Publicado em 09/10/2023, às 06h45 por Redação Pais&Filhos
Do que você gostava de brincar quando era criança? A pergunta parece trivial, mas muita gente se esquece das brincadeiras que animavam a própria infância na hora de interagir com os filhos e netos. Em época de tantas opções para o tempo livre da criançada, resgatar essas atividades clássicas pode ser uma boa oportunidade para exercitar habilidades que, muitas vezes, ficam de lado na rotina moderna dos pequenos e, principalmente, dos adultos.
Em parceria com Ri Happy ao longo de todo esse ano, levantamos a importância do brincar para as crianças e isso também é válido para os pais. Juntos queremos estimular essas atividades na sua família. E nem sempre é preciso criatividade, você pode resgatar os jogos clássicos da sua infância. Ou seja, ensinar para seus filhos aqueles jogos que você lembra com saudade, além de divertido, pode reforçar as relações familiares.
Algumas brincadeiras são nossas velhas conhecidas, assim como de nossos avós, bisavós e ancestrais mais distantes. Há de existir algo de importante em jogos e passatempos que são ensinados de geração em geração há milênios –sim, algumas das atividades mais triviais, como a amarelinha ou o pião, já eram brincadas na Grécia antiga e no Império Romano. Nem a religiosidade extremista da Idade Média, que abafou a ideia do brincar, pois considerava o ato imoral e ofensivo, foi capaz de matar a quedinha natural que o ser humano tem pelo lúdico. Mas no século XV (ufa…), o Renascimento fez jus ao nome, e permitiu à humanidade, finalmente, voltar a ser criança.
Os pais, mães, avós e avôs do século 21, no entanto, trazem na bagagem muito mais brincadeiras do que seus ante-
passados: somaram a seu repertório de brincadeiras clássicas novidades como o jogo de taco, a queimada e o rouba-bandeira.
Patrícia Marinho, publicitária, mãe de Carol e Gabi, e Patricia Camargo, jornalista, mãe de Henrique, So a e Larissa, do Tempo Junto, defendem: “Ao brincar com os filhos, os pais estão dizendo: ‘Eu te amo e por isso entendo que brincar é fundamental para você e quero me relacionar com você a partir do seu mundo’. Ao demonstrar que querem brincar, os pais passam segurança e autoconfiança aos filhos. Mostram que os amam e respeitam como pessoas (e não como ‘projetos de adultos’). Por outro lado, a brincadeira é, desde os tempos antigos, a melhor forma de aprendizado também para os pais (vide o exemplo das dinâmicas empresariais ou de cursos “gamificados”). Além de ser uma excelente ferramenta de desestresse do adulto”.
Nesse contexto, as especialistas destacam que brincar também é uma ação sociocultural. Sem a interferência dos adultos, na verdade, é possível que boa parte das crianças nem tome conhecimento das brincadeiras tradicionais. É aí que entra a necessidade de mergulhar na nostalgia para brincar com os pequenos. Um estudo feito pela fundação americana Robert Wood Johnson estudou mais de 1.500 crianças entre o jardim de infância e a oitava série e concluiu que o que acontecia a elas durante as férias e recessos escolares era tão importante quanto as aulas no que diz respeito à depressão, violência e obesidade.
Infelizmente, a diminuição do tempo livre e em interação social na rotina das crianças vem prejudicando as últimas gerações, de forma que os pesquisadores perceberam o aumento na importância de adultos que atuem como facilitadores do brincar: é necessário supervisão e acompanhamento, pois as crianças de hoje têm poucas oportunidades de aprender sozinhas os jogos e brincadeiras tradicionais. “Brincar é a primeira ferramenta de aprendizagem das crianças, e é a principal até o final da infância. É possível dizer seguramente que sem brincar inexiste o desenvolvimento infantil”, completam.
Esqueça a imagem do adulto de antigamente. As figuras dos pais sisudos e distantes andam em extinção – e cá entre nós, ainda bem, não é?! Os adultos de hoje em dia permitem-se brincar. É uma mudança brusca acontecida em poucas gerações, mas que traz consigo muitos benefícios, tanto aos filhos e netos, quanto para os próprios adultos. “Quando os pais brincam com os filhos das suas brincadeiras, a nostalgia promove um retorno do adulto à idade dos filhos, contribuindo para que os pais se lembrem de como eles eram na mesma idade dos filhos. Esta recordação ajuda o adulto a entender melhor o momento que a criança está passando. E as histórias resgatadas nestes momentos de brincadeira de antigamente aproximam pais e filhos, já que os filhos conseguem ver que os pais também foram crianças como eles são”, justificam as especialistas.
Portanto, não há época para brincar e nem situação ideal. Apenas brinque, se jogue, se permita conhecer e reconhecer a si mesmo e seus familiares. Brincar é justamente isso. Com ou sem regra, ter um momento de lazer ao mesmo tempo em que desenvolve diversas habilidades fundamentais, além de fortalecer laços. Assim, Pat Camargo e Patrícia Marinho alertam: “Brincar em família traz o sentido do pertencimento para os filhos. Afinal, se os adultos brincam juntos é porque a brincadeira é permitida na casa, na família. Se a brincadeira é permitida, a criança é ‘permitida’ do jeito que ela é, em seu estado mais natural. Além disso, brincar em família traz a oportunidade de construção de memórias que seguirão por toda a vida”.
Conheça a origem de jogos e brincadeiras clássicas que marcaram muitas gerações.
Historiadores acreditam que o esconde-esconde evoluiu de um jogo chamado apodidraskinda, descrito pelo escritor grego Julius Pollux no século II. Uma variação moderna é chamada de “Sardinhas”, onde apenas uma das crianças se esconde e, quando alguém a encontra, tem que se juntar a ela – daí o nome. A última criança a encontrar o grupo perde a brincadeira.
Benefícios: Estratégia, atenção e raciocínio lógico.
Há registros de que os soldados do Império Romano já brincavam de amarelinha – ou pelo menos, inspiraram os pequenos romaninhos. A rota original tinha mais de 100 metros de comprimento e era usada para treinamento militar. As crianças criaram suas próprias versões, bem menores e com casas numeradas. No Brasil, seu nome derivou de “mare lle” que é como a brincadeira é chamada na França.
Benefícios: Desenvolvimento de equilíbrio, raciocínio lógico e capacidades motoras.
Hoje são usadas esferas de vidro. Mas a bolita, que já foi jogada com pedras, sementes, aço e argila, é antiquíssima: o Museu Britânico tem em seu acervo bolinhas gregas com cerca de 4 mil anos. No Império Romano, adultos também brincavam de bolinha de gude.
Benefícios: Capacidades estratégicas, de coordenação motora e mira.
Também chamado de “Bets”, o jogo de taco virou moda no Brasil entre as décadas de 1980 e 90, mas sua origem não é certa. Pela semelhança que tem com o cricket, esporte britânico, acredita-se que tenha sido trazido por trabalhadores ingleses de uma empresa do Paraná, que simplificaram o cricket.
Benefícios: Mira, coordenação motora e agilidade.
Os índios costumavam brincar com uma trouxinha de folhas com pedras pequenas amarradas a uma espiga de milho. A brincadeira fez muito sucesso com a chegada dos portugueses e foi sendo ensinada para as gerações seguintes ao ponto de se tornar um esporte oficial em 1985.
Benefícios: Atenção, estratégia e agilidade.
Embora incerto, acredita-se que esse jogo surgiu na Europa, durante a Idade Média, como brincadeira que imitava as bolas de fogo arremessadas pelos soldados no combate às invasões bárbaras. O sucesso dos treinamentos popularizou as ações que passaram a acontecer também nas festividades.
Benefícios: Atenção, orientação espacial e agilidade.
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