Publicado em 01/02/2023, às 11h11 - Atualizado às 11h16 por Redação Pais&Filhos
Em entrevista ao portal Metrópoles com o colunista Leo Dias, o surfista Pedro Scooby contou sobre um tema muito delicado que ele e a esposa, a modelo Cintia Dicker, passaram durante a gestação de Aurora.
A filha do casal nasceu com uma má-formação, a gastrosquise, a descoberta foi feita ainda na gestação pelos exames feitos durante o pré-natal. No início da gravidez eles moravam em Portugal, e começaram os cuidados da gravidez lá, mas por orientações médicas de não prosseguir com a gestação fez com que o surfista e a esposa mudassem os planos.
“Um dos últimos médicos que estavam aqui [em Portugal], que a Cintia foi se consultar, falou para ela: ‘Por que você não interrompeu a gravidez?”, contou Pedro ao colunista.
Isso bastou para o casal que viu que tinham outras alternativas, já que eles tinham o desejo de ter a bebê. Por isso, eles voltaram para o Brasil, país de origem de ambos, para ter Aurora. Além de ser um país já conhecido pelo casal, o Brasil também é referência em gastrosquise no mundo.
Recentemente, a modelo Cintia Dicker revelou a condição que afetou sua filha, Aurora, fruto do relacionamento com Pedro Scooby. A bebê precisou passar quase três semanas internada após o nascimento, no final de dezembro, e foi submetida a três cirurgias até finalmente conseguir alta, no dia 10 de janeiro. Trata-se de uma malformação chamada gastrosquise, descoberta ainda na gestação, quando Cintia estava com 12 semanas de gravidez.
Considerada uma doença rara, atinge cerca de 1 criança a cada 10 mil nascimentos, sendo mais comum em mães jovens, menores de 20 anos, conforme explica Vitor Fitaroni Neves da Cunha, Cirurgião Pediátrico da Rede Meridional/Kora Saúde.
“A gastrosquise é uma malformação congênita localizada na parede abdominal do bebê ainda na barriga da mãe. O bebê apresenta um defeito à direita do cordão umbilical que pode expor o estômago, intestinos delgado e grosso, fígado, ovário e outros órgãos abdominais”, afirma.
O cirurgião pediátrico conta que apesar de não causar nenhum risco à gestante, a condição merece atenção, já que pode provocar desidratação, infecções, necrose e perda de parte do intestino. “Se não tratada de forma adequada pode levar ao óbito”, alerta.
A prevenção acaba sendo feita de forma simples, por meio do pré-natal. No exame de ultrassonografia morfológica já é possível fazer o diagnóstico e preparar o tratamento do bebê.
“Algumas vezes, principalmente em mães que não fazem o pré-natal, a família só descobre no nascimento. Por isso, é recomendado que as mães façam o pré-natal completo, o que permite uma programação do parto em locais especializados, para melhorar o prognóstico do recém-nascido”, diz Cunha.
A condição não tem uma causa definida, mas há alguns estudos que relacionam o tabagismo e uso de drogas ilícitas durante a gestação a uma maior chance de gastrosquise. Porém, o fator mais comum relacionado a doença é a baixa idade materna (menor que 20 anos).
O tratamento da malformação é sempre cirúrgico, feito assim que o bebê nasce, por isso a importância de ter o diagnóstico antes. “É necessária a redução do conteúdo exteriorizado para dentro da cavidade abdominal. Às vezes essa redução é realizada em etapas”, explica o cirurgião pediátrico.
No caso de Cintia e Scooby, assim que souberam do diagnóstico da filha, decidiram que o parto seria no Brasil, onde se sentiriam mais seguros e teriam uma equipe médica disponível para cuidar da mãe e bebê.
Em alguns hospitais, o procedimento é realizado através do método Simile-Exit, como aconteceu com Adriana Takata e Bruno Freitas, pais de um bebê com gastrosquise. “Pouco antes do parto a mãe recebeu um sedativo venoso que chegou a circulação fetal, nós retiramos o feto e mantivemos sua oxigenação pelo cordão umbilical que foi mantido ligado à placenta e pulsando durante todo o procedimento”, explica o especialista em medicina fetal Gregório Lorenzo Acácio, um dos coordenadores da Linha de Cuidados da Medicina Fetal do Sabará Hospital Infantil.
Assim, foi possível manter o bebê com leve sedação, diminuir a resistência abdominal e facilitar a reposição das alças intestinais. O parto teve duração habitual e o procedimento de correção demorou 25 minutos, além de contar com uma equipe completa de profissionais: obstetra, cirurgiões pediátricos, neonatologistas, anestesistas, etc.
“Essa técnica traz benefícios para o bebê como a aleitamento materno mais precoce, menor tempo de internação e redução do uso de dieta parenteral”, explica as cirurgiãs pediátricas do Sabará Hospital Infantil, Natália Pagan e Fernanda Leão, responsáveis pelo procedimento.
Depois da cirurgia, é preciso um acompanhamento médico do bebê, já que a inserção dos órgãos pode causar repercussões fisiológicas importantes, afetando o funcionamento do intestino. Sendo assim, não é raro que bebês com gastrosquise tenham que ficar internados por semanas ou até meses para que os órgãos possam voltar a funcionar perfeitamente.
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