Publicado em 12/11/2018, às 08h48 por Dra. Ivanice Cardoso
O ENEM parece estar distante da enorme lista de desesperos e preocupações dos papais e mamães com filhos ainda na educação infantil ou ensino fundamental.
Mas esse ano o ENEM trouxe para a redação do exame um tema super importante para quem tem filhos que, de alguma forma, tenham uma vida digital. O tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” coloca um ponto de interrogação na cabeça não só de quem participou do exame mas também dos pais e mães aqui do lado de fora.
Ainda que seja só assistindo vídeos fofinhos nas plataformas online, nossos filhos estão acessando conteúdos e, ao mesmo tempo, estão entregando para essas plataformas e aplicativos muitos dados. Não parece, né?
Predileções, gostos, desejos, como gastam o seu tempo, lugares que frequentam, tempo que permanecem dentro e fora de casa são dados que são entregues sempre que usamos a internet sem que saibamos. O tempo todo, querendo ou não, estamos alimentando o Big Data (aquele quartinho dos fundos em que as nossas informações são guardadas pra serem usadas por alguma empresa que se interesse por eles). E essa entrega conta para milhares de empresas e milhões de pessoas muito mais de nossas vidas do que conscientemente escolheríamos falar.
Somos manipulados na internet? Somos induzidos a fazer coisas que não gostaríamos ou a fazer mais e mais do que mais gostamos?
A resposta é sim! Manipular comportamentos na internet é possível e, para algumas empresas, mandatório. Através dos algoritmos, as aplicações e serviços online combinam os nossos dados com o que eles querem oferecer, mesmo que a gente não queira nem comprar, consumir ou saber que existe.
Mas quando se trata de comportamento dos nossos filhos, como fazemos? Dados e informações de menores de idade na mão de “só Deus sabe quem” podem se tornar um problema com uma dimensão muito grande de riscos. Porque o uso de dados que leva à manipulação de comportamentos on ou offline tira das crianças e adolescentes a liberdade de se desenvolverem plenamente, livres de imposições ou qualquer tipo de opressão, principalmente de empresas e serviços. Além de não respeitar a condição de “pessoa em formação” e o direito da criança de ser tratado com prioridade absoluta, principalmente na internet.
“Dados pessoais” não são só aqueles dados mais óbvios como e-mail, nome, RG e endereço, mas também os dados que estejam relacionados às novas tecnologias como quantas curtidas ou compartilhamentos são feitos, comentários em posts em redes sociais, se faz compras na internet, o que compra, dentre muitas outras informações que nem fazemos ideia.
Esse assunto é tão importante que o uso de dados de menores de idade ganhou atenção especial na Lei Geral de Proteção de Dados, aprovada recentemente e que passará a valer a partir de Janeiro de 2020. Isso no Brasil, porque nos países da Comunidade Europeia e nos Estados Unidos, dados de crianças e adolescentes já são tratados com muita seriedade e respeito.
“Nós recentemente aprovamos uma lei para proteger os dados, com foco na proteção da criança, e esta é uma excelente oportunidade para que mães, pais, jovens e crianças conheçam e façam valer seus direitos”, diz Marina Pita, tia da Alice e do André e pesquisadora do Programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana.
A lei brasileira exige que a autorização de coleta e uso de dados de crianças (até 12 anos), deve ter o consentimento claro por parte dos pais e que as empresas devem usar todas as tecnologias disponíveis para se certificarem de que são os pais mesmo que estão autorizando o uso e coleta desses dados. E claro, no momento em que os pais não quiserem mais que os dados sejam utilizados eles devem ser apagados.
Ficam aqui 3 dicas importantes da Marina Pita para nós, mamães e papais, que ajudam a perceber se a empresa que oferece os aplicativos ou jogos que nossos filhos usam respeitam a proteção de dados:
1. Apesar de longos e um pouco complicados, leiam os Termos de Uso e Privacidade. Se não ficar claro como usarão os dados pense bem se vale confiar na segurança da empresa;
2. Se o aplicativo ou jogo permite que você use os serviços mesmo que você não queira dar e-mail, localização ou outros dados, é sinal de que a empresa respeita os seus direitos;
3. Faça sempre as atualizações de sistemas dos aplicativos e jogos. As empresas fazem esses ajustes para melhorar os serviços e produtos oferecidos mas também para proteger os dados dos usuários e os seus equipamentos.
E na dúvida, pesquise um pouco mais se existem alternativas de aplicativos, jogos e plataformas de vídeo que cuidem bem dos dados do seu filho. Felizmente há muitas opções em tecnologias que respeitam a privacidade e os direitos das crianças online.
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