Publicado em 18/02/2021, às 11h04 - Atualizado em 23/02/2021, às 11h52 por Beto Bigatti
Pais e mães podem ser dissimulados. Sim, rola certa hipocrisia nesta coisa toda da parentalidade. Mas ninguém comenta. Muito menos, os manuais. Entre nós, porém, não há segredos, certo? Apenas um pouco de ironia. A cama compartilhada é um belo exemplo desta minha teoria.
Começa logo que os filhos nascem. Para nossa paz de espírito, os colocamos no berço colado à cama do casal para os primeiros dias de vida. Acabam ficando ali por meses. Tudo em nome da praticidade. É o pontapé inicial da hipocrisia.
Para os amigos, as mentiras: “Queremos aprontar logo o quarto montessoriano para ele ter independência”; “dormimos mal, não vemos a hora que ele durma a noite inteira no quarto dele” e por aí vai. Frases repetidas à exaustão entre olhares cúmplices com nossa parceira fingindo um incômodo que não sentimos, mas que os outros esperam de nós.
A verdade é que a presença deles nos acalma muito mais do que a nossa poderia tranquilizá-los. Nada explica a sensação de alívio ao conferirmos em segundos, ali grudadinhos em nós, a respiração do nosso bebê. Ou, quando crescem, escutar aquele doce caminhar chegando em nosso quarto como se flutuasse em algodão doce. É madrugada e nos sentimos felizes por sermos a escolha natural para segurança e aconchego. Valorizamos a independência de quem nem nos chama mais e vem, sonâmbulo, direto para nosso abraço.
Espertos, demos um nome bacana para aliviar a culpa: “Cama compartilhada’, uma possibilidade de legalizar esta delícia de levar chutes e perder o conforto em nossa própria cama, antes um reino de descanso e prazer, agora, pós-filhos, um aparador improvisado para troca de fraldas e um terreno sem dono. Mas uma hora que chega, certo?
Não se cobre, você saberá quando este dia chegar. Sei apenas que aqui em casa chegou o momento de conversar com nosso “bebê” de 7 anos, que apesar de adormecer em seu quarto, vinha para nossa cama todas as madrugadas. A única pergunta feita ao caçula foi se ele sabia porque fazia isso.
Dali, começamos uma conversa para entender as razões dele. Sugiro sempre este caminho: escute seus filhos, eles sempre nos ensinam alguma coisa. Na nossa vez de falar, explicamos que não conseguíamos mais manter a qualidade do sono, e que a cama dele era ótima, não tinha por que não aproveitar. E, apesar de óbvio, foi necessário dizer: estaríamos sempre ali.
Com honestidade e escuta, conseguimos quase eliminar as vindas para nossa cama na madrugada. Assim, ficam todos seguros; ele de que está protegido mesmo à distância de um pequeno corredor; nós, mais tranquilos para retomar o que no passado já fora uma área de lazer, inclusive.
Há diversas teorias sobre isso tudo, mas o olho no olho está apenas aí entre vocês. Acolher durante um momento de aflição ou impor regras em um período de organização, tudo vale, desde que você escute o que o olhar do seu filho diz. Porque de uma coisa você pode ter certeza: ele escuta perfeitamente cada gesto seu.
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