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Quem censura o quê para quem?!

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Publicado em 14/11/2017, às 15h21 por Lô Carvalho


Outro dia assistia a um seriado com meu filho e tive que, pela milionésima vez, fechar os olhos dele. Tratava-se de uma cena que aludia a sexo que, na hora, julguei inadequada.

“Fernando, anda, fecha os olhos, não pode ver!”.

Do alto dos seus 13 anos, sua reação não poderia ser outra: aproveitou-se da minha aproximação, enlaçou seus braços ao redor do meu pescoço e estalou um beijo em minha bochecha. Com esse gesto, pretendeu encerrar minha ação como censora dos programas dos Simpsons…

“Mãe, para com isso, você já sabe como é isso de sexo nos Simpsons, não é mesmo?! Já sou grande, sei o que está acontecendo, não adianta fechar os meus olhos”.

Será?! Óbvio que não.

“Fernando, essa história de sexo nos Simpsons me incomoda, não acho adequado”.

Mudei de seriado. Coloquei em um que contava a história do arquiteto que teria construído várias catedrais na Europa. Uma ficção romanceada cheia de história e cultura. Passava-se na Idade Média. Muito mais adequado, é claro…

Logo nas primeiras cenas, uma situação de estupro.

“Fernando, fecha os olhos, anda”.

Mais adiante, o próprio pai arranca as roupas da filha.

“Fê, nãooooooo”.

Desliguei. Fernando, do alto dos seus 13 anos, concluiu:

“Mãe, pelo menos nos Simpsons o Hommer e a Marge são felizes quando fazem isso que você não quer que eu veja…”.

Sim, sempre censurei aquilo que meus filhos viam na televisão. E fora dela também: filmes, músicas, fotografias, notícias, novelas… Tenho orgulho: meus filhos nunca assistiram a uma novela!

Quando pequenos, até os 3 anos, não tinham acesso à TV aberta e tampouco à TV paga. Só assistiam aos DVDs que eu escolhia. Depois liberei o Discovery Kids. Mas só isso, nada mais. Assim foi até os 5 anos, quando pediram para ver o canal do Cartoon. Não gostava, só podiam assistir após as 18h, quando já estava em casa por perto, de olho.

Mas confesso que, depois disso, eles foram pedindo mais e mais liberações de tudo. Fui cedendo, mas sempre ao lado assistindo junto, ouvindo junto, comentando, mandando fechar os olhos, os ouvidos, cobrir a cabeça… Jamais impedindo o contato, apenas estando junto.

Mesmo hoje em dia, já bastante crescidos e talvez até mais sabidos do que eu, prossigo censurando. Sei que esta censura soa até como um pouco ingênua da minha parte, mas enquanto eles chamarem de mãe, sigo essa minha louca intuição de protegê-los. Não consigo fazer diferente. Nem ser diferente!

Mas, reparou nos sujeitos das frases acima?! Isso mesmo, faça uma analise gramatical. Você constatará que o tempo todo usei a primeira pessoa do singular: EU, EU, EU! Na minha casa, sou eu quem censuro. Nunca admiti e nunca admitirei que ninguém faça isso por mim. O pai vez ou outra teve uma opinião diferente. Bom… As avós bem que tentaram (e tentam até hoje), mas não… E as outras pessoas? A escola? E o governo? Nunca, jamais admiti nem admitirei que me digam o que devo fazer com a formação intelectual e cultural de meus filhos.

Por isso eles assistem aos Simpsons desde os 6 anos. De olhos bem fechados, é claro…

Censurar, em casa, não é impedir, vetar, fingir que não existe… É diferente. Conversa-se, explica-se e quando já não prevalece o meu ponto de vista, muda-se. Atualiza-se. Cede-se. Compreende-se.

Recentemente passamos por dois episódios de censura coletiva alarmantes.

O primeiro culminou no fechamento de exposições em museus e na imposição de limites mínimos de idade para eventos culturais.

Não aceito, não concordo. Não posso admitir que políticos motivados muito mais pela repercussão de seus nomes nas redes sociais determinem o quê meus filhos podem ou não ter acesso. Isso não é cuidar e nem proteger!!!

O segundo evento culminou na retirada de um livro infantil do mercado. Isso mesmo, um livro infantil foi recolhido e a sua venda suspendida por que uma blogueira o acusou de racista.

Vejam, racismo é crime e, embora a blogueira tenha sustentado que o livro incorre nesse crime durante 5 minutos no vídeo do seu blog, ela não fez uma denuncia formal e tampouco moveu uma ação. Vale lembrar que acusar alguém de racismo sem comprovar também é crime. A lei, nesse caso, é uma via de duas mãos.

Não aceito, não concordo. Não posso admitir que vetem o acesso dos meus filhos à produção cultural por mera opinião de alguém, por mais likes que essa pessoa tenha nas suas redes sociais – que na realidade não significam nada, não é mesmo?! Acho isso vergonhoso. Um desastre que na realidade ensina algo grave para as crianças e os jovens: que é possível condenar alguém ou alguma coisa sem o devido julgamento!

Uma pena. Por isso que convido a todos para refletir sobre a censura dos nossos filhos à produção cultural de hoje, no Brasil democrático: quem censura o quê para quem na sua casa?!

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