Publicado em 06/10/2020, às 11h24 - Atualizado às 12h07 por Yulia Serra, Editora | Filha de Suzimar e Leopoldo
“Desde a adolescência, achava lindo ver uma mulher grávida e começava a idealizar a minha vida familiar. Por isso, quando ouvi do médico que não poderia ter filhos, foi uma bomba”. É assim que Regiane Ferreira de Souza introduz a própria história com a maternidade. Autônoma, ela conta que ficou descrente no início. Os profissionais afirmavam que caso ela engravidasse, daria à luz bebês com deficiências. Foi então que aos 18 anos engravidou da primeira filha. Assim como os especialistas haviam previsto, ela nasceu com uma malformação no cérebro e medula, e morreu antes de atingir os 9 meses de vida.
Com essa perda, Regiane acreditou ainda mais nas palavras dos médicos e, portanto, ficou bastante apreensiva quando descobriu a gravidez da segunda filha, um ano depois. “Jamyle veio perfeita”, afirma. Mas quando a menina atingiu um ano de idade, a mãe passou por mais um desafio. O marido faleceu após sofrer um acidente de carro. “Foi bem difícil não ter um companheiro do lado, mas tentei continuar a vida fazendo as minhas coisas, até para não ficar depressiva”, completa.
Três anos se passaram até ela conhecer o Rubens, seu atual marido. Com ele, ela engravidou mais duas vezes e nasceram Murilo e, na sequência, Melissa. A caçula foi diagnosticada com Síndrome de Down ainda durante a gestação. “Todas as minhas gestações foram de risco, por isso o medo sempre esteve comigo e fazíamos um acompanhamento mais próximo”, conta. Foi durante o ultrassom morfológico que ela descobriu. A mãe conta que foi um momento de pânico por conta do histórico e por ter um bebê de 1 ano em casa, mas na volta do hospital para a casa, ela passou por uma experiência, nas palavras dela, “mágica”.
“Estávamos no ônibus, já que havíamos perdido o carro. Voltei praticamente sem respirar, já que o médico disse que havia o risco de abortar. Em uma das paradas, entraram várias crianças e adolescentes com Down. Naquele momento pensei: ‘Nossa, minha filha vai ser assim’. Ainda não tinha o diagnóstico, mas foi Deus mostrando para a gente que ela não seria uma criança que iria depender para sempre de nós”, fala emocionada. Assim, a confirmação dessa condição foi encarada bem: “Ela nasceu normal, só com um cromossomo a mais”.
A alta do hospital foi outra situação marcante para a mãe. Ela lembra que logo que a bebê nasceu, já a levaram embora. Mesmo após receber a alta, ninguém vinha falar com Regiane. Apreensiva e querendo uma explicação, ela questionava os médicos. Foi então que descobriu que a demora se tratava pelo fato da condição genética. Os especialistas não sabiam que a mãe já tinha o diagnóstico. “Quando eu perguntei: ‘É por que ela tem Down?’ ficaram surpresos e aliviados pela minha reação”, recorda.
Infelizmente, o preconceito ainda é uma realidade para a família. Em uma ocasião quando Melissa era bebê, a mãe se sentou com a bebê no colo em um ponto de ônibus. Uma senhora que estava do lado então falou: “Deixa eu levantar daqui, senão isso pega”. Mas Regiane diz que tem a língua afiada e não aceita esse tipo de comentário, sempre faz questão de responder para que a pessoa possa refletir. O filho dela também já sofreu racismo, por conta do cabelo black, mas ela fez questão de exaltar essa característica dentro de casa e educa os filhos para respeitarem as diferenças.
Durante a pandemia, o casal também precisou se reinventar. Ela, que sempre trabalhou com personalizados e marmitex nos finais de semana como renda extra, reforçou esse último trabalho, fazendo entregas no condomínio. Assim, começou a trabalhar com a Favo, uma startup latino-americana que possibilita que comece um negócio sem nenhum investimento financeiro. Apesar de todas as dificuldades da quarentena e até receio por fazer parte do grupo de risco assim como Melissa, Regiane diz: “Tudo se intensificou. Nós ficamos mais próximos”.
Com os filhos crescidos, ela assume que tem receio pelo futuro: “Medo de não estar presente para poder não só defender, mas tentar fazer com que minha filha não perceba que está sofrendo preconceito”. Para ela, família é tudo e foi justamente por eles que, hoje, tem a própria loja e faz as comidas para vender. “Meus filhos são a minha vida. Eles são meu combustível em cada sorriso e palavra”, finaliza.
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