Publicado em 09/03/2021, às 14h16 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
Uma pesquisa feita pela organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF) mostra que o Brasil está entre os 40 países mais perigosos para mulheres jornalistas. O relatório chamado “O jornalismo frente ao sexismo”, que foi divulgado na última segunda, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, prova que ser mulher e jornalista significa correr um risco duplo. “O perigo não está à espreita de jornalistas apenas nos ambientes clássicos de reportagem, ou nos novos campos virtuais -na internet e nas redes sociais -, está também onde elas deveriam se sentir seguras, em suas redações”, alerta o relatório da RSF.
A pesquisa foi feita com base em respostas de profissionais de 112 países, em cinco continentes. De todos os países que participaram, 40 foram considerados perigosos ou muito perigosos para as mulheres na profissão. O Brasil está na categoria de nação perigosa. O relatório considera como sexismo todas as formas de violência sexual e de gênero, entre elas discriminação, insultos, assédio sexual, toque, agressões verbais e físicas de natureza sexual, ameaças de estupro ou estupro.
As jornalistas especializadas em direitos das mulheres e aquelas que cobrem esporte ou política são as que estão mais vulneráveis à violência. Os resultados do relatório mostram que a web se tornou hoje o lugar mais perigoso para as jornalistas (relato de 73% dos participantes). Depois da internet, 58% dos participantes indicam o local de trabalho como o lugar onde foram cometidas as violências de gênero, a maioria por parte de superiores. A pesquisa também aponta que em 61% dos casos denunciados nada foi feito. E que apenas um de cada dez agressores perdeu o emprego.
O relatório também destaca que as jornalistas que se tornam mães são outra categoria vulnerável à violência. “Os contratos não são mais assinados ou não são renovados quando elas engravidam”, conta uma participante do questionário, que mora no Peru. Na França, a jornalista esportiva Clementine Sarlat contou ter sofrido perseguição quando trabalhava no departamento de esportes da France Télévisions, ao voltar da licença-maternidade. Isso porque foram descontados dias de sua licença do salário, embora ela tenha negociado períodos de trabalho remoto com seus superiores. Foi o gatilho para ela se demitir: “Eu disse a eles: ‘Vocês não punem os três quartos dos velhos que nunca vêm trabalhar. Eu trabalho em casa, tenho provas, e vocês me tiram dias pelas minhas costas?’ Eu decidi partir.”
O temor de ser prejudicada na carreira de alguma forma é uma das grandes razões que impedem as mulheres de levar para frente as queixas de assédio ou violência. O número das jornalistas vítimas de violência sexual e de gênero que não prestaram queixa chega a 65%. E quase metade delas diz que agiu assim porque não adiantaria nada reclamar.
A RSF também mostra o impacto dessa violência no próprio jornalismo e como o trauma das mulheres leva ao silêncio e reduz o pluralismo das informações. Além do estresse, da angústia e dos medos, a violência sexual e de gênero leva as jornalistas a encerrar suas contas nas redes sociais (consequência apontada por 43% dos participantes), mudar de especialidade (21%), ou até mesmo se demitem (21%).
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