Publicado em 25/01/2021, às 11h27 - Atualizado às 11h33 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Dois anos após a tragédia de Brumadinho, Diego Coelho, de 33 anos, relembrou todos os momentos da casa onde passou toda a infância e adolescência com muita dor. No dia 25 de janeiro de 2019, às 13h, quando o telefone tocou, era um amigo contando sobre o rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais.
Naquele momento, ele não sabia que a casa onde tinha vivido “os melhores momentos da vida”, como descreveu em entrevista ao G1, no Córrego do Feijão, havia sido destruída, nem que os tios dele, Márcio Mascarenhas e Cleosane Coelho Mascarenhas, donos da Pousada Nova Estância, eram uma das 270 vítimas da tragédia. Onze pessoas ainda estão desaparecidas.
“Quando cheguei lá, vi um cenário assustador, de guerra mesmo. Minha família toda foi iniciada em Córrego de Feijão, são quatro irmãos casados com quatro irmãs, toda família tem história naquele lugar. Todo mundo vivia junto, ao lado da pousada da minha tia. Depois que me lembrei que a rota de fuga passava pelo terreno do meu pai”, disse ao site.
No momento da tragédia, não havia ninguém na casa. O pai de Diego havia saído do imóvel cerca de 15 minutos antes do local ser destruído. Depois daquele dia, ele sabia que sua vida “não seria mais a mesma”. Ele, que era profissional de tecnologia, virou artesão e transformou a dor em arte.
“Eu não tinha conseguido voltar a casa da minha tia ainda. Passei boa parte da minha infância lá, e através da arte eu quis ressignificar tudo. Transformar a dor em arte mesmo. Comecei a recolher as madeiras dos escombrosda casa, fui criando as coisas e me apaixonei pela marcenaria. Nunca mais consegui ser o mesmo”.
A partir das madeiras do telhado e de outras partes destruídas da casa, Diego fez um quadro com as montanhas que avistava da janela da casa da tia. “O quadro tem um significado. Algo muito especial, que é justamente de transformação do que eu era para o que sou hoje, do que vivi para o que vou viver. Um pouco de história”.
Atualmente, de forma voluntária, Diego tem um ateliê e projetos sociais de futebol com crianças no Córrego do Feijão. Por oito meses, ele prestou auxílio para as famílias e bombeiros que trabalhavam nas buscas. “Passei a maior parte do tempo ali servindo os outros. Tentando fazer algo por eles. Não conseguia voltar ao que eu era ou fazia antes. Não dava. Agora, quero ensinar marcenaria para crianças e adolescentes de Córrego”. concluiu.
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