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Momo: o que você realmente precisa saber para proteger seu filho

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Publicado em 18/03/2019, às 15h54 - Atualizado às 19h32 por Jennifer Detlinger


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Momo volta a aparecer em vídeos pelas redes sociais. Saiba como conversar com seu filho sobre o assunto (Foto: Reprodução)

O medo e a preocupação causados pela Momo, imagem que viralizou no ano passado, estão de volta. Nos últimos três dias, mães e pais se manifestaram nas redes sociais após a denúncia de que o trecho de um vídeo com a assustadora personagem estaria sendo veiculado em meio aos vídeos do YouTube Kids, plataforma do Google que filtra conteúdos seguros ao público infantil.

Segundo relatos, a imagem aparece inesperadamente no meio de vídeos infantis, de temas como slime e Baby Shark, e estimula as crianças a encontrarem objetos cortantes em casa e as ensina a se machucar, cortando os próprios pulsos. Mas, de acordo com o Youtube, não há nenhuma prova de que esses vídeos foram veiculados na plataforma. E não é de hoje que histórias e desafios perigosos são espalhados pelas redes sociais. Em 2017, o “jogo da Baleia Azul” foi tão sério, que ficou associado diretamente com o aumento de casos de suicídio entre crianças e adolescentes, causando preocupação em famílias ao redor do mundo.

O próprio desafio da Momo começou a circular entre jovens pelo WhatsApp entre julho e agosto do ano passado —  o jogo consistia em adicionar um contato com o suposto número do Momo e iniciar uma conversa. Com uma aparência aterrorizante, a imagem da Momo ficou famosa pelo aplicativo de conversas causando curiosidade entre os internautas. Mas especialistas advertem que o desafio pode ser algo muito mais sério do que uma simples distração online.

Na época, histórias compartilhadas por youtubers que testaram o desafio contam que “Momo” seria uma suposta entidade sobrenatural que fala a partir de um número específico pelo WhatsApp. O número enviava fotos e vídeos perturbadores, além de serem chantageados com informações pessoais e ameaças. Como toda lenda urbana, a história de Momo, claro, não é real. A imagem que invadiu as redes trata-se apenas de uma escultura que pertencia ao museu Vanilla Gallery, no distrito de Ginza, em Tóquio, no Japão. O desespero ao redor da Momo foi tanto que o japonês Keisuke Aiso, criador da obra, chegou a destruir a escultura, após a repercussão negativa.

A relação do vídeo com seu filho

A reportagem recebeu e coletou dezenas de relatos de pais e mães preocupados com a saúde mental dos filhos após verem os vídeos com imagens da Momo circulando pelo Facebook e WhatsApp. Um deles foi do supervisor de TI Marcos Romeu, do blog www.papainocontrole.com, nosso blogueiro parceiro, pai de Tarsila e Ravi. “Minha filha de 4 anos e meio sempre dormiu no quarto dela e nunca teve problemas com pesadelos”. Ele conta que, há duas semanas, Tarsila começou a reclamar que não queria mais dormir em seu quarto, além de chorar muito à noite e ter medo até das sombras. Com o tempo, ele e a esposa, Jamile, acolheram a filha no quarto, conversaram com ela sobre o assunto, além de deixar a casa mais iluminada. “Tarsila contou que tinha medo de uma boneca no quarto, que ficava sempre olhando para ela. Decidimos tirar os brinquedos do cômodo e acompanhá-la mais de perto à noite”, relata Marcos.

Motivado por relatos de outros pais, ele decidiu perguntar à filha se tinha visto alguma imagem da Momo. “Questionei se poderia mostrar uma foto para ela. Queria ter certeza que minha filha não tinha visto aquela boneca horrível que me dá calafrios”, conta. Foi quando a menina entrou em pânico, colocou as mãos na cabeça e começou a chorar. “A reação dela foi assustadora até para mim. Tirei a imagem do celular, acolhi ela em meu colo, ficamos abraçados e fizemos uma oração juntos para que todo sentimento ruim passasse. Passei dias com minha esposa tentando ajudar nossa filha sem saber de fato o que a estava aterrorizando. Mesmo buscando ser pais presentes sofremos esse tipo de problema”, desabafou.

“Do ponto de vista psiquiátrico, esses vídeos da Momo pegam a criança em um momento em que ela é muito frágil e tem dificuldade de distinguir que aquilo não é algo real. A criança tem a questão da ‘fabulação’, de misturar conceitos de o que é realidade ou não”, explica o psiquiatra Rodrigo Machado, pai de Olivia e integrante do Grupo de Dependência Tecnológica do Hospital das Clínicas. Segundo o especialista, imagens desse tipo podem desencadear transtornos de ansiedade, por exemplo. “Fora o fato de que ela se imagina nessa situação de perigo e questiona: ‘se eu não fizer isso que ela está mandando, ela vai me assustar à noite’”, pontua.

Ana Carolina Elston, psicóloga e psicanalista especializada em desenvolvimento infantil, mãe de Benjamín, defende que os vídeos ganharam um peso muito grande na vida familiar atual. “Usar apenas o vídeo como meio de comunicação e interação faz com que as crianças sejam facilmente seduzidas pela linguagem audiovisual. Elas estão muito suscetíveis a essa linguagem e, por isso, tudo que consomem como vídeo tem um impacto na vida delas”, explica. Prova disso são as marcas que vendem e inserem propagandas no Youtube, pois descobriram que se trata de uma forma muito mais eficiente do que um programa de televisão. “Ao assistir o vídeo, a criança está na fronteira dividida entre realidade e verdade e pode de fato se sentir ameaçada, insegura e em um momento social em que a comunicação entre as pessoas está ruim. Além de sentir medo, ela pode achar que não deveria comentar sobre o que viu com os pais e somente executar o que o personagem pede”, explica. 

“A criança é um ser curioso que está em um momento de absorção de estímulos que existem à volta dela. Os criadores desses conteúdos fazem uso desses artifícios e, quando aparece algo que chama a atenção, dificilmente a criança vai fechar o computador ou tirar do celular. Da mesma forma que quando assistimos um filme de terror, tentamos não ver, mas ficamos curiosos sobre o que vai acontecer depois”, aconselha Rodrigo.

Não deixe o pânico tomar conta da sua família

Entre os depoimentos recebidos pela reportagem, apenas um relata que a criança realmente se deparou com a imagem da Momo enquanto assistia vídeos no YouTube. Segundo Roberta Bento, especialista em educação e neurociência cognitiva, fundadora do SOS Educação e mãe de Taís, a proporção do pânico causado pelas redes sociais em torno dos vídeos é muito maior do que o fato em si. “A intenção não é desmentir a notícia, mas refletir sobre os benefícios que vieram a partir dessa onda de medo que se espalhou. Não faz a mínima diferença se a tal Momo aparece ou não. Seu filho precisa de um adulto monitorando tudo o que ele assiste”, explica.

De acordo com especialistas, a Momo não deve ser o maior de todos seus medos como pai ou mãe. “Não é o tempo que a criança passa na internet, mas sim a relação dela com esse meio. Cortar totalmente o acesso do seu filho às redes sociais não ajuda. A criança fica ainda mais suscetível aos perigos e não aprende a separar o que é bom ou ruim na internet. Além disso, ela pode ter acesso a conteúdos inadequados na casa de amigos ou de crianças mais velhas”, defende Roberta.

Focar os medos e preocupações em torno de boatos alarmistas distrai os pais dos verdadeiros riscos presentes em qualquer plataforma online. “O problema não é a Momo. A cada dia, vai aparecer uma história diferente nas redes. Os pais precisam deixar a ingenuidade de lado e entender que a internet não é um lugar feito para ser seguro, mas sim um espaço de profunda pluralidade. 57% da população tem acesso à internet, é impossível ter segurança em um local com mais de 4 bilhões de pessoas”, explica Ivanice Cardoso, advogada e especialista em direito digital e cyberbullying, mãe de Helena e Beatriz.

Posicionamento do Youtube

A reportagem entrou em contato com o Youtube Brasil, que informou não ter encontrado registros de aparições da Momo em seus vídeos. “Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente. Também oferecemos a todos os usuários formas de denunciar conteúdo, tanto no YouTube Kids como no YouTube. O uso da plataforma por menores de 13 anos deve sempre ser feito pelo YouTube Kids e com supervisão dos pais ou responsáveis. É possível que a figura chamada de “Momo” apareça em vídeos no YouTube, mas somente naqueles que ofereçam um contexto sobre o ocorrido e estejam de acordo com nossas políticas. Para mais detalhes, vale consultar a página sobre Segurança Infantil no YouTube“.

Como abordar esse assunto com seu filho

A psicóloga Eliana De Barros Santos, mãe de Mariana, Rebeca e Laerte, deixa algumas dicas para você evitar que seu filho consuma este tipo de conteúdo. O primeiro passo é explicar para o seu filho que aquilo tudo que está na telinha é fantasia. 

Também é sempre válido conferir o que a criança está acessando, e não só como uma forma de controle, mas de curiosidade real, já que aquilo que a pessoa vê pode afetar positiva ou negativamente no seu pensamento e modo de agir ou pensar. A psicóloga reforça a importância da intimidade da relação que você tem com o seu filho. “É preciso orientar com proximidade, porque o distanciamento dos pais causa distúrbio emocional, e as crianças percebem quando eles não estão próximos e ficam mais suscetíveis e vulneráveis”, conclui.

“A conversa com a criança tem que ser sempre muito frontal. Evite ficar dando muitas voltas, seu filho precisa de uma linguagem simples para poder entender e se sentir seguro”, orienta Ana Carolina. Comece a conversa com perguntas do tipo “Você já viu? O que você pensa sobre isso? Como você se sentiria se visse esse personagem?”.

A primeira postura é escutar a criança. Quanto mais você fala ‘não faça’, mais a criança faz, porque pode despertar a curiosidade. “O que é mais importante e que os pais não têm feito é escutar. Mais do que dizer para o filho não assista, é dizer: se você ver, me conte”, exemplifica a especialista. A partir dessa conversa, esteja sempre disponível para amparar e demonstre confiança para receber o alerta de que há algo incomodando seu filho. 

É sempre a conversa que resolve. Peça para a criança mostrar a você o que ela assiste. Meu maior conselho para os pais na atualidade é que eles não podem achar que a tecnologia resolve a falta de atenção. Eles precisam ser parceiros e isso não significa ser amigo, mas sim fazer junto. Entregamos um telefone com acesso à internet na mão da criança e esquecemos que precisamos supervisionar isso também. O pai precisa se interessar pela vida do filho, tem que ouvir mais do que falar. Tem que permitir que a criança se sinta segura para falar o que está na cabeça dela. Dessa forma, você vai acabar sabendo da Momo e do amiguinho que está fazendo bullying, além de conseguir identificar outros conflitos”, aconselha Ana Carolina.

“O mais indicado é fazer uma abordagem contando uma história para o seu filho. Perguntar se ele viu alguma coisa diferente ou assustadora nos vídeos e, caso ele tenha visto, alertar que existem pessoas maldosas e que contam histórias mentirosas. Não temos como isolar nossos filhos do mundo digital, por isso precisamos parar para repensar a forma que estamos educando nossos filhos e sair desse modo de histeria coletiva. Se fizermos a construção desse pensamento desde cedo, a criança vai ganhando autonomia e responsabilidade para entender o que deve assistir ou não, e tem mais liberdade para conversar com os pais caso não se sinta segura”, explica Ivanice. 

Bombou no grupo do WhatsApp

Temos um grupo no WhatsApp com todos os blogueiros parceiros da Pais&Filhos, em que foi levantado o debate sobre o assunto. Confira os relatos e posicionamentos:

Giuliana Pierri:

Ontem conversei muito com a minha filha sobre a boneca Momo. Falei que se aparecesse, ela teria que parar de assistir e me avisar. Não acho que proibir seja o caminho, meu papel como mãe é conversar e orientar para que ela se sinta segura para se abrir comigo.

Marcos Romeu – @papainocontrole

Erika Fonseca – @mamaenapenteadeira

Ana Claudia Cukier e Giuliana Pierri – @blogmoms2moms

Ana Claudia Cukier: Eu mostrei a foto dessa boneca para o meu filho e ele ficou assustado quando viu. Ele me perguntou se ela era um ladrão da Internet e eu disse que de certa forma era sim e queria roubar as coisas boas que a gente tem: o coração.

Débora Bertoldi –  @mundinhodemãe

Fiz o post para alertar outros pais, o meu filho, Lucca de 4 anos, não viu a tal Momo, não mostrei e nem pretendo mostrar. Lucca tem tablet, mas sem acesso à internet, então conheço os joguinhos. Minha filha de 15 anos já sabia, tinha visto alguns youtubers que ela acompanha alertando sobre esse assunto meses atrás. Mas na época os hackers enviaram mensagens via WhatsApp.

Leandro Nigre – @papaieduca

Conversei com o meu filho João Guilherme, de 6 anos, e o meu sobrinho Luiz Miguel, de 7 anos, e ambos já tinham ouvido falar sobre a Momo. Eles têm aplicativos no celular de controle pelos pais, o family link, porém não foi suficiente para evitar que eles vissem por meio de um terceiro a figura da Momo.

Jeanie Marcelle – @Papinhadebb

Na minha rede não me posicionei e nem pretendo! Aqui em casa nunca tivemos problema com internet ou YouTube. Usamos ao nosso favor e de forma supervisionada. Acreditamos que não ter ou desinstalar não é o caminho. Perigos e gente maldosa existem em toda parte e não acho que o caminho é fechar a criança numa bolha.

Laura Carvalho@blogmaede2

Eu mandei esses diálogos nos grupos da escola e muitas mães foram conversar e descobriram que os filhos já conheciam e estavam com medo. Aqui em casa conversei com os meninos e eles sentiram medo só de eu falar. Eles decidiram deixar de assistir o YouTube por um tempo.

Ana Paula Porfirio – @sampacomcriancas

Karen Bussacarini – @mamaedecasa

Meus filhos ainda não pequenos (5 anos e 2 e meio) então eu tenho o controle total do que eles acessam mas sei que daqui 3 anos esse cenário será diferente e para isso é preciso ensinar desde já…

Karin Saavedra – @mamaebox

Sempre muito importante tentarmos o diálogo. Fiscalização de perto, mas proibir não é o caminho. Importante tentarmos sempre conversar, estarmos próximos, monitorarmos e trabalhar a confiança. Sempre buscarmos saber o que se passa na escola, quais são as conversas, etc.

Polyana Pinheiro e Mi – Mães amigas

Samantha Valdívia – blog@meumundoinfantil


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