Publicado em 09/12/2021, às 09h21 - Atualizado às 09h25 por Ana Guedes
Acordei. Eu que não sabia fazer feijão há alguns anos e virei até tentativa de surf old school verão passado nestes 12 anos. Eu que sigo mãe insuficiente. Agora como dizem, de um adolescente. Eu, que até ontem queria ensinar autonomia, e explicava ao Pedro as necessidades de se aprender a dormir na cama dele. Ter seu espaço. Saber ficar só na presença do outro.
Eu. Mãe adolescente. Acordei as 04:48. E fui pedir pinico. Entrei no quarto do Pedro como quem tem 5 anos. Com meu cobertor e meu travesseiro. Deitei em cima de um monte de controles remotos que faziam piiiii de tudo quanto é lado. Me acomodei.
Passei a mão nos cabelos do meu filho grande. Peguei na mão dele, e escutei: “Ai Mãe! Tu me assustou!”. Eu me assustei. E acordei as 04:48. E fui pro quarto de Pedro. Com saudades. Sem a menor autonomia. Cansada de crescer. Eu não queria minha mãe. Queria meu bebê. Aí piiiiii!!!!
Me senti uma invasora! Caramba! Aquela cama não era a minha! Aquele lençol? Aquela colcha? Como este cara dorme com isso? Flora, a gata me olhava com uma cara da soleira da porta como quem diz: “Gente! O que é a humanidade!”.
A cama do Pedro é meio casal. A minha Queen, King of convienence. Matrimônio?! Sei lá! Sei que não coube. Não era meu espaço. Era o dele. Caramba! O quarto dele, a cama dele, os plins dele. E eu ali gente ? Nos Paralamas do Sucesso as 04:48 descascando batata no navio?
Minha filha! O guri tá aqui do lado ainda! Sofrência na madrugada, foi? FOMO analógica? Olha, cadê a autonomia? Cadê a capacidade de ficar só na presença do outro? Cadê o teu espaço? Tu vai ter que aprender a cuidar das tuas coisas. Vai pro celular as 04:48?! E amanhã? E o sono?
Seja sua mãe. Em suficiente. Insuficientemente você vai ser. Dos terríveis dois anos até o dia em que você for dormir na cama dele ou dela… E por sorte, ele estiver na rua, levando seu coração pelos bares, calçadas, amores. E você? Acordada as 04:48? Pode ser. Mas deixe, seus filhos viverem.
Seja parto, porto, e partida. Na esperança de ser sempre chegada. E saiba-se, sempre insuficiente. Como mãe. Como gente. E não me pergunte nada. Sigo, sem a menor ideia. Só aprendi a fazer feijão. E meia dúzia de coisas mais (e olhe lá). Não esqueça.
“Eu te digo, minha filha / Não se esqueça de sempre sorrir / Não esqueça de ligar pra mim / Se por acaso conseguir / Não esqueça que é tudo ilusão / Não esqueça de lavar as mãos / Eu te digo, minha filha / Não esqueça de se apaixonar / Não esqueça de ligar pra mim / Dizer a que horas vai voltar / Eu te digo, minha filha / Não esqueça do que você quer / Não esqueça de querer aquilo / Que vai te fazer feliz / Não esqueça que a vida é pra viver / Lembre sem medo de esquecer / Não espere saber como vai ser / Saiba que nunca vai saber”. Nico Nicolaiewsky. (Obrigado, Nico). Para a Nina. Para todos os Pedros. Para as mães. Para a minha mãe. Pra mim.
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