Publicado em 14/09/2018, às 07h11 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
Outro caso envolvendo o desafio da “Momo” foi registrado nesta semana, em Jaboatão dos Guararapes, no Pernambuco. Segundo o Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), uma garota de 13 anos teria cortado os pulsos depois de conversar com a Momo, um perfil que aparece no WhatsApp em redes sociais, que envia mensagens e ameaçadoras e até liga para as pessoas. As mensagens diziam que se a menina não se machucasse, sua família morreria. No momento em que a jovem se feria, sua mãe estava em casa e a impediu de continuar.
A adolescente contou à delegada Vilaneida Aguiar, responsável pelo caso, que recebeu uma solicitação de amizade no Facebook de um perfil com a foto de uma obra de arte japonesa que ficou conhecida na internet como “Momo”. “Cerca de 10 dias antes, o perfil vinha conversando com ela. A relação começou normalmente, dizendo informações pessoais, e sem fazer nenhuma ameaça. Só que durante esse tempo, a mãe notou comportamentos estranhos da filha, porque ela ficava muito tempo no quarto e se cobrindo com lençol”, afirmou a delegada ao jornal Extra.
Na segunda-feira, a menina sentiu medo quando recebeu uma ameaça que dizia: “Se você não se cortar, vou matar toda sua família”. A delegada explicou que o perfil já tinha as informações sobre onde ela morava e com quem, então a adolescente acabou obedecendo, sem contar para ninguém sobre a mensagem. Como a mãe tem acesso ao celular da filha, ela viu o perfil da Momo e o bloqueou imediatamente.
O perfil com quem ela conversava tem na lista de amigos várias pessoas com idades próximas a dela que parecem morar em outras partes do Brasil. De acordo com a delegada, não houve outros casos como esse na cidade, mas ela enfatizou a importância de os pais vigiarem o conteúdo que seus filhos adolescentes acessam na web.
Os riscos do jogo
Não é de hoje que esses tipos de desafios são espalhados pelas redes sociais. Em 2017, o “jogo da Baleia Azul” foi tão sério, que ficou associado diretamente com o aumento de casos de suicídio entre crianças e adolescentes, causando preocupação em famílias do mundo tudo.
Este novo desafio consiste em adicionar um contato com o suposto número do Momo e iniciar uma conversa. Com uma aparência aterrorizante, a imagem do Momo ficou famosa pelo aplicativo de conversas e vem causando curiosidade entre os internautas. Mas especialistas advertem que o desafio pode ser algo muito mais sério do que uma simples distração online.
À primeira vista, o Momo parece ser algo inofensivo, até que a pessoa por trás do número começa a fazer ameaças envolvendo os familiares das crianças usando informações pessoais, desafiando os jogadores a fazer coisas perigosas.
Se você ou sua família for “vítima” do Momo, a recomendação de especialistas é bloquear imediatamente o número para que ele não entre mais em contato, seja por ligações ou pelo WhatsApp, já que sua privacidade pode estar em risco.
O que os pais podem fazer
Segundo o CyberHandbook, somente no Brasil, 62 milhões de pessoas foram vítimas de cibercrimes em 2017, o que representa 61% da população adulta com acesso à internet. Entre crianças e adolescentes, esse número aumenta: cerca de 80% dos pais não têm ideia dos conteúdos acessados pelos filhos diariamente na internet, o que os coloca em uma posição vulnerável.
Para Andrea Ramal, consultora em Educação, Doutora em Educação pela PUC-Rio e autora do livro Educação na Cibercultura, os pais precisam estar conectados e participar ativamente do mundo digital para conseguir monitorar a atuação dos próprios filhos nas redes sociais.
“Eles precisam se informar cada vez mais sobre as novas tecnologia e aprender a usar os dispositivos e mídias que os filhos dominam. Só assim, vão conseguir saber o que está acontecendo e agir de forma preventiva sempre que uma possível ameaça for detectada”.
Mas tudo deve ser feito com consciência, não vale entrar com uma postura de somente vigiar e controlar. É preciso construir um diálogo em família sobre o uso da internet, para que a criança ganhe autonomia e aprenda aos poucos o que pode ou não fazer nas redes. “Os pais devem se mostrar sempre receptivos a conversar e se interessar pelo ocorrido, sem sermões, mas buscando informações que possam elucidar o caso e confortar a criança”, aconselha Andrea.
De olho no seu filho
Para proteger sua família de desafios onlines desse tipo, que nada têm de brincadeira, é preciso observar comportamentos que fujam do normal, como alteração do humor, aumento da agressividade, tristeza, prostração ou emagrecimento. “A atenção deve ser redobrada com aqueles jovens que já apresentem tendência à depressão, que costumam ser especialmente atraídos por jogos prejudiciais”, aconselha Andrea.
Caso seu filho seja exposto a golpes e cibercrimes como esse, o melhor caminho é denunciar e registrar pelo número 181 ou diretamente em uma delegacia. “Para contribuir com o trabalho das autoridades, é indicado que os pais consigam uma imagem da página, que pode também ser impressa, registrem as conversas e armazenem todas as informações que possam contribuir para o esclarecimento do caso. Também vale entregar computadores e aparelhos celulares para que sejam realizadas perícias e os criminosos possam ser encontrados e punidos”, explica Andrea.
Além disso é muito importante procurar a escola, conversar com o diretor, psicopedagogo ou psicólogo, e com os professores que acompanham a criança, para avaliar a situação como um todo, a partir de diferentes pontos de vista. “É necessário incentivar, na escola e em casa, o questionamento sobre as razões e consequências de atos e escolhas, e refletir sobre valores. Esses desafios online, e outros tipos de riscos do uso da internet, precisam ser debatidos de forma transparente entre professores, pais e alunos”, aconselha a especialista.
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