Publicado em 14/07/2020, às 09h08 - Atualizado em 25/03/2022, às 09h09 por Redação Pais&Filhos
Existe uma tradição de que você só pode contar que está esperando um bebê depois do terceiro mês de gravidez. Nem todo mundo segue à risca, mas o costume se faz totalmente compreensível: é nas 12 primeiras semanas de gestação que existem mais riscos de a mulher sofrer um aborto espontâneo. Guardar esse segredo é um jeito de se poupar de maiores frustrações.
A chegada de um filho gera várias expectativas e ver os planos irem embora antes da hora pode ser muito difícil e traumatizante. Ninguém deseja e nem espera por isso, mas pode acontecer. Infelizmente, essa é uma situação mais comum do que parece. A estimativa é de que pelo menos 15% das gestações não “vinguem”.
A boa notícia é que, na maioria dos casos, o aborto espontâneo não está relacionado a problemas de fertilidade. Muito pelo contrário. Há uma luz no fim do túnel: pesquisas apontam que 80% das mulheres que têm a gestação interrompida conseguem engravidar de novo e realizar o sonho de ser mãe.
A seguir, esclarecemos as principais dúvidas sobre o assunto e contamos como você pode ajudar alguém que esteja passando por esse momento tão delicado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), podemos considerar como aborto toda gestação que é interrompida antes da 22ª semana ou antes de o feto atingir 500g. Dizemos que o aborto é espontâneo quando ele acontece de forma involuntária. Ou seja, a gravidez é interrompida naturalmente, pelo próprio organismo da mulher. A maioria dos abortos espontâneos acontece nos primeiros três meses de gravidez.
Nem sempre dá para descobrir o que causa um aborto espontâneo, principalmente quando ele acontece bem no comecinho da gestação. Pode ser que, mesmo fazendo todas as investigações, o casal nunca descubra o que realmente levou à interrupção precoce da sua gravidez. Isso acontece porque quase sempre ela é causada por fatores que estão fora do controle dos pais.
Estima-se que pelo menos 50% dos casos de aborto espontâneo estejam relacionados a algum tipo de problema genético. Quando algo na formação do bebê não vai bem, o próprio organismo impede que a gestação siga adiante.
Outros casos normalmente têm a ver com alguma questão de saúde dos pais. Tabagismo, obesidade, diabetes, doenças autoimunes, problemas hormonais, alterações no funcionamento do útero ou da tireoide podem ser alguns fatores de risco. A idade avançada (tanto do homem quanto da mulher) também pode ser um empecilho.
Os sinais mais comuns são sangramentos vaginais e dores no abdômen. Se estiver grávida e apresentar alguns desses sintomas, a recomendação é procurar um médico imediatamente para fazer uma avaliação.
O melhor jeito de tentar evitar um aborto espontâneo é planejar a gravidez. Quando a mulher se prepara para ser mãe, ela consegue se organizar para manter a saúde e os exames em dia. Com isso, é mais provável que o organismo vai estar preparado e em equilíbrio para receber o bebê. Além de cuidar de si, é recomendado fazer atividade física regular (sempre respeitando a recomendação do seu obstetra) e deixar de lado hábitos nocivos à saúde, como o álcool e o cigarro.
Se não tiver tempo de planejar a gestação, converse com o seu ginecologista e siga à risca as recomendações do pré-natal. Com acompanhamento, dá para detectar possíveis problemas de saúde e pensar na melhor maneira de deixar você o bebê protegidos. “Fazer corretamente o pré-natal, tomar ácido fólico e antioxidantes e realizar os exames pré-conceptivos são algumas medidas”, diz Márcio Coslovsky, ginecologista e especialista em reprodução humana, diretor médico da Primordia Medicina Reprodutiva e pai de Beatriz.
Mas nunca é demais lembrar: levar uma rotina saudável e estar com os exames em ordem diminui os riscos, mas, ainda assim, não é garantia de que você não vai passar por um aborto espontâneo.
O aborto espontâneo pode acontecer com qualquer mulher. Há estudos que mostram que cerca de 15% das gestações não “vingam”, mesmo quando o casal é completamente saudável. Se acontecer com você, calma: não há motivo para desespero. Essa é uma situação mais comum do que parece e, em boa parte dos casos, não está relacionada a problemas de fertilidade.
Vale acender o sinal de alerta só se você tiver 3 ou mais abortos seguidos – o que os médicos chamam de aborto de repetição ou de aborto espontâneo recorrente. Aí sim é hora uma investigação mais detalhada para entender o que pode estar acontecendo e descobrir qual é o melhor jeito de contornar a situação.
Na maioria dos casos, o aborto espontâneo não impede uma gravidez no futuro. Alguns estudos mostram que até 80% das mulheres que já sofreram um aborto conseguem engravidar de novo e ter um bebê.
Normalmente, demora só alguns dias até que o organismo se recupere do aborto e volte ao que era antes. “Em aproximadamente quatro a seis semanas, a mulher estará em boas condições clínicas novamente”, explica Alberto Guimarães, ginecologista e obstetra na Clínica Parto Sem Medo, pai de Beatriz e João Victor.
Se o aborto aconteceu antes da 12ª semana de gravidez e não foi preciso fazer curetagem, você pode tentar engravidar já no próximo ciclo menstrual. Já em casos de aborto depois da 12ª semana, a recomendação é procurar um médico e fazer uma avaliação antes de retomar as tentativas. “Convém esperar de dois a três meses para que o útero volte ao seu tamanho normal”, finaliza o especialista.
Perder um bebê é uma situação delicada. Muitas mulheres ficam emocionalmente abaladas e se sentem fragilizadas depois de sofrer um aborto espontâneo. Algumas pesquisas apontam que cerca de 20% começam a apresentar sinais de depressão e ansiedade depois de passar por essa experiência.
Nem sempre é fácil encontrar as palavras certas para confortar alguém nessa situação. Às vezes, até mesmo os comentários feitos com as melhores das intenções podem parecer insensíveis. Pensando nisso, a Miscarriage Association, organização britânica que acolhe mães que tiveram a gravidez interrompida, fez um manual para orientar amigos e familiares sobre o que fazer e o que falar para uma mulher que sofreu um aborto espontâneo.
Reconhecer o que aconteceu e perguntar se ela precisa de ajuda é o primeiro passo. O mais importante é mostrar que você está por perto e disponível para conversar, se ela quiser. Evite ao máximo frases como “você é jovem, logo vai ter outro bebê” ou “não era para ser”. Esse tipo de comentário mais atrapalha do que ajuda. Lembre-se sempre: tudo o que você precisa fazer é oferecer suporte e acolhimento.
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