Publicado em 13/05/2022, às 07h58 - Atualizado em 16/05/2022, às 09h06 por Cecilia Malavolta, filha de Iêda e Afonso
A fila fazendo voltas por entre os estandes da Bett Brasil prova que Viviane Mosé é tudo isso o que falam, sim. Filósofa, psicanalista e poeta, ela esteve presente durante o segundo dia do maior evento de educação e tecnologia da America Latina para dar a palestra “O desafio contemporâneo de um ser humano mais amplo”, um convite para pais e professores virarem a chavinha quando o assunto é a maneira como enxergamos e educamos nossas crianças.
Embora pareça complexo compreender o significado do tema da palestra em um primeiro momento, Viviane tece a explicação de maneira simples. Para que sejamos seres humanos amplos, precisamos pensar em quem forma a base da população: as crianças. São elas que, no futuro, serão os adultos que podem e devem lutar para que o mundo mude – não para um lugar bonzinho, uma vez que a dualidade bem-e-mal não existe e nada é só preto no branco, mas para um lugar melhor: mais acolhedor, com pessoas corajosas e fortes, alegres e que lutem pelo que realmente importa.
Não dá para falar sobre criar um ser humano mais amplo sem falar de família. Em uma conversa exclusiva com a Pais&Filhos, Viviane Mosé contou os caminhos para tornar essa realidade mais próxima do que vivemos hoje e como a coragem é o ingrediente principal para tornar realidade uma existência em que haja leveza e força simultaneamente.
VIVIANE MOSÉ: Ao mesmo tempo em que nasce um filho, nasce uma mãe. Ser mãe é um desafio muito grande. Por quê? Porque, como o mundo vive se transformou necessariamente o tempo inteiro, ser mãe é sempre estar compreendendo esse fluxo de transformação para poder educar o seu filho. Mas a gente não tem como acompanhar. É como você ter que abastecer um avião enquanto voa. Tem de trocar um pneu de um carro enquanto está andando. Então, os pais têm desafios imensos, eternos. Por isso que o conflito de gerações é uma realidade. Por mais que a gente, como mãe, queira estar perto dos desafios, a gente não consegue. Os filhos necessariamente tiram o lugar dos pais. Essa é a função deles: desautorizar os pais. Assim caminha a humanidade.
VM: A questão é que nós, como pais, não estamos preparados para lidar com essa transformação que os filhos nos causam. Entende? Os professores da mesma maneira. Se tivéssemos uma sociedade saudável, nós estaríamos aprendendo com as crianças e não ensinando as crianças. Agora, existem algumas questões que só os pais sabem. Isso diz respeito à existência. Então, quando a gente fala de finitude, quando a gente está falando de sofrimento, de angústia, de questões existenciais. Esse sim é o papel propriamente dos pais, porque são questões que não se transformam. Elas são eternas. Os conflitos do tempo são uma coisa, mas o conflito existencial é o outro.
Como os pais vão lidar com os filhos em relação à questão existencial? Se os pais amadurecem e se tornam adultos, eles vão conseguir trabalhar com seus filhos essas questões existenciais sobre finitude e sobre morte. Mas nossa civilização não nos amadurece. A gente está sempre frágil para ter que contratar um profissional, um psicólogo, um educador, um terapeuta. Isso é uma questão da educação. Ou a gente forma pessoas fortes, autônomas e corajosas para viver, ou a gente não tem sobrevivência da espécie. É um momento de um desafio muito grande para a humanidade. Quem está se transformando não é a tecnologia, é o humano. Isso é um conflito imenso e muito difícil para os pais.
VM: A gente vira essa chave quando ganha uma coisa chamada modéstia, que nós não temos. A gente adora adotar modelos e aplicá-los. Você cria um padrão e aplica aos seus filhos, mas fazer isso é caminhar para trás. Tudo o que eu quero é que o meu filho transforme. Ninguém vive sem padrão, não tem como. São modelos que a gente vai construindo, mas os modelos mais nos restringem do que nos ampliam. Só que a gente, para viver em sociedade, tem que se restringir. Temos 7 bilhões e meio de pessoas. Então, para que servem modelos? Para nos restringir, para a gente caber na sociedade.
Mas ninguém vive para se restringir. A gente vive para expandir. O desafio é entender que os filhos, os jovens e as crianças existem para transformar os padrões. Esse é o papel deles. Se a gente construísse essa visão seria diferente, mas não. Querer aplicar nos meus filhos o mesmo padrão que minha mãe aplicou a mim não é possível. Era possível há 20, 30 anos atrás. Hoje não é mais. Então a gente vai ter que inverter.
VM: Extremamente. Ser mãe e pai é um desafio realmente assustador, eu diria. As pessoas têm um filho porque acham bonito. Mas a gente vive um momento de crise, de depressão, de suicídio, de automutilação. E isso diz muito respeito à ausência dos pais em relação aos filhos. Não há a presença. Os pais, enquanto estão com os filhos, estão virtualizados, vivendo rede social. Estão se preocupando em produzir para os filhos roupa, sapato, casa. Mas, enquanto o pai está querendo dar à criança a melhor cama para dormir, ela só queria que o pai e a mãe estivessem em casa. Quer educar os seus filhos? Dê a eles presença.
VM: E o que mais importa chama presença. Estar junto. Tomando café, caminhando, fazendo qualquer coisa. Não é estar junto do lado, olhando, vigiando, porque parece que está monitorando o filho. Não é monitorando, é estar convivendo, dividindo a vida, e não estar ou fora de casa, ou quando está em casa estar no celular. Ser pai e mãe sempre é um desafio. Na verdade, viver é um desafio, e nem todo mundo sabe disso.
VM: Isso é uma educação que quer fazer com que a pessoa que está sendo educada tenha acesso ao que a civilização está produzindo. Há 30 anos atrás fazia sentido porque a gente tinha uma civilização. Hoje nós não temos. Nós temos um processo de exaustão e de queda. Não dá para você se adaptar ao mundo. Os pais querem que os filhos se enquadrem no mundo. Não é isso que a gente pode fazer hoje. A gente precisa de filhos que transformem o mundo. Quando você está agindo, transformando alguma coisa, você tem potência de viver, você se sente mudando e isso te tira da depressão e dessa crise de saúde mental que a gente vive.
VM: É preciso que as pessoas tenham ação para elas viverem bem. Você quer ter um filho que está bem? Seu filho tem que estar agindo no mundo. É exatamente o contrário que a gente está fazendo, que a gente quer adaptar. Pegamos uma pessoa nova, uma criança que está explodindo de vida, e abarcamos essa criança de fora para dentro com o modelo. Todo pai faz isso, eu faço isso sem querer. Todos fazemos isso. Então a gente tem que entender que não é esse o papel, especialmente com essa crise de saúde mental entre crianças e adolescentes.
VM: Muda muita coisa. A razão da vida chama-se afeto. Eu não penso, logo existo. Isso é um erro crasso, terrível. Eu existo, logo penso. Eu sinto, logo penso. Eu percebo, logo penso. Mas, quando pensamos antes de existir, quer dizer, a gente se enquadra antes de existir. Isso é um pensamento cartesiano. O cartesianismo criou as coordenadas entre o bem e o mal, certo e errado. É um pensamento castrador. Então a gente tem que ter consciência de que primeiro você sente e existe. É isso que a educação tem que ver.
VM: Você não tem que explicar para o seu filho o que é a vida. Vocês juntos tem que pensar o que é vida, e ninguém sabe a resposta. Nem o padre, nem o filósofo, nem professor. Então, como é que você faz com seu filho se você não sabe? Compartilhem essa dúvida e essa busca juntos. Professor e alunos. Pais e filho. Estamos juntos numa experiência inédita que se chama vida, que não conhecemos. Ela é frágil, a qualquer hora ela pode acabar. Então a gente tem que criar os filhos levando eles junto com essa fragilidade que a gente tem como adulto e não tentando proteger as crianças disso.
VM: Muito, porque a gente vive de culpa. Todo mundo vive de culpa. O humano é um ser doente de si mesmo. Nada te faz mais mal do que você mesmo. E por que a gente se faz tanto mal? Porque nós temos internalizados os modelos e ninguém está enquadrado neles. A gente tenta o tempo inteiro estar neste lugar. Como ninguém está, acaba que somos seres que eternamente se automutilam porque não conseguimos atingir isso. E não existe ninguém que sofra mais que mãe. Não é pai. É a mãe. Ela é colocada nesse lugar o tempo inteiro
VM: Tem que ensinar as crianças a lidar com o sofrimento. E como lida? Dançando, cantando, brincando, abraçando, beijando. Se durante o sofrimento do teu filho, você estiver com ele no colo, ele vai estar feliz. Ele está sofrendo, mas você está lá com ele.
VM: Família que não é casa e que quer apenas ser o ponto onde você se enquadre ou se encaixe na sociedade. Se o que importa é que meu filho me deu orgulho e para ele me dar orgulho, ele tem que ser bem sucedido oficialmente, isso não é família.
VM: Sim. Família é tudo porque a família se parece com a casa, e a casa é um lugar onde você pode ser quem você é. É o lugar que você constrói. Às vezes um quarto sala mínimo, mas é imenso porque quando você chega em casa e fecha a sua porta, você pode estar pelado, falando alto, pensar, pode existe do jeito que você quiser. A família corresponde a essa imagem da casa, a família é o lugar onde você pode existir na sua diferença. Então, família é tudo. Sem dúvida nenhuma. É o lugar que te acolhe, que te respeita. É o lugar onde a gente exerce esse amor.
A família é aquela que acolhe os seus membros, sejam eles quem forem, em suas diferenças individuais. Então sim, a família é tudo, e a gente deveria realmente trazer esse valor de volta sempre. Mas a família não é o acúmulo de pessoas, um aglomerado de gente. É preciso que a gente resgate uma coisa chamada amor. A gente nasceu para isso. A gente nasceu para amar e ser amado, não tem nada além disso. Pense bem: o que tem no mundo, além de amar e ser amado? O que se chama felicidade é o que? É estar apaixonado. É estar amando, amando os filhos. Então a vida existe para o amor. Isso é a coisa mais real que tem no mundo. Se a família não sabe isso, ela não sabe nada. Se família é amor, família é tudo, porque o amor é tudo.
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