Publicado em 06/04/2021, às 05h42 - Atualizado às 05h50 por Camila Montino
Ana Carolina Ferreira prestou uma ocorrência policial contra Dr. Jairinho, na época em que ainda mantinham um relacionamento, agora, cinco anos depois, vizinhos da dentista denunciaram que ela e a filha do casal, uma adolescente, sofriam ‘violências, humilhações, insultos e ofensas’ por parte do médico, que está sendo investigado pelo caso do enteado, Henry Borel, de 4 anos, que faleceu na madrugada do dia 8 de março e ainda não teve a causa esclarecida.
De acordo com informações do O GLOBO, na época, uma ligação para a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), em junho de 2019, denunciava xingamentos e barulhos de objetos sendo quebrados no apartamento onde os três viviam, no condomínio na Barra da Tijuca.
A denúncia foi encaminhada para a Ouvidoria do Ministério Público do Estado do Rio, que enviou à 1ª Central de Inquéritos, que acionou o Conselho Tutelar da Barra. Segundo o documento assinado pela conselheira Elizabeth do Nascimento Silva Soares, na época foi feita uma visita à residência da família, mas a ex-mulher de Dr. Jairinho negou as denuncias relatadas pelos vizinhos.
Após a visita, Ana Carolina foi notificada e precisou comparecer à sede do Conselho Tutelar com a filha de 13 anos na época. A menina disse que o relacionamento da mãe com Dr. Jairinho era ‘normal’ e que, às vezes, eles chegavam a discutir. Na ocasião, a adolescente também negou tenha tenha presenciado a mãe sofrer violência por parte do médico.
Porém, em 3 de janeiro de 2014, Ana Carolina foi até a 16ª DP (Barra da Tijuca) denunciar que Dr. Jairinho ‘sempre foi violento’ e que sofreu diversas agressões por ele. Na época, Ana Carolina disse a policiais que o médico, com quem teve um relacionamento de 15 anos e dois filhos, estava ‘mais violento’.
Ao ser procurado pelo O GLOBO, o advogado de defesa de Dr. Jairinho negou qualquer tipo de violência por parte do médico. “Havia muitas brigas verbais, ocasionadas, inclusive, pela perseguição de uma ex-namorada ao casal. A própria filha foi ouvida no Conselho Tutelar e desmentiu qualquer narrativa que envolvesse agressão física, psicológica, afetiva, emocional do pai à mãe e/ou vice-versa”, disse.
Henry Borel, segundo o G1, não resistiu na madrugada da segunda-feira, 8 de março, na Barra de Tijuca, Zona Oeste do Rio. A causa ainda está sendo investigada pela Secretaria de Polícia Civil. No dia, o menino estava na casa da mãe, Monique Medeiros da Costa Almeida, e do padrasto, o vereador Jairo Souza Santos, o Dr. Jairinho (Solidariedade).
No laudo médico é relatado que a criança já deu entrada no hospital sem vida, sendo a causa uma hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente. A criança apresentava:
O pai, no depoimento, contou que recebeu uma ligação de Monique às 4h30 pedindo que ele fosse até o Hospital Barra D’Or, porque o filho não estava respirando. Ela contou a Leniel que fez respiração boca-a-boca em uma tentativa de reanimar a criança.
As médicas que atenderam o menino no hospital também foram ouvidas pela polícia e as três pediatras garantiram que Henry chegou sem vida ao local. A mãe, Monique Medeiros, e o padrasto, vereador Doutor Jairinho, também realizaram os depoimentos e houve divergências entre eles.
Para a equipe médica que tentou socorrer o menino, a mãe dele disse que havia acordado após ouvir um barulho no quarto. Ao chegar no local, ela contou ter visto o menino caído no chão. Nesta primeira versão, que consta no Boletim de Atendimento Médico (BAM), eles encontraram o garoto gelado, pálido e sem poder de resposta. O padrasto chegou a pensar que o menino estava em parada cardiorrespiratória e a família foi para o Hospital Barra Dor, na Zona Oeste do Rio.
Já o padrasto contou alguns pontos diferentes. O primeiro ponto de divergência foi em relação ao barulho citado pelo casal na noite em que tudo aconteceu. Durante o relato feito à polícia, nem a mãe nem o padrasto mencionaram terem ouvido um barulho vindo do quarto da criança. Ela afirmou que acordou por volta das 3h30 com o barulho da TV ligada e foi ver o filho — quando o encontrou desacordado. Já o Doutor Jairinho contou que ele e a esposa estavam assistindo a uma série no quarto de hóspedes para não incomodar o sono do enteado e adormeceram. Quando Monique acordou, foi até o quarto do casal e encontrou Henry já caído, com os “olhos revirados e mãos e pés gelados”. Desde a perda do menino, os policiais estão ouvindo testemunhas para tentar desvendar o caso.
A Veja ainda mostra que o médico e o vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, teria um histórico de agressão a ex-namoradas e aos filhos delas, todos da mesma faixa etária de Henry, e algumas delas já teriam sido relatadas para a polícia.
A revista Veja teve acesso a trocas de mensagens de Dr. Jairinho e depoimentos exclusivos, que mostram “um perfil de homem educado, gentil e generoso na aparência, mas que na intimidade exibe temperamento violento e perverso, beirando o sadismo”, diz a reportagem. A ex-mulher do vereador, a nutricionista Ana Carolina Ferreira Netto, com quem tem dois filhos, já registrou duas queixas na polícia: na primeira, em 2014, afirmou que, depois de uma discussão, ele teve um “ataque de fúria”, desferindo socos e pontapés, a ponto de ser hospitalizada; a outra, de 2020, cita apenas “lesões corporais”.
Tanto os depoimentos à polícia e os relatos feitos a Veja mencionam agressões a ex-namoradas e aos filhos delas, todos na mesma faixa de idade. Uma dessas ex-namoradas, com quem se relacionou entre 2014 e 2016 e mãe de um menino de 5 anos na época, esteve na delegacia e negou a ocorrência de maus-tratos. Mas uma amiga relatou que na época em que os dois se relacionaram, entre 2014 e 2016, o filho da namorada do vereador tremia ao ouvir o nome “tio Jairinho”. Segundo o depoimento, o menino de 5 anos também chorava ao ouvir menção ao vereador.
A amiga também disse ter conhecimento de episódios tenebrosos. Um deles foi a tentativa de Jairinho de dopar a namorada em um hotel. “Minha amiga acordou, grogue, e deparou com o menino chorando e o namorado o forçando a tomar banho de banheira”, lembra. Durante o relacionamento, o vereador arranjava motivos para sair sozinho com o menino, que voltava parecendo ter passado por “sessões de tortura”. Em uma ocasião, o menino teria chegado com o rosto inchado e desfigurado, olhos roxos e a explicação era que ele havia caído de cabeça. Em outra, apareceu com a perna fraturada na altura do fêmur e a justificativa era que tinha se prendido no cinto de segurança e tropeçado ao sair do carro. “Nas duas vezes, Jairinho o levou a uma clínica de conhecidos dele. Minha amiga estava deslumbrada e tinha medo por ele ser poderoso”, contou a mulher a Veja.
“Nas duas vezes, Jairinho o levou a uma clínica de conhecidos dele. Minha amiga estava deslumbrada e tinha medo por ele ser poderoso”, disse. Segundo ela, a ex-namorada ainda manteria contato com o verador até hoje e teria recebido um telefonema de Jairinho algumas horas após a morte de Henry, mas ele não fez nenhum comentário sobre o assunto.
Agressões também foram relatadas à Veja por outra ex-namorada de Jairinho, que prestou depoimento à polícia na companhia da filha, que hoje tem 13 anos de idade. Ela se relacionou com Jairinho entre 2010 e 2013 e também lembra que o vereador arranjava motivos para sair sozinho com a garota, que tinha 4 anos na época. Com o tempo, a menina começou a reclamar que ele torcia seus braços e pernas e lhe dava cascudos. “Passei muito tempo da minha vida me culpando e me sentindo péssima como mãe por não ter visto a realidade. Ele é um tipo de homem que cega, ilude, mente”, disse à reportagem.
Segundo a matéria, o episódio mais assustador foi quando a filha relatou que teria ido com o “tio” a um lugar que, pela descrição, assemelhava-se a um quarto de motel. A menina contou que o quarto tinha uma cama e uma piscina e Jairinho supostamente a orientou a despir-se. Na sequência, ele também teria tirado as roupas e ficado de sunga, entrando com a menina no box e ligando o chuveiro, onde teria batido repetidamente com a cabeça dela na parede. Ela ainda afirmou que ele teria afundado sua cabeça na piscina com os pés.
A mãe da menina conta que decidiu falar agora diante da morte de Henry e que recebeu um telefonema em tom de ameaça do vereador, com quem não falava há oito anos. O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel, frisa que o menino mudou depois que Monique foi viver com o vereador. Semanas antes de morrer, o menino havia começado a frequentar uma psicóloga, por causa da mudança de comportamento. “Meu filho, uma criança linda e feliz, passou a chorar desesperadamente para não voltar para a casa dela. Só queria ficar comigo e com os avós. No domingo, horas antes da morte, chegou a vomitar de tão nervoso quando o deixei no prédio”, lembra o engenheiro.
Henry já tinha reclamado com o pai que o “tio Jairinho abraça muito forte” e batia nele. O pai levou a queixa à ex-esposa, que disse ser invenção do menino e reflexo da separação. “Que mãe não ficaria desesperada para saber o que aconteceu, em vez de proteger o namorado? Não sei se ela age assim por medo ou por interesse”, diz o pai de Henry. A revista Veja também tentou falar com a mãe de Henry, Monique Medeiros, na casa de seus pais, onde ela estaria morando. Enquanto aguardava, a reportagem teria ouvido o pai de Monique dizendo que “a gente tem que falar a verdade sobre esse troço”. No entanto, eles não responderam perguntas, alegando que “não poderiam falar”.
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