Publicado em 02/08/2011, às 21h00 - Atualizado em 24/03/2021, às 08h13 por Redação Pais&Filhos
Herdeiro intelectual do “maldito” Nelson Rodrigues, Pondé, pai de Dafna e Noam, é um cético que acredita na força da religião e questiona a sacralização da ciência. Abandonou a faculdade de Medicina e foi em busca de respostas mais exatas na Psicanálise e na Filosofia. Em suas colunas, publicadas na Folha de S. Paulo, ele ataca os politicamente corretos, a ditadura da alimentação saudável e o discurso sustentável. Conversamos com ele em plena Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), onde Pondé dividiu mesa com o neurocientista Miguel Nicolelis. Nos embates entre religião e ciência, a conclusão é que somos humanos, demasiadamente humanos.
Por Larissa Purvinni, mãe de Carol, Duda e Babi
Sim, os dois. Noam é uma derivação da expressão em hebraico “Naim”. Quando você conhece alguém, fala: “naim meod”, que significa muito prazer. Então Noam tem a ver com essa palavra prazer, agradável. Dafna é a versão hebraica de Daphne, Laura, a árvore de louro.
Eu acho que existem temperamentos, não é geracional. Meu avô, pai da minha mãe, sempre foi um pai muito presente. Eu também sempre fui um pai muito envolvido com meus filhos desde que eles nasceram, não por me sentir obrigado a, mas por gostar de. Então eu acho que alguns homens são mais preocupados com os filhos e com a vida cotidiana deles do que outros. A maioria não é. Mas existe uma pressão da sociedade hoje para que os pais sejam mais participantes do dia a dia dos filhos.
Pai tem culpa também. Pelo menos, eu tive! E tenho. E os que eu conheço também têm. Acho que a culpa da mãe é maior. Acho que a pressão em cima da mulher é muito maior nesse assunto. E isso tem causas biológicas. Eu acho que a culpa do pai, ela vem, antes de tudo, do fato de ele ser ou não bom provedor para os filhos. Isso, talvez, seja uma culpa mais específica dos pais.
Acho que o que existe, num certo âmbito de pessoas que trabalham com cultura, seja na universidade, na arte, na mídia, é uma certa bolha de desapego à religião. As religiões não acabam e não devem acabar nunca. Porque o problema do significado da vida é muito sério, então a religião é o sistema de significado mais poderoso que tem. Porque ele é tanto abstrato como concreto. Quando você diz que ter filho pode se transformar numa espécie de significado para a vida, tem razão. Eu acho que, às vezes, muitas mulheres que acabaram não casando, quando chegam aos 50 anos, sem filhos, se desesperam, se sentem sós, se arrependem de não ter feito esse tipo de investimento. Quer dizer, homens também. Mas acho que os homens menos.
O tempo inteiro você está errando. Isso é o normal. Se você tenta ser uma mãe perfeita, talvez você se saia pior do que uma mãe que, simplesmente, vai com o hábito de ser mãe, dentro da ancestralidade de ser mãe, da forma com que cada um consegue. Você não faz um curso para ser mãe. Você vira mãe e você vai se virando.
Um filho pode separar o casal, sim. Tem muita pressão e, às vezes, disputa de como cuidar da criança. E não só do pai e da mãe, mas das famílias. Quando os filhos nascem, as famílias ficam excitadas. Os avós disputam as crianças.
São sentimentos ambíguos. Tem gente que tem inveja quando vê algum casal que está junto há muito tempo e se dá bem. Eu acho que, em um casamento longo, você pode ter tido momentos em que você teve a possibilidade de ter saído do casamento porque você olhou para a história, olhou pro hábito, olhou pro afeto estável e olhou para o outro afeto a ser construído, a ser investido e optou pelo anterior. Hoje, se está ruim você tem uma abertura maior para sair.
Até para as mulheres, porque umas já ganham um pouco melhor e também porque diminuiu o estigma da mulher desquitada, como se falava quando eu era criança, e que ninguém queria ter uma na família porque era uma mulher largada, uma mulher em quem não se podia confiar…
Ah, mas não tenha dúvida! Minha mulher era (o pai dela já faleceu) muito apegada ao pai, minhas irmãs sempre foram apegadas ao meu pai, que já é falecido, e a minha filha é muito apegada a mim. E eu a ela. O ciúme entre ela e a minha mulher é uma coisa… Minha mulher tem um ciúme dela, assim bestial, sabe? Mas é uma coisa que vai dentro da química da família, coisa meio normal.
Essa é a posição da minha mulher, exatamente essa. Eu sou mais aquele tipo que, se pudesse (minha mulher tira sarro de mim) e se fosse no passado, eu teria uma casona e meus filhos iam morar perto de mim a vida inteira. No começo, meu filho trazia as namoradas para casa e aí que a minha mulher estrilou, primeiro porque ela tem um ciúme danado das namoradas dele e depois porque ela se sentia cerceada dentro de casa. Hoje, ele tem 28 anos, já é médico e ela continua dizendo não, que se ele quer ter vida sexual então que vá morar sozinho, alugue apartamento. Teve uma cena histórica! Uma vez, minha filha era pequena (eles têm 9 anos de diferença) e entrou no quarto dele, que estava com a namorada, e saiu com o sutiã da menina na mão, passeando pela casa.
Noam não foi calculado, foi logo que a gente se casou, apesar de todo mundo achar que a gente estava casando porque ela estava grávida. Nos conhecemos em um kibutz, em Israel, e moramos juntos lá por 6, 7 meses. Quando voltamos para o Brasil, ela tinha de ter autorização dos pais para viajar para a praia, eu não podia dormir na casa dela… Não estávamos acostumados com isso e resolvemos nos casar. Aí engravidamos meio sem querer, porque a gente era meio “porra louca”. Ela devia ter uns 21 anos e aí a gente resolveu que ia ter um filho só. Depois, quando ele estava com uns 7 anos, nós pensamos que ia ser muito chato, quando a gente envelhecesse e morresse, ele não ter um irmão ou irmã. Foi por isso que Dafna nasceu. Quando ela estava com uns 5 anos, minha mulher quis ter outro, eu não quis e ela se arrepende de não ter me enganado. Eu não me arrependo. Lá atrás, se eu fosse um cara super-rico ou se fosse muito fácil educar filhos eu teria cinco, seis filhos, sem problema.
É claro que meus filhos já são grandes, minha filha, por exemplo, já pegou muito esta onda, de fazer três coisas ao mesmo tempo, ver TV, computador. Não vejo nenhum dano específico com a relação à capacidade dela de ter amigos, ir pra balada, fazer faculdade. Não sou muito catastrófico. Eu, nesse aspecto, sou mais darwinista. Acho que a gente já passou por grandes catástrofes na espécie. De risco, de sobrevivência.
Isso é muito papo de pai que não lê e diz que o filho não lê também. Lê quem gosta de ler. Na minha casa, meu pai era um tarado por leitura, e a minha mãe não lia nada. Eu e a minha irmã mais velha gostamos de ler, e minha irmã do meio, não. E meu pai dava livros para a gente.
Acho que sim. Pelo menos no sentido da apresentação. Eu acho que toda iniciativa para despertar a leitura nas pessoas, sempre vale. Dois vão gostar. Talvez, uns cinco não vão gostar tanto, mas vão ler um pouco mais do que leriam.
Acho péssimo. Uma coisa é um livro que, talvez, te inspire e te instrua. Uma coisa é um artigo de revista ou de jornal, que te esclarece um problema. Outra é um livro que visa lhe dar a resposta e os 10 passos para conseguir a coisa, vendendo a você a receita de sucesso.
A primeira ideia que vem na minha cabeça é Hamlet, a questão de um filho em relação a sua mãe, ao seu pai e ao sentimento que o Hamlet tem de que ele é obrigado a realizar uma coisa que o pai deixou para ele. Como uma espécie de maldição ou obrigação moral de vingar o pai que instaura um conhecimento que é meio maldito, de que a mãe ajudou a matar o pai e de que a mãe é traidora. Esse rolo de relação com pai e filho, eu acho Shakespeare muito bom para isso. Macbeth também. O filho que mata o pai, porque quer ser rei no lugar dele.
Não. Porque eu acho que, às vezes, a família pode ser um peso. Acho que, às vezes, as pessoas podem viver melhor sem a família. Acho que a família, na maior parte dos casos, é muito importante e construtivo. Mas não acho que a gente pode fazer essa afirmação.
Quando era criança, o tempo inteiro queria deixar de ser criança. Eu achava um saco ser criança. Agora, o que os pais devem fazer é arrumar coisas para fazer junto. Eu fui um pai muito presente. Levava para parques, cinemas. Levar para a escola, buscar é uma das coisas que eu aproveitei muito.
Para saber mais: Contra um Mundo Melhor – Ensaios do Afeto, de Luiz Felipe Pondé – Antologia de pensamentos do filósofo, famoso pelas críticas ao politicamente correto e a “um mundo que mente sobre si mesmo”.
Ed. Leya (www.leya.com.br), R$ 39,90
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