Publicado em 10/06/2019, às 14h11 por Cecilia Troiano
Sempre procurei explicar para os meus filhos como funcionava minha vida profissional. Como muitas crianças, Beatriz se divertia indo ao meu escritório, assistindo a palestras ou acompanhando discussões sobre produtos. Guardo em minha sala na empresa até hoje algumas anotações que ela fez assistindo a um grupo de pesquisas. Enquanto eu moderava, ela acompanhava atentamente as conversas das consumidoras por trás do espelho. Minha filha tinha 6 anos e era recém-alfabetizada, e anotava o que ouvia de interessante.
Tais anotações que Beatriz fez, mesmo quase 20 anos depois, são para mim praticamente uma prova de um dos primeiros envolvimentos da minha filha com minha vida de equilibrista. Fazê-la conhecer o meu lado profissional, mostrando a realidade e o lado prazeroso do trabalho, foi uma forma de torná-la ainda mais cúmplice e participante da minha rotina.
Mas, mesmo sem saber ao certo o que os pais fazem, Beatriz Savoldi diz que todos entendem a relação trabalho x dinheiro. “Eles sabem exatamente como funciona o mecanismo do consumo”, revela a professora. Ainda sobre esse tema, Maria Irene Maluf, psicopedagoga elabora sobre a questão do valor x o preço. Segundo ela, é preciso transmitir que toda moeda tem dois lados, então existe ao mesmo tempo o preço e o valor de uma coisa. “Depende muito de em qual momento estou: se eu quero um Playstation de último tipo e minha mãe está trabalhando e se esfalfando para consegui-lo para mim, uma beleza. Mas na hora que eu quero um cafuné eu não sei se gosto tanto assim de ela trabalhar. Tudo na vida tem um custo”,
Dependendo do que falamos e explicamos aos nossos filhos, ficará mais evidente o lado do valor ou o lado do preço. “Tem filho que julga que a mãe trabalha pelo preço da comida, da escola, da casa… e outro que fala da promoção da mãe e de como ela fica feliz exercendo a profissão, ou seja, entendeu o valor do trabalho dela, tanto para ela mesma quanto para os outros.” Observando as respostas dos pesquisados, percebo que o mundo do consumo é fascinante para as crianças, e por isso ainda vêem no dinheiro o benefício maior do trabalho.
À medida que vão ficando mais maduros, no entanto, os jovens já apontam mais a opção “trabalha porque gosta” para a mãe (e para o pai. Valorizar o que se faz, com certeza, dá ao trabalho uma conotação mais completa do que a simples necessidade econômica, ou seja, tira-se aquela imagem negativa de um mal necessário e planta-se a de uma atividade prazerosa, interessante, que permita colaborar com o coletivo e resulte, acima de tudo, em crescimento pessoal.
Enfim, acho fundamental compartilharmos com nossos filhos o porquê de trabalharmos, seja qual for o nosso motivo e desde que são pequenos. Claro que nossa fala e profundidade dependerá da maturidade da criança e e da capacidade de compreensão de cada idade.
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