Publicado em 08/03/2022, às 12h56 - Atualizado às 12h59 por Sandra Lacerda, filha de Sandra e José Leonardo
O conflito entre Russia e Ucrânia, que se iniciou no dia 24 de fevereiro, tem causado medo em todos os ucranianos e principalmente em criançasque, muitas vezes, não entendem o que está acontecendo. Esse é o caso do filho de 3 anos de Anton Eine, um escritor ucraniano de ficção científica.
Em entrevista à BBC, Anton contou que ele, sua esposa e seu filho passaram os últimos dias escondidono estacionamento do subsolo de seu prédio em Kiev, capital da ucrânia e principal local de bombardeios.
Anton falou que o filho está preocupado com toda destruição ao seu redor e faz muitas perguntas sobre a situação. “Ontem, minha esposa desceu e, quando ela voltou, ele perguntou: ‘Mãe, eles atiraram em você?’ e ela disse ‘Não, querido’, e ele disse: ‘Eles vão atirar em mim? Eu não quero que eles façam bang-bang'”, contou o pai.
De acordo com o autor, muitos pais não sabem o que responder aos filhos quando eles perguntam sobre a guerra. “Alguns pais preferem dizer às crianças que é um jogo”, diz Anton.
Contudo, ele e sua esposa estão tentando falar a verdade para o filho deles, de uma maneira mais suave, adaptada à mente de uma criança de três anos. “Nós dizemos a ele que os soldados maus nos atacaram e os bons soldados, aqueles com a bandeira ucraniana, são os que nos protegem. Dizemos também que ele não precisa se preocupar com nada quando estamos no esconderijo”.
Essa diferença de posicionamento dos pais é evidente no comportamento dos filhos. Os desenhosdo filho de Anton não apresentam sinais de trauma, mas os desenhos de crianças mais velhas, que compreendem melhor a situação, mostram claramente que esses meninos e meninas estão sendo muito afetados.
Alguns pais tomaram medidas de proteção com as crianças. O escritor contou que algumas famílias costuraram pequenos crachás com o tipo sanguíneo de seus filhos em suas roupas e os estão ensinando seu endereço e os nomes dos pais, caso sejam separados.
“Como todas as estratégias, sempre que uma criança trouxer um assunto desconfortável, polêmico, tabu, a gente devolve a pergunta”, orienta Vanessa Abdo, embaixadora da Pais&Filhos, doutora em psicologia e CEO do Mamis na Madrugada, mãe de Laura e Rafael. Ou seja: se seu filho chegar em casa perguntando sobre a guerra, a melhor tática para começar o assunto é entender o que ele sabe e o que quer saber. Para isso, faça perguntas como: “Onde você ouviu isso?”, “o que ouviu sobre o assunto?”, “o que quer saber?”.
“Essa é uma maneira de fazer um diagnóstico do que a criança está falando. Entender o termômetro da profundidade da preocupação que essa criança está tendo. Logo depois, é importante acolher o sentimento da criança e explicar. Aí vem diferentes versões dependendo da idade”, diz a psicóloga. Vanessa orienta que, para crianças pequenas, você tente responder as questões usando metáforas e se apoiar em contos e histórias. Já para as mais velhas, explicar que a guerra realmente não é boa e deixar claro que você está por perto caso ela tenha mais dúvidas e queira conversar.
“No caso de crianças mais velhas, também é uma oportunidade de contextualizar em termo de conteúdo, de matéria. Quais são as relevâncias de estudar uma guerra. A importância de não esquecer o passado para mudar o nosso futuro. Então a próxima geração vai ser, ou deveria ser, a responsável por estratégias mais diplomáticas, de mediação de conflitos, de como a gente lida com os nossos conflitos no dia-a-dia. Então esses assuntos permeiam o nosso cotidiano”, avalia ela, mostrando como trazer o assunto a tona e ainda ensinar sobre tópicos importantes que ele aprenderia na escola.
Outro ponto levantado por Vanessa é a importância de mostrar para a criança que sim, isso está acontecendo, mas contextualizar a distância que estamos do problema, mostrando que a Ucrânia é bem longe de onde estamos. “Não é que a gente more em um país super seguro e não estamos expostos a nenhum tipo de violência, mas colocar em contexto o quão distante a gente é dessa realidade. Que apesar de ser bonita essa preocupação da criança, essa empatia, isso não faz parte da realidade dela”, conta.
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