Família

Maternidade e liderança: Amanda Gomes comanda empresa que empodera mães no mercado de trabalho

Amanda Gomes e a sócia, Letícia Nascimento - Reprodução Instituto Geração Soul
Reprodução Instituto Geração Soul

Publicado em 14/05/2021, às 15h32 por Yulia Serra, Filha de Suzimar e Leopoldo


Conciliar maternidade e carreira executiva não é uma missão impossível – pelo contrário. Amanda Gomes, mãe de Yasmin, CEO do Instituto Geração Soul, mostrou que essas duas funções podem andar de mãos dadas e se fortalecerem mutuamente. Falando nisso, empoderar é o que ela faz de melhor: junto da sócia e namorada, Letícia Nascimento, Amanda lidera um projeto que incentiva mulheres de todo o país (e do mundo) a chegarem na liderança de empresas que ajuda mulheres e é cofundadora da primeira escola de liderança feminina no Brasil.

Amanda Gomes e a sócia, Letícia Nascimento (Foto: Reprodução Instituto Geração Soul)

PAIS&FILHOS: Você sempre teve vontade de ser mãe?

Amanda Gomes: A minha vontade de ser mãe apareceu por volta dos 30 anos de idade, mas não sei dizer se era uma vontade muito forte de ser mãe ou se era uma cobrança da sociedade em relação a eu ser uma mulher na época casada e sem filhos. Eu sempre pensei no prazer que seria ter alguém que fosse fruto de mim e na responsabilidade de ajudar alguém a evoluir e se educar. Mas sempre priorizei o trabalho mais do que a vida pessoal.

P&F: Você cogitou ser mãe antes de se sentir pronta para isso?

AG: Aos 30, eu ocupava uma posição gerencial sênior mas estava um pouco frustrada. Ali me questionei se deveria mudar de empresa ou investir na maternidade. Busquei ajuda de uma terapeuta e ela me disse para não projetar na maternidade a frustração de uma carreira, seja em qual contexto for. Ali ficou claro pra mim que a gente não pode projetar coisas no filho e compensar frustrações em outros papéis da vida na maternidade. Decidi investir mais uma vez na carreira.

P&F: Isso te trouxe alguma insegurança?

AG: A vontade de ser mãe era uma questão. Poxa, agora que eu assumi uma nova função, como que eu vou ser mãe? Na minha cabeça era algo muito desafiador. Naquela época era como se as duas coisas não combinassem e eu tivesse que abdicar de algo porque era esperado de mim como mulher.

P&F: E como a maternidade aconteceu?

AG: Eu tive um bom desempenho como superintendente nessa fintech que eu trabalhava e fui promovida a diretora comercial em cinco meses. Pensei em começar a tentar engravidar e achei que demoraria uns dois anos. Mas foi tão breve, engravidei no mesmo período da promoção!

P&F: Como você se sentiu com tanta informação ao mesmo tempo?

AG: Tive dois dias de caos, pânico e Síndrome de Impostora. Graças a ajuda da terapia, percebi que gravidez não é doença e que eu poderia ser mãe e executiva. E foi assim: viajei o Brasil inteiro grávida, performei como executiva e vivi a maternidade.

P&F: Depois disso deu tudo certo!

AG: Eu me dediquei ali cinco meses da licença maternidade, não contratei babá nesse período e vivi intensamente todo o processo. Fiz isso porque durante o processo de amadurecimento da minha gestação, entendi que a carreira e a maternidade eram duas coisas valiosas pra mim.

P&F: De onde veio a vontade de criar um negócio?

AG: Quando tinha 17 anos, estudava secretariado em um colégio técnico e tive que montar uma empresa fictícia para um projeto aplicativo de formatura. Nos anos anteriores, os trabalhos de formatura tinham sido muito aquém da capacidade das mulheres e muito estereotipados. Quando percebi, fiquei extremamente incomodada. Assumi a presidência do projeto e consegui convencer a escola a patrociná-lo e torná-lo vencedor daquele ano. Foi ali que a minha veia empreendedora despertou. Coloquei na minha cabeça que seria dona do meu próprio negócio.

P&F: Foi um caminho difícil?

AG: Montei meu primeiro negócio aos 23 anos. Não deu certo e encerrei com muitas dívidas dois anos depois. Trabalhei em dois, três empregos para conseguir pagar as despesas da primeira iniciativa empreendedora. Foi um MBA da vida. Optei por uma carreira executiva e por 17 anos atuei como na área, mas continuava com o sonho de empreender e eu não sabia no que.

P&F: E quando você voltou a empreender?

AG: Em 2015 criei um programa online chamado ‘Líderes para Vida’ com uma metodologia construída nos últimos 20 anos da minha vida, baseada nas transições de carreira bem sucedidas que eu tive que formatar. Eu não estava focada em gênero até que em 2017 eu me dei conta que o mercado não tinha mulheres falando em liderança ou desenvolvendo lideranças femininas.

P&F: Então o foco desse novo projeto era empoderamento! Como foi tocar isso para frente?

AG: Foquei a minha energia para desenvolvimento de liderança feminina, empoderando mulheres e ensinando empresas a como estimulá-las a avançarem nas posições de comando, assim como eu, um dia, tive essa oportunidade. Encerrei minha carreira executiva, fui trabalhar na sala da minha casa e tentar a vida empreendedora. Bati muito a cabeça, perdi muito dinheiro, mas consegui achar um nicho que preenche meu coração com propósito e realizar esse sonho de empreender todos os dias.

P&F: Quais os desafios em criar um negócio em meio à pandemia?

AG: Acho que o principal desafio é vencer o medo e as limitações de conexão, espaço, a retração do mercado. Eu e minha sócia, a Letícia Nascimento, criamos uma versão digital do curso em três dias. Ele não seria presencial, mas manteria a conexão por ser ao vivo. O fato de transmitir um conteúdo via tecnologia não ser presencial, não nos limitaria a levar o propósito que a gente tem que é de ensinar as mulheres a assumirem posições de destaque, liderança ou educar as empresas para diversidade de inclusão. As formações online e ao vivo têm dado chance de outras pessoas de outros países e estados estarem também com a gente.

P&F: O projeto busca estimular mulheres a ocuparem posições de destaque na empresa. Qual a importância de tê-las nesses cargos hoje?

AG: O fato de não ter mulheres em posições de comando desestimula que outras mulheres se sintam em condições de ter esse lugar. E aí, cria uma energia reversa e antiquada, de padrões antigos, nos quais o comando está na mão dos homens. Já está comprovado que mulheres em posições de comando trazem para as empresas maior eficiência no negócio, por trazer pontos de vista diferentes, além de serem melhores investidoras. Ter mais mulheres em posição de comando é essencial para a sustentabilidade dos negócios e inovação da empresa, além da eficiência financeira. Aliás, quando falamos sobre mulheres em posições de comando, precisamos olhar a interseccionalidade: negras, trans, com deficiência e de diferentes gerações. É uma verdadeira evolução que acontece.

P&F: Qual a necessidade do envolvimento da empresa para formar uma equipe mais plural e com representações femininas na liderança?

AG: A necessidade de envolvimento é primordial. Efetivamente, as lideranças atuais precisam entender que isso não é só um movimento de moda, que isso é um movimento real e genuíno em prol da evolução econômica das empresas e da sociedade. Elas precisam estar envolvidas para estimular que todos tenham clareza desse processo de diversidade e de inclusão. Não basta contratar, você tem que incluir as pessoas, capacitar e educá-las para esse olhar.

As mulheres precisam se sentir realmente mais seguras em relação às suas decisões e capacidade de liderar. E para isso é preciso envolver a empresa na formação dessas mulheres, para estimular essa ambição e mostrar que elas podem ser plenas na vida pessoal e profissional, que podem ser muito bem sucedidas como executivas. Isso vai ajudar toda uma sociedade a criar condições para que outras mulheres possam ser também.

P&F: Não há equidade de gênero no meio profissional e o cenário é ainda mais complicado para mães. Qual a importância de empoderar essas mulheres para que se realizem na carreira e maternidade?

AG: A importância de empoderar essas mulheres é essencial para que essas mulheres, por si só, possam aprender técnicas para criar esse sistema, acreditarem que elas são capazes e acenderem e provar para elas mesmas, em primeiro lugar, que elas podem e em segundo lugar, estimular que outras mulheres sigam. Em muitas situações, é necessário que as mulheres sejam pioneiras nesse processo, e quanto mais mulheres crescerem, outras mulheres crescem junto e uma leva a outra. Se essa empresa não está preparada, ela vive num ambiente que não é preparado, ela vai encontrar no Instituto Geração Soul, junto com outras dezenas de mulheres, a oportunidade de ascender.

P&F: Quantas mulheres o Instituto Geração Soul já ajudou?

AG: Hoje, são mais de mil e trezentas mulheres que vivenciaram essa experiência com a gente e mais de trinta por cento foram promovidas em menos de um ano, ou mudaram de trabalho, assumiram posições de liderança, conseguiram negociar salários melhores, se candidataram a vagas que nunca imaginaram tentar. Temos a finalidade direta e objetiva de fazer essas mulheres acreditarem que elas podem ser bem sucedidas como mães, sim, e como executivas, como elas desejarem. E que elas não projetem as frustrações delas como mulheres na maternidade, porque é um processo de aprendizado, assim como uma liderança é também. Elas podem ser mulheres realizadas e mães bem sucedidas também.

P&F: Uma função não anula a outra e empoderar mães é ainda mais fundamental no mercado de trabalho. Como você enxerga a maternidade executiva?

AG: Não existe só um modelo de maternidade ou uma forma de ser mãe. Existem inúmeras e cada mulher pode achar a sua própria forma de exercitar esse papel. Tendo em consideração que o mais importante é afeto, carinho, as condições que são dadas para aquela criança. Esse empoderamento das mulheres é essencial, principalmente essas mães que têm um papel tão relevante no exercício da liderança feminina com seus filhos,e no mundo que exige tantas mudanças. Acho que a mãe executiva é o exemplo de uma sociedade que se adequou, que se ressignificou, que desconstruiu padrões e está muito mais pronta para um futuro melhor mesmo.

P&F: Como é a sua relação com a maternidade?

AG: Eu venho de uma  família extremamente tradicional, com homens que são os provedores e mulheres dedicadas aos filhos. Por anos isso era referência de família ideal, mas muitas mulheres são frustradas, submissas e tem vários problemas na construção da identidade dessa família e dos filhos, além de  muita dificuldade, se sentem muito inseguras. Eu mesma fui casada durante dez anos, me divorciei, hoje namoro uma mulher, que é a Letícia Nascimento,  sócia do Instituto de Geração Soul. Vivemos hoje eu, Letícia e a minha filha Yasmin um outro formato de família, uma família feita com três mulheres. Sou muito feliz com esse modelo de família.

P&F: Como é conciliar carreira e maternidade hoje em dia e como você vê essa influência para a sua filha?

AG: Hoje, eu posso dizer que o exercício da maternidade pra mim é muito importante. Minha carreira, eu ser uma mulher bem-sucedida, é importante pra mim como mulher, mas também como exemplo pra minha filha. A minha vida, minha concepção família, de cumplicidade, de cooperação, de colaboração, de união, tudo isso independe do estereótipo da sociedade e traz muito mais exemplos positivos para o caráter dela, por exemplo, do que talvez sustentar uma família tradicional.

P&F: Para você, Amanda Gomes, mãe de Yasmin, família é tudo para você?

AG: Eu acredito que família não é tudo. Eu acho que a nossa felicidade é tudo, a nossa realização como ser humano, como mãe, é tudo. Existem vários formatos de família diferentes que não necessariamente são pessoas unidas pelo mesmo sangue. Família é uma escolha também, não só uma consequência. Ela é feita de pessoas que com amor se juntam, colaboram, e se incentivam. E os formatos podem ser diversos.


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