Publicado em 17/11/2019, às 19h36 por Redação Pais&Filhos
Ana Cardoso é mãe de Anita e Aurora, jornalista e socióloga. Esse mês, ela nos convida a refletir sobre mudanças.
Há pouco assisti a um vídeo do Gustavo Tanaka sobre o movimento, ainda incipiente, de conscientizaçãoque estamos vivendo. Queremos nos alimentar melhor, entender o impacto do nosso trabalho na vida dos outros e na sociedade, ser mais gentis com as pessoas, os animais, o meio ambiente e com a gente mesmo e consumir menos.
Concordo com tudo. Há anos tenho feito yôga, lido poesia e tentado plantar pelo menos meus temperos em casa. E não é porque ouço e leio muito sobre estas questões. É uma necessidade que vem de dentro. Eu quero gerar menos resíduos. Quero deixar o mundo melhor para minhas filhas. Se possível, melhor do que era quando eu cheguei nele, há quarenta anos. Até me arrepio quando penso que sentia prazer e calafriosquando ia a uma ponta de estoque de sapatos e me enchia de pares de escarpins, que eu nem usava.
Como posso ter mudado tanto? Talvez a grande beleza do ser humano seja justamente essa, a nossa capacidade de transformação. Sermos orgânicos a ponto de nem nos reconhecermos em nosso passado. Desejos e sonhos são como calças com boca de sino ou pochetes, nosso interesse por elas passa. Um dia cobiçamos demais fazer determinada viagem, conquistar um cargo de chefia ou comprar um apartamento espaçoso. No outro, preferimos passar as férias no interior, com os primos, pedimos demissão e achamos que nada justifica um condomínio astronômico. Raul Seixas estava coberto de razão, somos metamorfoses ambulantes.
Os filhos, a família e os bons amigos são nosso melhor medidor de felicidade que existe. Se estiver tudo bem nesse círculo, todo o resto pode ser adaptável. Risadas, abraçose cumplicidade são o combustível ideal para percorrer qualquer sonho. Seja ele gigantesco ou minimalista, como está na moda hoje em dia.
Marcos Piangers é pai de Anita e Aurora, jornalista e palestrante. Esse mês, ele nos convida a refletir sobre sonhos que mudam.
O casal me perguntou se ter filhos não os obrigaria a abrir mão dos seus sonhos. Talvez sim, talvez não. Depende de quais são seus sonhos, depende de como será seu filho. Ele pode vir pra te ensinar coisas, te colocar em outro patamar de evoluçãode consciência. Então, seus sonhos mudam. Mas se seus sonhos permitem que seus filhos estejam junto, não vejo por que seriam um impeditivo pra qualquer coisa.
Nossas filhas nunca despertaram na gente aquele sentimento de “minha vida acabou”! Pelo contrário, jamais deixamos de realizar nossos sonhos por termos crianças pra educar. A saber, nosso sonho sempre foi trabalhar com algo que a gente gosta e poder viajar pelo mundo. Depois que a Anita chegou, continuamos tentando juntar dinheiro pra viajar. Todas as nossas grandes viagens foram feitas depois de termos lhos: Fernando de Noronha, Caribe, Tailândia, Londres, Portugalde motorhome. A vida não acaba quando um filho chega. A vida começa.
Um alpinista me contou: sofria para chegar ao cume de uma montanha quando encontrou uma família escalando juntos. Um casal e os lhos de menos de dez anos. “Como eles conseguem?”, perguntou aos pais. “Eles sempre fazem tudo conosco. Para eles é natural”, responderam. Não posso imaginar como seria escalar montanhas com crianças, mas posso garantir que com conversa e coordenação é possível conhecer cavernas na Ásia e mergulhar nas lagoas de Bonito.
Me parece que nossos sonhos sempre se adaptam ao momento que vivemos. Nossas prioridades mudam com o tempo. Esses dias li que a curva de felicidade tem um formato de U: somos felizes jovens, depois nos perguntamos se estamos fazendo as decisões corretas, entramos nas crises da meia idade, e com o envelhecimento vem um senso de realização. Olhamos pra trás e vemos que tudo deu certo. Que compartilhamos momentos bonitos com as pessoas que eram importantes pra nós. Todos deixaremos de realizar desejos. O cálculo que devemos fazer é se valerá a pena abrir mão de alguns sonhos, para realizarmos outros.
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