Publicado em 20/03/2019, às 18h09 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h36 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
Exatamente uma semana após o ataque em Suzano, que gerou comoção e medo entre os brasileiros, o sentimento que fica é o de impotência e, acima de tudo, preocupação: Como evitar que mais casos como esse aconteçam? O que podemos fazer para proteger nossos filhos?
Segundo especialistas, não existe apenas uma explicação que justifique o fato de dois jovens, um de 17 anos e outro de 25, entrarem mascarados em uma escola e atirarem contra alunos, professores e funcionários. E, infelizmente, também não existe uma fórmula pronta ou resposta para as duas perguntas feitas acima. Em tempos difíceis e de pânico, é comum procurarmos ansiosamente pelos motivos, razões ou causas de um massacre como esse. Mas é imprudente reduzir a motivação dos jovens ao bullying, vingança ou supostos transtornos psicológicos.
Estamos diante da geração mais insegura e triste de todos os tempos, segundo um estudo feito pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Por isso, precisamos analisar como um todo o ambiente em que estamos criando nossas crianças e adolescentes. E nesta época de tantas incertezas, aflições, mudanças e intolerâncias, a Pais&Filhos acredita que só existe um caminho: estar junto, em todos os sentidos.
É preciso enxergar as necessidades do seu filho, entender o que ele pensa, escutá-lo, se interessar pelos interesses dele. Enfim, estar presente. E formar uma verdadeira rede de apoio, com irmãos, avós, tios, sobrinhos, primos, amigos e professores.
A força dessa rede, com todo mundo junto, é gigantesca. Tome como exemplo as ações de acolhimento que se estenderam até hoje, depois do ataque em Suzano. Alunos de outras escolas e cidades se juntaram para prestar homenagens às vítimas, levando cartazes com mensagens de apoio, cantando e distribuindo flores ou abraços. A linda cerimônia ecumênica que ocorreu nesta manhã reuniu representantes de pelo menos cinco religiões — todos juntos, com uma mesma missão e sentimento.
Juntos é possível, sim
Criar filhos é, sem dúvida, a tarefa mais difícil da vida. A família atual mudou muito de configuração e uma nova sociedade foi criada. Mas em meio aos novos papéis, uma coisa nunca muda: seu filho continua precisando do convívio com você, seja pai, mãe ou responsável.
Mas a importância desse convívio não está na quantidade de tempo dedicado ao filho, mas sim na qualidade. Os responsáveis devem ser capazes de enxergar nos filhos as suas reais necessidades, e não encher a criança de mimos ou presentes para suprir qualquer tipo de culpa existente. “Os pais são a primeira referência das crianças. Sem eles, o filho cresce tentando se adaptar ao mundo sem essas referências. Os pais são o apoio, que ensinam a importância do limite para as crianças”, explica Renata Bento, psicóloga e psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, mãe de João Pedro e Eduardo Luiz.
“Se a criança não tem os pais como exemplo, ela vai procurar outros modelos identificatórios fora de casa. Quando ela passa por alguma crise, se ela não puder contar com os pais, ela vai procurar algo por fora. O papel dos pais como formadores não pode ser diminuído. As crianças sabem reconhecer quando o trabalho tem um valor de sustentar a família e quando o trabalho é a desculpa para dispensar a família, por exemplo”, reforça Vera Iaconelli, psicanalista e doutora em psicologia, mãe de Gabriela e Mariana.
O que faz mesmo a diferença na rotina é o tipo de relacionamento entre pais e filhos. A criança precisa se sentir amada e assistida, perceber a importância que ela tem para os pais. Aquela conversa clássica, mas que precisa ser resgatada e mantida, — Como foi o seu dia? O que fez na escola? Como estão seus amigos? — faz a criança perceber que é muito importante para os pais e que eles estão preocupados com o seu dia a dia independentemente da quantidade de horas que estão juntos.
No mundo deles
A culpa que você sente pela falta de tempo para estar com seu filho criança é o que pode estragar tudo. Os pais acabam sendo permissivos demais, não estabelecem limites para compensar a sua ausência e as crianças crescem sem parâmetros de certo e errado. “Antigamente, o papel da mãe e do pai era mais claro, talvez isso pudesse aparentemente despertar menos insegurança, porque já havia um modelo predefinido do que era ter e constituir uma família; hoje com as mudanças não temos um papel definido”, afirma Renata.
Monica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista de crianças e adolescentes, mãe de Melissa, defende que a família precisa, sim, ser continuamente reinventada e aprender a lidar com os conflitos de geração. “Nas últimas décadas, as novas gerações divergem muito das anteriores quanto às metas perseguidas, aos valores respeitados e aos critérios para discernir o que vale a pena do que pode ser descartado”, reflete. E é a partir dessa divergência que nasce a dificuldade de diálogo entre pais e filhos.
Mas saiba que as crianças adoram conversar, desde que o papo seja sobre assuntos que elas gostem. “É preciso participar do mundo deles. Você pode trazer questões que a criança goste, como um personagem, um jogo ou um livro que ela tenha gostado de ler e começar a entender quais são os interesses do seu filho. A criança tem ideias e fantasias, então se os pais conseguem acessá-la nesse assunto, isso pode ampliar a autoestima dela, além de saber sobre a relação do filho com os amigos”, explica Renata.
Superproteção x liberdade
Você precisa acreditar na educação que deu ao seu filho. “Os pais precisam cuidar, educar, dar autonomia e limite. Tudo isso é proteger. Ao mesmo tempo que essas crianças vão viver dentro de casa, elas também vão viver no mundo. Se os pais forem pessoas mais “abertas” (e ser aberto não significa ser permissivo), e entenderem o que a criança está querendo dizer, isso facilita muito, porque as crianças tendem a esconder as coisas. Elas vão passar pelas mesmas coisas, mas as experiências não vão ser iguais, porque cada um vive de um jeito e em uma família diferente”, aconselha Roberta.
A linha que separa a autonomia e o limite é tênue. “A geração de hoje é uma das mais inteligentes, mas também uma das mais frágeis”, defende Mônica. Por isso, um bom caminho é ser aberto ao diálogo, oferecer apoio e carinho, mas deixar que seu filho tenha contato com erros e frustrações. “Se a criança crescer sendo feliz o tempo todo, o primeiro ‘não’ recebido vai deixá-la mal, seja na escola, no vestibular ou no namoro. O papel dos pais não é formar um filho feliz, mas sim preparado para as alegrias e também para as perdas e angústias”, explica Camila Cury, psicóloga e especialista na Teoria da Inteligência Multifocal, filha de Augusto Cury e mãe de Alice e Augusto.
“A geração atual é cada vez mais imediatista. Não estão desenvolvendo paciência, nem persistência e querem resultados rápidos e altos, sem terem desenvolvido competências técnicas. Isso gera frustração, e as crianças não sabem ou não aprenderam a lidar com esse tipo de emoção”, explica Celso Lopes de Souza, psiquiatra especialista em educação.
“Temos que pensar no objetivo dos pais. Qual é o papel deles? Às vezes, eles esquecem que daqui um tempo não estarão mais aqui, mas os filhos estarão. Se os pais acham que vão estar aqui até o final, então eles não entenderam o que é educar. Educar é preparar os filhos para viverem sem os pais e para uma autonomia” defende Vera.
Por isso, você não deve passar a mão na cabeça do seu filho, mas sim permitir que ele sinta as frustrações e, mais tarde, acolhê-lo e demonstrar empatia com o problema ou a dificuldade. “Involuntariamente, os pais expressam seu amor pelo filho cercando-os de estruturas de apoio e mecanismos que enviam uma mensagem que pode minar a resiliência e a autoconfiança de seu filho. O presente mais importante que alguém pode dar a qualquer criança é a crença de que ela pode administrar suas próprias emoções”, defende o educador Nigel Winnard, mestre em administração educacional pela Universidade de Michigan, doutor em educação pela University of South California e diretor da Escola Americana no Rio de Janeiro.
Culpa, não
Por mais que você seja responsável pela criação do seu filho e deseje que ele se desenvolva da melhor forma, não deixe que a culpa tome conta do seu dia a dia. “Os pais precisam aprender a diminuir expectativa de que o filho vai ser bom, inteligente, saudável. A cultura do Instagram deixou essa impressão de que precisamos ser felizes. A culpa na nova geração é muito grande. Ser pai não é ter um filho sempre feliz, é estar com ele quando ele não está feliz. Se olharmos de uma forma diferente para a paternidade ou maternidade, ela se torna mais prazerosa”, explica Camila.
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