Publicado em 10/07/2014, às 21h00 por Cecilia Troiano
De parte a parte há queixas. Mulheres que se queixam de maridos que pouco fazem para ajudá-las nas tarefas da casa ou cuidado com os filhos. Como uma mãe me contou, “meu marido só se toca quando eu dou um ‘piti’”. Do lado dos pais, também há reclamações na mesma intensidade, em geral apontando que as mulheres abrem pouco espaço para eles e que sempre as esposas criticam o modo como pais fazem uma determinada tarefa, ficando na maioria das vezes aquém das expectativas femininas. Para as mulheres há um sentimento de que elas têm que se multiplicar para dar conta de todos os pratinhos. Não veem uma divisão equilibrada e são bastante críticas. Será que esse impasse da divisão x multiplicação das tarefas tem uma solução? Haverá um caminho em que ambos fiquem equilibrados nessa equação?
Ao meu lado, confesso que ainda vejo mais mães que se multiplicam do que pais que dividem tarefas. Por exemplo, em idas ao pediatra. Já repararam nas salas de espera quem acompanha a criança doente? Maioria de mães. E na reunião de escola, nos encontros com a professora? Mesmo com pai e mãe trabalhando fora, nas reuniões de escola vejo umas 8 mães para cada 2 pais. Isso sem falar no bilhete da professora, que quase sempre vem endereçado à mãe, já notaram isso? Ou seja, as instituições, como escolas, reproduzem em muitas vezes o desequilíbrio. Outro exemplo é sair no meio do trabalho por conta de alguma emergência com os filhos. Quem sai mais vezes? De novo, vejo mais mães com esse comportamento do que os pais. Será que as carreiras das mães são mais flexíveis, menos importantes ou são as mães que são mais elásticas e se multiplicam? Tendo a achar que é mais o segundo caso. Desculpem-me pais, mas é o que observo à minha volta, em diferentes níveis sociais, mais multiplicação do que divisão.
Mas sou otimista e acho que isso pode mudar e migrarmos de um modelo de multiplicação para o de divisão. Vejo que as novas gerações começam a buscar, ou ao menos experimentar, um formato mais equilibrado na divisão das tarefas. Não acho que a geração que virá conseguirá reverter totalmente esse cenário, mas se ao menos algum movimento for feito, já vejo com bons olhos. O fato de algumas empresas instituírem licença paternidade já é um sinal dessa demanda. Infelizmente ainda poucos pais usufruem dessa “oferta” da empresa quando ela é oferecida, pelo medo de perderem espaço no retorno ao trabalho. Mas creio que com o tempo seremos cada vez mais “escandinavos” – um lugar onde pai e mãe são estimulados verdadeiramente a ficar com o bebê recém-nascido, com licenças maternidade e paternidade, remuneradas, de até 12 meses.
Mas enquanto a “Escandinávia” não chega por aqui, o jeito é esposa e marido negociarem acordos pessoais, soluções consensuais e formatos mais equilibrados. Sonho com uma divisão inteligente de tarefas e com dias em que a mulher elástica que se multiplica fique para trás.
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