Publicado em 29/01/2021, às 09h09 - Atualizado em 01/02/2021, às 12h42 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Nesta sexta-feira, 29 de janeiro, a Johnson & Johnson apresentou os dados de eficácia para a vacina de dose única contra o novo coronavírus. No estudo global de fase 3, os testes provaram 66% na prevenção de doenças moderadas e graves e mais 85% de eficácia contra doenças graves. Já para as pesquisas realizadas apenas nos Estados Unidos, a vacina apresentou uma eficácia de 72% contra doenças moderadas e graves, de acordo com a empresa.
Para dar uma visão sobre os números, o Dr. Gerson Salvador, médico especialista em infectologia e saúde pública da Universidade de São Paulo (USP), pai de Laura, Lucas e Luís, explica que para chegar no 66% de desfecho combinado, é somado a incidência de casos de Covid-19 moderados ou graves, “pois ela será menor em casos moderados, como alega a empresa”. Os 85% de eficácia abrangem a taxa global para a prevenção dos casos mais graves da doença no mundo.
Em um comunicado, a empresa escreveu: “Entre todos os participantes de diferentes geografias e incluindo aqueles infectados com uma variante viral emergente, a vacina candidata contra Covid-19 da Janssen foi 66% eficaz em geral na prevenção dos desfechos combinados moderado e grave, 28 dias após a vacinação. O início da proteção foi observada já no 14º dia”. A Janssen é o braço de vacinas da Johnson & Johnson. “O nível de proteção contra a infecção moderada e grave por Covid-19 foi de 72% nos Estados Unidos, 66% na América Latina e 57% na África do Sul, 28 dias após a vacinação”.
Sobre os testes, a empresa disse ainda que os resultados foram observados em todas as faixas etárias e pessoas de várias etnias. No momento, Mathai Mammen, chefe global de pesquisa e desenvolvimento da Johnson & Johnson disse em entrevista à CNN que está tentando o uso emergencial da vacina da FDA (órgão equivalente à Anvisa) “dentro de uma semana”.
“Uma vacina que é barata, é uma dose única e não tem requisitos de cadeia de frio – isso é muito bom”. Até o momento, dentre os 44 mil voluntários, nenhuma reação alérgica grave foi observada, segundo as informações divulgadas pela empresa.
Para desmistificar essa questão, conversamos com o Médico infectologista, Gerente de Qualidade do Hospital infantil Sabará e membro da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), Francisco Ivanildo de Oliveira Jr., pai de Beatriz. Ele explicou que é preciso avaliar outras questões além da taxa de eficácia.
“É óbvio que quanto maior a eficácia da vacina, mais gente vai ficar protegida e em tese eu preciso vacinar menos pessoas para ter a minha população protegida. Eu nunca vou conseguir ter 100% de cobertura vacinal, porque algumas vão se recusar, outras não podem tomar a vacinaporque tem algum tipo de contraindicação médica, como alergia ou alguma doença que impede que essa pessoa tome. Então, a gente sempre vai procurar uma vacina que tenha o máximo de eficácia”, explica.
Como exemplo, o especialista fez uma comparação entre as vacinas da Pfizer e a da CoronaVac: “Teoricamente, a vacina da Pfizer é melhor que a CoronaVac, mas por outro lado, a gente tem que levar em consideração uma série de fatores que são importantes e que precisam ser considerados principalmente em países, de média e baixa renda como é o caso do Brasil. Então, o preço de cada dose da CoronaVacé muito inferior, assim como da vacina de Oxford, do que o preço da vacina da Pfizer e a da Moderna. Então com o mesmo valor eu consigo vacinar um número muito maior de pessoas. Além disso, algo que é muito importante também é quais são os cuidados, logística e estrutura que eu preciso ter para garantir a conservação dessa vacina em temperatura adequada”.
Sobre a conservação das vacinas, o infectologista falou sobre as temperaturas determinadas. “A vacina da Pfizer precisa ser mantida em uma temperatura de -70 graus, na vacina da Moderna são -20 graus. Essas outras vacinas, que tem uma eficácia menor, como é o caso da CoronaVac e da de Oxford, elas podem ser conservadas em temperaturas de 2 a 8 graus, já utilizada habitualmente na maioria das vacinas. É muito mais fácil, principalmente em um país com dimensões continentais com o Brasil, em que a gente vai ter que levar a vacina para os sertões, matas, entre outros, garantindo que essa vacina seja mantida na temperatura adequada para que ela não perca as suas propriedades”.
Outro ponto levantado pelo especialista é o perfil de segurança, levando em conta os efeitos colaterais. “Mesmo se a vacina não tiver uma eficácia tão alta, mas apresentar um bom perfil de segurança, poucos efeitos colaterais e é bem tolerada, ela mesmo assim continua sendo uma vacina útil. Tudo é uma de possibilidade e acessibilidade à vacina. São vacinas que atingem o mínimo estipulados pelas agências reguladoras da Organização Mundial da Saúde para ser considerada como útil, que seria a eficácia de 50%. Então, elas são úteis sim e vão nos ajudar a médio prazo a superar essa situação da pandemia”, conclui.
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