabelecimento de vínculo e desenvolvimento emocional. Henri Zylberstajn, empresário, colunista da Pais&Filhos, pai de Nina, Lipe e Pedro, percebeu isso na prática.
Ele, que faz questão de dedicar um tempo de qualidade para brincar com as crianças tanto individual quanto coletivamente, afirma: “Além de companheirismo e cumplicidade, aprofundamento de laços e vínculos, tem uma questão de mediação e consenso que essa brincadeira coletiva apresenta e acaba desenvolvendo muito”. O empresário entende que a brincadeira desperta gatilhos fundamentais, como a motivação, uma vez que a criança está praticando algo com intenção e vontade, e o aprendizado criativo, com desenvolvimento de autonomia e senso coletivo.
Para Henri, também é a oportunidade de fixar aprendizados e resgata uma memória com a filha para explicar: “Quando ela era menor, enquanto brincava de boneca, falava em voz alta aquilo que eu e a Marina falávamos para ela. Era uma forma de ela estar se divertindo e fixando bons costumes que estávamos sempre tentando passar”. O nosso colunista destaca o impacto do brincar no desenvolvimento do caçula, com síndrome de Down, como forma de estimulação e quebra na rotina. “O Pedro já tem uma agenda bem ocupada (ele faz fisioterapia, terapia ocupacional, fono, natação), o brincar se torna ainda mais essencial como um equilíbrio para ele poder fazer o que quiser”, comenta. Dedicando um tempo para brincar com os filhos – sem distrações – e deixando brinquedos ao alcance deles para que possam brincar de forma autônoma, Henri tem incentivado essas atividades dentro de casa.
Vanessa Abdo, doutora em psicologia e CEO do Mamis na Madrugada, mãe de Laura e Rafael, destaca a importância dessa abordagem, contextualizando: “Nós temos dois tipos de brincar: brincar dirigido, em que um adulto fala para a criança: ‘Vamos brincar de pintar?’, ‘vamos brincar de montar?’, então o adulto dirige o brincar; e o brincar livre, em que podemos deixar objetos e brinquedos ao alcance da criança de forma segura, e ela tendo esse estímulo ao entorno, pode escolher qual brinquedo e brincadeira quer fazer”.
Ela garante que os dois tipos têm uma importância, um objetivo e uma estratégia e por isso são muito necessários. Então, dosar esses momentos é fundamental. E cuidado para não cair na tentação de oferecer algo para o seu filho caso não seja estimulado, o brincar não dirigido é precioso. Seja praticando a coordenação motora, equilíbrio, concentração, noção de espaço, pensamento estratégico ou habilidade de negociação, na brincadeira tanto os adultos quanto as crianças têm a oportunidade de desenvolver os potenciais e desafios pessoais. “Nós conseguimos aprender e fazer uma elaboração dos nossos conflitos: ‘Nossa, eu fui bom hoje’ ou ‘hoje não fui tão bom’. E está tudo bem não ser tão bom. Poder experimentar todas essas consequências da brincadeira e ver como nós nos sentimos em cada uma delas, é um processo de autoconhecimento incrível”.
Dentre as atividades para um momento em família, Vanessa sugere uso de bola, uma vez que oferece infinitas possibilidades e ainda colabora para a união de todos. “A gente poder perceber que o mundo no olhar da criança é um grande parque de diversões, então precisamos tornar os ambientes seguros para esse brincar, esse olhar atento de que tudo pode ser muito estimulante”, pontua. Por isso, vale uma atenção também. É preciso que a criança tenha um momento de pausa para elaborar o aprendizado. A especialista alerta que a hiperestimulação pode ser prejudicial e, então, é necessário essa dosagem por parte dos pais. O mesmo vale para o uso dos eletrônicos. Equilíbrio é a palavra-chave. As telas, principalmente durante a pandemia, vieram para ajudar, mas também é preciso ressignificar o período para uso delas.
Geovanna Tominaga, jornalista, apresentadora, colunista da Pais&Filhos e celebrante de casamentos, mãe de Gabriel, teve esse cuidado ao perceber um apego do filho em relação à tecnologia. “Já passamos 4 meses sem eletrônicos por aqui. Foi um detox essencial para o Gabriel. Valeu muito a pena. O nosso filho está mais calmo, dorme melhor, está mais criativo e brinca mais com as pessoas”. Ela está agora programando a reinserção aos poucos, mas faz questão de manter esse momento em família: “Ir pro chão brincar com o meu filho é a coisa mais divertida do meu dia”.
A jornalista encara a brincadeira como a primeira “escola” da criança devido à importância e efeito. E segundo ela, para desfrutar desse período de brincadeiras não precisamos de nada muito extravagante. “Se pararmos para prestar atenção, todas as atividades do cotidiano são momentos que podemos fazer brincando. A hora do banho, de escovar os dentes, de comer, de colocar o sapato, de ir pra escola. A verdade é que nós, adultos, estamos sempre correndo e nem damos a oportunidade de nos divertirmos com nossos filhos. Eu tento tirar proveito de todos esses pequenos momentos”. Brincar é coisa séria, mas não se confunda, isso não quer dizer que brincar não deve ser algo divertido. Muito pelo contrário. É justamente esse o poder dessas atividades. Permitir que as crianças (e por que não dizer os adultos?) aprendam enquanto passam um momento – sozinhos ou juntos – de qualidade.
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