Publicado em 16/10/2020, às 08h36 - Atualizado às 09h01 por Toda Família Preta Importa
**Texto por Rayssa Oliveira, estudante do oitavo período de psicologia, criadora do Intagram @rayssaoliverz, que debate maternidade, psicologia e rotina, mãe de Enzo e Alice
Quando eu tinha 23 anos lá em 2013, Enzo me tornou mãe pela primeira vez, e em 2015 tive a Alice. Foi tudo muito rápido e nessa época eu somente pensava na maternidade como ela é: noites mal dormidas, fraldas, quando introduzir alimentos sólidos… Essas preocupações que toda mãe tem, que já não é fácil e eu ainda nem pensava no que eles poderiam enfrentar no futuro como pessoas negras.
Mas não demorou muito para eu perceber que eu deveria ser um referencial para eles, então passei a observar minhas falas, meu consumo, e vi que eu deveria curar dores que estavam silenciadas, que eu deveria me enxergar como realmente sou, deveria amar quem sou e que toda mudança que eu decidisse fazer na minha estética que não seria por imposição dos padrões de beleza que nos foram impostos, mas sim por uma escolha livre minha.
Em 2017, no início da minha graduação em psicologia, eu comecei a apresentar diariamente a cultura africana para os meus filhos, pois, se eles tiverem na escola o que eu tive sobre a nossa história e cultura, será rasa e mal contada, já que ela é muito rica e diversa e eles precisam ter referências sobre sua identidade e ancestralidade. Assim, a cada dia eles iam crescendo e adquirindo certa independência e logo eles estariam indo pra escola, cursos, e não ficariam 24 horas por dia comigo, eles iria enfrentar, de certa forma, o mundo e a realidade que toda pessoa preta vive.
Passei a buscar referências para eles nos livros infantis (O pequeno príncipe preto do Rodrigo França e Sulwe da Lupita Nyong’o são os preferidos por aqui), nos filmes e na música. As redes sociais, principalmente o Instagram, que é a minha rede preferida e o lugar onde encontrei pessoas (mães principalmente) com muito conhecimento e falas empoderadas e sensíveis que apoiam e se conectam para uma fortalecer a outra e sem contar, claro, minha família e familiares que sofreram com o preconceito, mas não abaixaram a cabeça, eles sempre serão meu pilar de referência.
Eu sempre digo pra eles que eu amo cada detalhe deles, principalmente quando penteio os cachos da Alice ou passando hidratante em suas peles aveludadas e ouvi-los correspondendo com “eu amo ser pretinha ou amo meu cabelo cacheado” me faz ver que estou na direção certa pois o meu maior desejo é que eles se sintam seguros em ser quem são, pois não será fácil. Ser negro não os diminui e o lugar deles é onde eles almejam estar, quero que sintam orgulho da sua origem, da sua cor, do seu cabelo crespo e traços.
Crio expectativas para o futuro deles, mas infelizmente não saberei como ele será e o que irão enfrentar, tudo isso está longe do meu controle. Eu, como mãe, procuro sempre enxergar o que há de melhor no planeta para poder mostrar a eles, os educo para serem fortes e gentis, para que quando estiverem frente a um ato racista que eles não se deixem ser silenciados! Todos precisam saber que as vidas negras importam, é o nosso direito existir.
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