Bebês

Choro não! Porque você não deve deixar a criança chorando até cansar

choro não!

Publicado em 06/11/2015, às 07h59 - Atualizado em 08/06/2018, às 14h10 por Redação Pais&Filhos


choro não!

*Por Luciana S. Van Deursen Loew

Vamos pensar em várias espécies de animais irracionais e racionais. Pensou? Nossos bebês são os seres que mais dependem dos pais para sobreviver. Aí você deve estar se perguntando: “Ok, mas e daí?”. É importante saber que a principal forma de comunicação que une os bebês às soluções de seus incômodos é o choro. Através dele os recém-nascidos dizem aos pais que estão com fome, frio, sono, medo, dor ou qualquer outro desconforto. Aí, pensamos, por que deixar chorar? Se o que seu filho está pedindo é atenção, ajuda e carinho.

De acordo com Philip Sanford Zeskind, PhD do Levine Children’s Hospital, nos EUA, “o choro tem papel central na sobrevivência, na saúde e no desenvolvimento da criança”. Mas a importância dessa manifestação não se atém à sobrevivência. Segundo William Sears, ou dr. Sears, médico pediatra defensor da Teoria do Apego e autor de diversos best-sellers incluindo Criança Bem Resolvida, o choro é um alerta perfeito:  funciona de forma automática, sem margem de erro; é perturbador o suficiente para chamar a atenção do cuidador, mas não tão alto que o faça querer evitá-lo; e, principalmente, evolui junto com a prática. Ou seja, após um tempo, os pais conseguem identificar a razão do choro e ajudar o bebê. Assim, o choro torna-se um importante meio de criação de vínculo e confiança, sendo não só uma forma de comunicação do bebê.

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Por que o bebê chora?

Mas, afinal, por que é tão difícil para os pais lidarem com o choro de seus filhos? Por que temos tanta dificuldade para decodificar essa mensagem? Segundo Carolina Araújo Rodrigues, mãe de Isabela e Gabriela, neuropsicóloga e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP-SP, a evolução da sociedade modificou profundamente a estrutura familiar e, com isso, a relação mãe-bebê. A partir do momento em que outras preocupações passaram a fazer parte da vida da mãe, como trabalho, estudos, é natural que a atenção se divida. Porém, quanto mais dedicação e observação os pais puderem dar nos primeiros meses de vida da criança, mais forte será essa conexão e mais natural o processo para que a criança se acalme.

E para atender à demanda de mães e pais com dificuldade de entender e lidar com o choro de seus bebês que começaram a surgir as técnicas do choro controlado, principalmente relacionadas à hora de dormir. Acontece que há um tempo vem sendo propagado o termo “Ferberização”. Ele vem do nome de Richard Ferber, pediatra americano que foi o precursor dos métodos que pregam que se deve deixar a criança chorar sozinha por determinado período de tempo para treiná-la a aprender a se acalmar sozinha. Hoje existem muitas variações desses métodos, algumas mais humanizadas, outras menos. A maior parte continua baseada na ideia de que a melhor forma de fazer os bebês pararem de chorar seria deixando-os chorar.

As versões mais humanizadas sugerem que os pais entrem no quarto do bebê em intervalos controlados para que eles não se sintam abandonados, mas ao mesmo tempo sem ceder à tentação de pegá-los no colo, de forma que entendam que aquela hora é a hora de dormir. Esses intervalos começam mais curtos e vão aumentando ao longo de cada espera e de cada dia do processo. Outras versões, mais radicais, chegam a defender que o bebê chore até se cansar – citando que pode acontecer, e que é “normal”, de o bebê vomitar de tanto chorar.

Não é à toa que o assunto seja assim tão polêmico… A quantidade de questões que esse tipo de treinamento levanta é enorme: será que os bebês podem ser educados a partir de tabelas genéricas, e será que ignorar seu choro pode causar algum mal? Se o bebê aprende que não vai conseguir o que quer através do choro, de que outra forma conseguiria, se essa é a sua principal forma de comunicação? O que é choro e o que é birra? Aliás, bebês muito pequenos fazem mesmo birra? Afinal, estes métodos funcionam?

Ignorar faz mal?

Os bebês nascem com o cérebro imaturo, porém em pleno desenvolvimento. Isso significa que nos primeiros três anos de vida o cérebro ainda está em organização e é nessa fase que são estabelecidas milhares de ligações neuronais importantes enquanto outras são perdidas. Um ótimo exemplo é a forma como se desenvolve a linguagem: os bebês nascem com capacidade para imitar todos os sons humanos mas, à medida que crescem ouvindo apenas os sons da sua língua materna, vão perdendo a capacidade de reproduzir os que não fazem parte de seu idioma. É por isso que uma criança que aprende a falar duas línguas desde que nasce poderá falar as duas com uma pronúncia igualmente perfeita por toda a vida, mas alguém que aprenda uma segunda língua mais tarde terá dificuldade de pronunciar sons estranhos à língua materna. Assim, uma criança a quem os pais respondem prontamente irá enxergar um mundo onde os outros podem ser de confiança, enquanto uma criança que chora sozinha repetidamente fica programada para deixar de esperar dos outros qualquer tipo de conforto ou de consideração.

Um hormônio chamado cortisol, liberado em casos de estresse, inunda o cérebro dos bebês quando eles choram. Esse hormônio em excesso no cérebro em desenvolvimento pode destruir conexões neurológicas importantes. Além disso, quando as partes do cérebro responsáveis por apego
e controle emocional não são estimuladas durante a infância, não se desenvolvem mais. E o resultado a longo prazo pode ser uma criança agressiva e sem apego emocional.

A sensação dos bebês de não terem nenhum controle sobre o meio em que vivem ao ter seus apelos ignorados ganhou o nome de “desesperança aprendida”, que é uma espécie de depressão. Katia Keiko Matunaga, mãe de João Pedro, coordenadora pedagógica da Escola Viva, em São Paulo, cita o psicanalista inglês dr. Bion, que falou bastante sobre a importância da mãe tolerar o choro da criança, acolher e devolver para ela de uma outra forma, como a calma. É aquele momento do colo, do acolhimento, do “vai ficar tudo bem, a mamãe está aqui”.

Conforme a criança cresce, ela vai desenvolvendo outros recursos para se comunicar, como sons e gestos mais precisos e é importante que o adulto legitime essas novas possibilidades, converse com o filho e acolha esse choro, procurando “traduzir” para a própria criança o que está percebendo: “será que você está com fome”, “acho que você não gostou disso”.

Mas e a birra?

É frequente o argumento de que grande parte das técnicas de “deixar chorar” se aplicam à birra. Talvez este seja o ponto mais polêmico da história toda: a partir de que idade um bebê consegue fazer birra?

Segundo a neuropsicóloga Carolina Rodrigues, é apenas entre 18 e 24 meses de idade que a criança começa a entender o significado do “não” e passa a testar limites. Antes disso bebês não fazem birra: seus apelos representam necessidades. “Deixar a criança chorar na hora de dormir só deveria acontecer por volta dos 2 anos, quando a criança já consegue se comunicar e expressar dores”, diz ela.

Voltando algumas gerações… quando não existiam carrinhos, bouncers e invenções recentes: os bebês, por não conseguirem andar sozinhos até por volta do primeiro ano de vida, sempre dependeram de seus pais para se locomover.  Isso significa que até essa idade, eles precisam ser carregados no colo. Ou em slings, amarrados, de alguma forma colados ao corpo da mãe. Além disso, o colo passa aos bebês a sensação de conforto, segurança e afeto.

A Teoria do Apego, formulada por John Bowlby a partir de estudos realizados com órfãos da Segunda Guerra Mundial, tem como princípio mais importante a necessidade do recém-nascido estabelecer uma relação de vínculo emocional com ao menos um cuidador. De acordo com ela, o contato físico é um alimento assim como o leite. O bebê precisa da mãe para se sentir inteiro. Não é birra querer colo: é uma necessidade do seu filho.

Afinal, os métodos funcionam?

De um lado, mães que não suportam a ideia de ver seu bebê chorando sozinho, defensoras da Teoria do Apego e de tudo o que já falamos aqui. De outro, mães que, exaustas, recorrendo a técnicas de choro controlado.

O fato é que, sim, essas teorias podem funcionar. O ser humano é altamente adaptável e direcionável. Condicionar um bebê a não chorar deixando-o sozinho funciona, é claro, através de um mecanismo chamado extinção. E pode ser necessário, sim. Mas a que custo emocional? Segundo Carolina, quando a mãe não atende aos apelos do filho, ele acaba criando uma pseudoindependência. Ele realmente para de chorar em busca da mãe, mas, ao contrário do que se pensa, como o elo de confiança com a primeira figura de amor foi abalada, essa criança posteriormente apresentará indícios de insegurança.

Apesar de ser contra as técnicas em geral, Carolina explica que elas podem, sim, ser necessárias em alguns momentos específicos. Como, por exemplo, um casal que, exausto das noites sem sono e prestes a se separar, aplica uma técnica de choro controlado com seu bebê e obtém sucesso, conseguindo o tão sonhado e merecido descanso pelas noites mal dormidas.

É um cálculo difícil de fazer, mas importante em casos extremos. É essencial que se avalie o contexto como um todo e que se procure, claro, ter tranquilidade e se cercar de apoio para dar ao bebê o maior conforto emocional possível. Mas sempre considerando a situação como um todo, sem se matar de culpa se uma vez ou outra não conseguir atender o bebê imediatamente.

Dentro da barriga

Cada vez mais a tecnologia avança a nosso favor. Para ter uma noção, um estudo feito por pesquisadores britânicos da Universidade Durham descobriu que os bebês “ensaiam” o choro dentro da barriga da mãe. Segundo o estudo, ainda no útero eles fazem expressões de dor e de choro como um treino da forma com que eles vão se comunicar após o parto. Nesse momento eles já estão se preparando para viver e transmitir suas necessidades. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram quinze ultrassonografias feitas a partir da tecnologia 4D, que permite melhor visualização do feto, e com elas puderam identificar expressões faciais simples e complexas, como sorrisos, expressões de dor e movimentos nas sobrancelhas e no nariz. Não é o máximo?

Identificando o choro

Para entender o choro do seu bebê é preciso uma escuta de afeto: observar, e não apenas ouvir. A mãe não pode nem precisa se desesperar. Larissa Fonseca, filha de Paulo Roberto e Vera Lúcia, psicopedagoga e autora do livro Dúvidas de Mãe explica que há padrões bastante definidos de choro. Essa ideia chegou, inclusive, a criar aplicativos que gravam o choro do bebê e “traduzem” para os pais. Segundo Larissa, as diferenças são principalmente de intensidade e entonação. Por exemplo: a fome causa contrações no estômago do bebê, causando muito incômodo – então o choro é ininterrupto e bem forte. São gemidos semelhantes a um apelo que só cessam quando o bebê estiver satisfeito. Uma dica que dá para se certificar de que o bebê está chorando por sentir fome é observar seus movimentos de rosto e boca, que neste caso se movem como se estivessem buscando o bico para mamar.

Para Vera Regina Corrêa de Mello, filha de José Carlos e Elenir, coordenadora pedagógica do Centro Educacional Dreamkids, “ninguém pode saber mais do que você, mãe, sobre o seu bebê. Suas percepções atentas e emoções mais sinceras têm sempre um fundo de verdade”. Não é para menos que um dos valores da gente, aqui na Pais&Filhos, é carinho&confiança! Apoie-se nele!


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