Publicado em 04/12/2020, às 18h20 - Atualizado em 08/12/2020, às 07h00 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Ainda sem previsão do retorno presencial das atividades curriculares no país, diversas famílias seguem divididas sobre a decisão da volta ou não dos filhos à escola. Em meio à pandemia, ficam as dúvidas, incertezas e medos, tanto com a saúde física e mental, como com a perda de aprendizagem do ano letivo.
Em uma conversa com professores, pais, e pediatras, ouvimos os dois lados sobre quem é a favor ou contra a volta às aulas presenciais durante o período de pandemia. Apesar das diversas opiniões, vale reforçar que é superimportante o respeito e que a decisão cabe, principalmente, às famílias.
De acordo com o Dr. Paulo Telles, pediatra e pai de Léo e Nina, o retorno escolar já deveria ter acontecido. “Vários estudos europeus, e até daqui do Brasil, mostram que com protocolos de segurança a volta é segura para alunos, professores e funcionários das escolas. A abertura das escolas não aumenta o número de casos na sociedade, e sendo assim, não existe razão técnica para mantermos as crianças fora da escola”, explica.
Para Roberta Bento, mãe de Taís, colunista da Pais&Filhos, professora e criadora do SOS Educação, as medidas de segurança precisam ser seguidas. “É fundamental seguir todos os protocolos de segurança e abrir de acordo com a liberação dos especialistas da área de saúde. Escola sempre vale a pena. É importante dar a oportunidade para que as crianças voltem a sentir o gostinho de estar no segundo ambiente mais seguro e que faz parte da vida. É um dever de todos nós”.
Com a reabertura de outros setores da economia e não das escolas, Tanise Dutra, mãe de Sofia, Catarina e Maurício, idealizadora do Movimento Escolas Abertas (@escolas.abertas) e embaixadora da Pais&Filhos, acredita que a decisão do retorno cabe à família. Durante a conversa, ela reforçou ainda a importância das escolas se preparem com álcool gel, distanciamento, máscaras, entre outros, para o ano letivo de 2021. “As crianças precisam ter o direito de estudar, de socializar, de reencontrar os amigos. A chance da criança pegar covid na escola não é tão grande. Então, as crianças pegam menos, transmitem menos. Não vale a pena as escolas ficarem fechadas”. (Assista ao vídeo completo sobre o movimento no final da matéria)
Já para Marcelo Jorge Moraes Rio, pai de Juan Gomes, o retorno deve acontecer apenas quando a população estiver imunizada. “No caso da covid-19, trata-se de uma roleta russa, a criança pode transmitir para seus pais e avós ou até mesmo ela ter complicações já que temos visto pessoas jovens ficando gravemente doentes ou até mesmo vindo a óbito. Trata-se de priorizar o que é mais importante, e nesse caso, sempre será a vida”.
Daniela Correa, mãe de Lívia, acredita que ainda não é o momento de crianças pequenas voltarem a frequentar a escolapresencialmente. “Elas não sabem se comportar de maneira adequada para caso de prevenção do covid”, diz. No entanto, o mais viável para ela, no caso do retorno continuar sendo adiado, é o cancelamento do ano letivo do que passar o aluno para a série seguinte com aulas online.
“A vacinavai demorar para chegar, não adianta esperar, porque as crianças devem ser as últimas a serem imunizadas”, comenta Tanise. A partir do Movimento Escolas Abertas, ela reforça ainda mais a necessidade da volta às aulas: “As escolas precisam, sim, abrir no início do ano letivo de 2021”.
A Dra. Andrea Duarte Nascimento Jácomo, coordenadora do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Diretora da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal explica que, neste momento, a maior preocupação é com a comunidade que envolve professores e colaboradores. “Precisamos pensar num retorno seguro para todos com protocolose condições que permitam sua execução (distanciamento social, máscaras e pia para lavagem de mãos e dispensadores de álcool gel), diretrizes que fazem parte dos protocolos estabelecidos entre as autoridades sanitárias e associações de professores e pais”.
Sobre a vacinação em crianças, Dr. Paulo Telles explica que elas deverão ser o último grupo a ser imunizado por conta da realização de testes. “O retorno não pode estar vinculado a vacina. Primeiro porque nenhum estudo de vacina que está sendo feito aqui no Brasilinclui crianças, ou seja, elas só podem ser vacinadas após termos estudos mostrando eficácia e segurança da vacina em cada faixa etária. O segundo ponto, na hipótese de termos a vacina, segura e eficaz, as crianças serão, sem dúvidas, o último grupo a recebê-la. Porque a doença em crianças é comprovadamente mais leve e com taxa de óbito muito baixa”.
A pedagoga Priscila Oliveira ainda se sente dividida sobre a segurança de continuar no ensino remoto ou presencial. Apesar disso, ela destaca a importância de no próximo ano, seguindo todas as medidas necessárias, a possibilidade do retorno. “Eu sou de Santa Catarina. Aqui os casos estão crescendo muito! Pela nossa saúde física o remoto seria o ideal. Pela nossa saúde emocional, o presencial se faz necessário”, comenta.
Sem um certo ou errado, é importante que as famílias tomem a melhor decisão sobre o que fazer. O mais importante é ter empatia e respeito, principalmente, pensando em como passar esses valores para as crianças. “A escola, que é a rede de apoio mais confiável com que as famílias podem contar, é sempre a melhor opção para ajudar na retomada de dias mais leves. Quando os pais conseguem decidir sobre levar ou não os filhos de volta para a escola de acordo com suas crenças e valores, é mais tranquilo para as crianças se ajustarem. Tomada a decisão, o importante é não ficar se comparando ou se cobrando sobre estar certa ou errada. Diante do cenário de incertezas que ainda permanece, não tem como tomar a decisão correta. Só a decisão que mais ameniza as angústias que cada família está vivendo. A única possibilidade de acertar é focar no bem-estar da sua família e não julgar outras famílias pelas decisões que tomarem”, conclui Roberta Bento.
Assista ao vídeo:
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