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Desabafos de uma mãe de primeira viagem

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Publicado em 07/05/2021, às 08h38 por Toda Família Preta Importa


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**Texto por Isabela da Cruz, mulher, negra, quilombola. Historiadora, Bacharel em Direito, mestranda em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais, e mãe do Isaac Akin

A maternidade muda tudo e ser mãe dá trabalho (e muitos frutos) (Foto: Shutterstock)

Escrevo da madrugada. Ela que me abraça. Falo de um lugar onde o tempo muda a todo instante. E se antes caminhamos juntos, agora ele voa, e eu observo sua passagem. Agradecida.

O momento de nascimento de uma vida é divino e poder experienciar a maternidade tem sido constantemente surpreendente. Um ser que nesse momento tão indefeso e já possui suas vivências. A sensação é de ver a vida, ali materializada na sua frente, e o tempo passando de mãos dadas contigo através de uma criança. Tem sido inspirador. Meu projeto atualmente tem sido de mantê-lo bem, com condições de ser um adulto saudável.

Mas ser mãe também dá trabalho! É preciso dizer a verdade. Sem romantismos. E isso não quer dizer que não ame meu filho! É justamente a carga de trabalho doméstico historicamente relegado às mulheres que faz com que a energia que deve ser destinada à vida, seja transferida para a realização de tarefas necessárias, mas infindáveis.

Não me admira que no Dia das Mães, as mulheres sejam consideradas deusas, super-heroínas, guerreiras. Afinal é uma luta diária. É impressionante como enquanto sociedade, não acolhemos a maternidade. Na vida cotidiana, nas relações de trabalho, nos espaços públicos, nem sequer nas telenovelas. Desde a falta de trocadores descentes pra se deitar uma criança à falta de oportunidades profissionais pensadas para a carga horária de quem está vivenciando a maternidade. Perdi as contas de quantas vezes ouvi “não” com a justificativa de que “eu não conseguiria” exclusivamente por ter um bebê. Acredito que uma criança é responsabilidade de todos à sua volta, mas que toda a carga de trabalho que vem junto à criação de uma criança, é deixado para as mães, e romantizado por quem se abstém de fazer a sua parte.

Me disseram, quando engravidei, que a rede de apoio é uma das coisas mais importantes e de fato. Além do meu companheiro que faz a parte dele e um pouco mais, conto com uma rede de apoio insubstituível, composta pela minha mãe, minha comunidade, parentes próximos, e amigos. Isso me faz pensar na descolonização da ideia de família, e da importância da educação nas comunidades tradicionais. Como diz o provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira pra educar uma criança” e poder fazer isso em uma comunidade quilombola, é ainda mais especial. É nossa ancestralidade viva, pulsante em cada gesto, palavra ou ação. São nossos ensinamentos, saberes e fazeres, sendo transmitidos para a nova geração. E isso me enche o coração de amor.

Mas algo me assusta na maternidade, especificamente na maternidade de um filho negro no Brasil. O que me causa medo é a violência que o nosso país direciona aos nossos jovens pretos e pardos. Me estremeço só de pensar em quantas mães choram a ausência de seus filhos frutos da violência, institucionalizada e naturalizada desde antes da falsa abolição, que diz que é normal ou pior, comum, a morte ou desaparecimento de jovens homens negros. A cada 27 minutos um jovem negro morre no país, talvez isso explique o meu medo.

Eu confesso que parei de assistir filmes, séries que trazem como parte do enredo a histórias de jovens rapazes negros vítimas da violência do racismo, por serem gatilhos emocionais para mim. E como são poucas as histórias em que jovens negros tem uma vida feliz! Nossa! Precisamos mudar isso. Urgentemente! Na ficção, mas sobretudo na vida real. Queremos nossos jovens vivos! Nos queremos vivos e felizes.

Em momentos como esse, de medo e insegurança sobre o futuro, junto ao choro, vem o rezo. Um pedido ancestral pela proteção das nossas crianças e jovens negros. Um pedido que vem do fundo da alma, com a intenção de blindá-los das perversidades do racismo do dia a dia.

Mas apesar dos meus medos, sigo acreditando na força da vida, e na força do tempo. Sigo acreditando que podemos mudar a nossa realidade, e construir um presente/futuro, melhor para nós e para nossa juventude negra. É preciso acreditar para realizar. É preciso esperançar… Assim como verbo. Meu filho me faz ver que a vida se renova, e o tempo passa, o tempo todo.


Palavras-chave
Educação Maternidade racismo respeito criação dos filhos mãe de primeira viagem

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