Publicado em 22/05/2021, às 16h00 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Acordo empolgado, é dia de praia. Corro para a janela, verificar se a previsão do tempo estava correta. O sol das sete da manhã já queima o vidro da sacada. O mar está transparente, a areia branca. Algumas gaivotas pescam tranquilas, meia dúzia de pessoas caminha. Vamos acordar, grito para a casa. A praia está sensacional, pessoal.
Minha esposa e duas filhas respondem com resmungos, huummmmms e aaaaaahhhhhmmmmms preguiçosos. Vamos, vamos, vamos. Vamos, eu digo. Sei que tenho pressa. O sol das dez faz mal. Meio-dia a praia vai estar lotada. Manteiga, pão, café, faço pão com queijo e presunto e corto o mamão. Espalho pratos e garfos pela mesa. Elas vão ter apenas o trabalho de comer um sanduíche e um mamão, entornar um suco de laranja e partiu praia!
As meninas continuam dormindo, boca aberta, parecem mortas. Meninas! Vamos pra praia! Colocam o travesseiro na cabeça. Uma aliada! Preciso de uma aliada! Levo café para a esposa, ela faz careta, começa a acordar. É a primeira a demonstrar alguma intenção de sair da cama. Quinze para às oito. Abro uma fresta da janela do quarto das crianças. Experimento uma técnica de acordamento fofo, com beijinhos e abraços. A mais velha reluta, a mais nova sorri. Começo a separar os maiôs.
Vamos, pessoal. Só levantar, escovar os dentes. Os maiôs já estão aqui. A esposa toma café. Faz uma tapioca. A mais velha levanta e se tranca no único banheiro da casa. A mais nova quer escovar os dentes antes do café da manhã. Tem que ser antes? Escova depois, pequena, eu digo. Tem, papai. Vamos, Anita, sai do banheiro. Estou pronto, calção de banho, corpo ensopado de protetor solar. Uso uma blusa de proteção por cima, boné, óculos escuros. A mais velha está no banheiro, a mais nova bate na porta, a esposa come tapioca.
Pela janela, observo os carros chegando na praia. Eles vão estacionando nos canteiros, nos terrenos baldios, no meio da rua. A mais velha sai do banheiro, a mais nova entra, a esposa diz que quer ir ao banheiro também. Olha, filha, só colocar esse maiô, digo para a mais velha. Nove e quinze. Cadeiras, guarda-sol, prancha, canga e sacola estão alinhados na porta de casa. Quero levar uma bola, diz a mais nova. A esposa pede pra passar protetor nas costas. A mais velha está procurando os óculos. A mais nova colocou o maiô ao contrário.
Nove e meia. Estamos todos amontoados na porta do apartamento, aguardando apenas a pequena achar o balde com os brinquedos de praia. A esposa vai ajudá-la. Somos só eu e a mais velha, quase na saída de casa. A esposa demora a encontrar o balde. A mais velha liga a tv. Está passando “É de Casa”. Sentamos no sofá para assistir, enquanto as outras não estão prontas. O relógio marca meio-dia. Começo a fazer o almoço.
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Ficar fechado dentro de casa por quase um ano escancarou algo que eu nem imaginava: não é preguiça, não é má-vontade, cada ser humano tem seu próprio ritmo. Quando havia uma necessidade maior de sincronia era um tal de ‘vamo, vamo’ todo dia, o dia todo. A aula das crianças começava às 7h30 e não dava pra entrar depois. Quem chegasse meia hora atrasado no pilates ou no inglês não tinha compensação do que havia perdido (e ainda rolava uma bronca). Os aviões não esperavam gente que se enrolou pra sair de casa. Ficou de papo com o síndico na escada do prédio? Sinto muito!
O trabalho não esperava, o uber perdia a calma e o mundo nos apressava a ponto de vivermos com uma sensação de que não ia dar tempo. Aí veio esse tempo elástico. O almoço pode ser ao meio-dia, mas também pode ser às 14. É possível fazer uma reunião no carro, na sala e, se deixar a câmera desligada não for problema, embaixo das cobertas, no conforto da sua cama. Por essa, nem o sociólogo Zygmunt Bauman, que melhor explicou as relações líquidas da pós-modernidade, esperava. Morto em 2017, não viveu para ver que além do amor e do medo terem se tornado efêmeros e fluidos na contemporaneidade, assim virou o tempo.
É muito estranho explicar para as crianças, nascidas depois de 2010, que não era possível assistir a episódios seguidos de uma série, que a gente tinha que reservar aquele horário, estar em casa e ligar a tevê. Quantas pessoas corriam para não perder o último episódio de uma novela, na sexta-feira. Ainda que, excepcionalmente neste caso, houvesse reprise no dia seguinte!
Mudou tudo, não mudou? A nossa grande dificuldade agora é outra. E quando é preciso fazer algo agora, porque não fica gravado ou nem pode ser adiado pra outro momento? Como uma manhã no parque, ou na praia. Se você não sai na hora boa do sol, ou quando não tem aula ou trabalho, não existe uma tecla que a gente aperta e o tempo volta. E aí, minha amiga, como é difícil não impor a velha lógica do ‘vamo, vamo’.
Ficar em casa, em família, deixa bem claro que, se ninguém impuser horário, cada um tem fome, sono e disposição para fazer as tarefas ou até mesmo tomar banho, numa hora diferente. Porque somos diferentes, temos idades, hormônios e preocupações absolutamente distintas. Mas, pandemia não é barbárie. Não tá tudo liberado, de forma alguma. Viver em sociedade pressupõe sintonia. Assim, mesmo que o tempo lá fora esteja confuso, precisamos ajustar nossos ponteiros dentro de casa. De outra forma, nós, adultos, vamos ficar completamente sem corda, bateria ou wifi, que seja.
Moral: “Eita! Esse novo tempo exige mais paciência e firmeza dos pais. Se não, é pijama, Netflix e nada mais”
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