Criança

Seu filho tem déficit de atenção?

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Publicado em 10/07/2013, às 13h10 - Atualizado em 05/05/2016, às 11h10 por Redação Pais&Filhos


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“Tem que olhar no fundo dos olhos e repetir. Às vezes, até pedir que ela repita o que eu disse e perguntar: ‘Entendeu? Então me fala o que você tem de fazer”. Se uma mosca entra no quarto, lá vai embora a concentração. O irmão mais novo faz com facilidade os exercícios de matemática que ela tem dificuldades em resolver. E, o mais importante: dizer frases curtas. Sem muitos períodos. Ela se perde no meio de frases longas, tipo: ‘Vá tomar banho, depois você veste pijama e vem jantar’. Pronto, perdi minha filha. Não desconfiávamos de déficit de atenção porque ela conseguia passar horas vendo TV com muita concentração!”

A mosca voa, a voz da mãe chamando, a lição de matemática, o lápis do irmão na sala fazendo tarefas com facilidade, o som da TV que hipnotiza. Tudo tem a mesma intensidade para Ullya. O mesmo som.

Ullya é filha da blogueira Flávia Fiorillo, do blog Mamãe sabe Tudo. Ela foi diagnosticada aos 8 anos, no final de 2011, com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade). Os pais não desconfiavam de nada. A escola percebeu o comportamento diferente e chamou a família para uma conversa, pois o rendimento da menina não estava bom.

Foram encaminhados para uma avaliação multidisciplinar no Instituto CEFAC, onde primeiro descobriram uma deficiência do processamento auditivo (DPCA), o que significa que Ullya tem dificuldades de prestar atenção em um ambiente ruidoso: ela ouve com a mesma intensidade sons de um cachorro latindo na rua e a professora falando em sala de aula, por exemplo.

Depois de um ano sendo avaliada por uma equipe com profissionais diversos, como neuropediatra, psicólogo, pedagogo e fonoaudiólogo, foi diagnosticado o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Flávia chorou muito. Não queria que a filha fosse medicada. Tentou negar, se colocar contra, mas todos os profissionais indicaram a medicação para o tratamento de Ullya.

“A primeira dificuldade foi aceitar o diagnóstico de uma condição tão polêmica. Não faltam textos de teoria da conspiração, tratamentos dos mais diversos, muita baboseira online e escândalos da mídia”, desabafa Flávia. Difícil para a mãe também é a preocupação com a falta de estudos sobre os efeitos colaterais dos remédios no longo prazo. Agora faz bem, mas e se fizer mal lá na frente? Na dúvida, dá o medicamento apenas de segunda a sexta-feira, quando a filha vai para a escola.

Como saber se meu filho tem TDAH?

O transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos comportamentais com maior incidência na infância e na adolescência. Pesquisas realizadas em diversos países revelam que ele está presente em 5% da população mundial em idade escolar. Trata-se de uma síndrome clínica caracterizada, basicamente, por três sintomas: déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Mas nem sempre é preciso haver os três sintomas simultaneamente. Crianças e adolescentes diagnosticadas com TDAH têm dificuldades de focar em um único objeto, têm fácil distração (vivem “no mundo da Lua”) e não conseguem terminar atividades como deveres de casa. Além disso, apresentam facilidade em perder materiais escolares, chaves, dinheiro ou brinquedos. A criança ou adolescente que possuem o transtorno têm dificuldade de ficar parados, se levantam por várias vezes da cadeira na escola ou na hora do jantar, por exemplo.

Causa controversa

Um assunto controverso, com teorias diversificadas. Uma das principais correntes defendem que o TDAH seja um fenômeno biológico – ou um transtorno neurobiológico, funcional e hereditário (forma de diagnóstico americano, seguido pela maior parte dos profissionais brasileiros). A outra afirma que se trata de algo psicológico ou social, ligado à relação da criança com a família e o ambiente em que vive (forma de diagnóstico usado pela maior parte de profissionais da França).

Recentemente foi publicado um estudo que mostra uma diferença gritante em número de crianças com TDAH nos EUA (que possui 9% das crianças diagnosticadas) e a França (com 0,5%). Essa discrepância numérica pode ser explicada, segundo autores da pesquisa, pela forma com que o transtorno é diagnosticado – na França, há maior preocupação com a avaliação da família e do meio social em que a criança vive. “O  problema existe em todos os lugares, seja na França, EUA, Brasil. Mas podemos pensar que nos EUA, por exemplo, há uma pressão maior para o trabalho, os pais têm menos tempo para a educação e interação com crianças de 0 a 6 anos, fase importante na formação da identidade. Já em países nórdicos, existem leis que protegem mais a gestante, a licença-maternidade é bem maior. Os filhos americanos apresentam estrutura emocional mais imatura. São inteligentes, mas imaturos”, defende o neurologista infantil e colunista da Pais & Filhos Saul Cypel, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.

É biológico

Alguns especialistas acreditam que a herança genética seja o fator mais importante na causa do TDAH. Muitas crianças com o transtorno possuem familiares (pais, tios, avós, irmãos) com o mesmo diagnóstico. A incidência pode chegar até dez vezes mais em famílias de crianças com TDAH quando comparadas à população em geral. Segundo o livro “Manual dos Transtornos Escolares” (2013, editora Best Seller), filhos de pais hiperativos possuem maior chance de terem o transtorno.

Segundo a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção, o número total de casos no Brasil está entre 5% e 8% das crianças. Estamos mais próximos dos EUA, portanto. Em 60% dos casos, o transtorno tem diagnóstico tardio, acompanhando o indivíduo para a vida adulta. Eles enumeram alguns fatores que influenciam na tendência ao transtorno, todos associados à herança genética.

Fatores de influência para a TDAH (segundo a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção:

Hereditariedade: os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes maior do que na população em geral, o que chamado de  recorrência familial.

Substâncias ingeridas na gravidez: pesquisas indicam que mães com problemas com álcool têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram necessariamente uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

Sofrimento fetal: alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal, tinham mais risco de terem filhos com TDAH.  A relação de causa não é clara.

Exposição a chumbo: Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH.

Fatores psicológicos: Para o neurologista Saul Cypel, o Transtorno de Déficit de Atenção não tem origem biológica. Para ele, se a causa fosse biológica, não haveria exceção. “Se você coloca a criança em frente à televisão, ela fica horas! Super concentrada. Se sou míope, por exemplo, sou míope sempre – com prazer ou sem prazer. Se quiser jogar, vou continuar míope, do mesmo jeito que serei ao arrumar meu quarto. Biológico é biológico”.

No Brasil, há um uso de medicação muito inenso. Os diagnósticos aqui são realizados na maioria das vezes pelo modelo de questionário americano. “Não sou a favor da medicação, acho que tem que ser muito criterioso, tem que olhar muito a família, fazer uma terapia com a família. Quando você coloca esse tipo de diagnóstico, é preciso ter muito cuidado. Virou moda”, defende Dr. Saul.

A professora da Escola AB Sabin de São Paulo, Taís Andrade, mãe da Luiza, tem pós-graduação em distúrbios de aprendizagem e psicopedagogia e acredita que há abuso de uso de medicamentos no Brasil. Para ela, o tratamento ideal deve ter a união de escola, pais e médicos. “É comum que até os mais novinhos sejam tratados assim. É precipitado, não concordo. Elas estão explorando o seu mundo, se colocando… É complicado”, acredita a professora.

O papel da escola

Os professores da educação infantil hoje são mais preparados a perceber os sintomas e, precocemente, conversar com os pais. Além disso, são treinados para lidarem com as crianças com TDAH, ensinarem de forma eficiente, o que é um grande desafio.

Foi na escola que a Ullya, filha da Flávia, que o problema foi percebido e, graças à união da família, dos professores e diretores, e dos profissionais da saúde, a menina agora demonstra melhora. “É incrivelmente desgastante e frustrante sentar para estudar para provas com ela, por exemplo. Mas também existe o outro lado, chamado hiperfoco, quando ficam obcecados por algo, o que pode ser positivo. Ullya agora está obcecada com vôlei. Ultimamente, as notas dela começaram a melhorar muito (desde o diagnóstico), e com o suporte das professoras e corpo docente, estamos todos apoiando a Ullya”, finaliza a mãe.

TDAH na escola

Segundo o mestre em educação pela Framingham State University, Dr. Gustavo Teixeira, no livro “Manual dos Transtornos Escolares”, alguns sinais podem indicar que a criança sofre do problema:

  •  Deixar de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades;
  • Ter dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
  • Parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra;
  • Não seguir instruções e não terminar seus deveres escolares. Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  • Apresentar esquecimento em atividades diárias;
  • Falar muito;
  • Dar respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
  • Ter dificuldade para aguardar a vez;
  • Interromper ou se meter em assuntos dos outros (por exemplo: intromete-se em conversas ou brincadeiras) etc.

Diagnóstico – o que fazer?

O diagnóstico de TDAH é essencialmente clínico. Não existem exames laboratoriais ou de imagem que o façam. A investigação envolve detalhado estudo clínico por meio de avaliação com os pais, com a criança e a escola. A avaliação com os pais deve abranger um histórico da criança desde a gestação até os dias atuais.

O tratamento pode envolver medicamentos (estimulantes) e intervenções psicoeducativas e psicoterapêuticas (educação e aprendizagem dos pais, professores e paciente acerca do transtorno).

No tratamento, gestos simples como colocar a criança próxima ao quadro negro em sala de aula e longe de janelas já podem ajudar.

Há também grupos de apoio a familiares e portadores de TDAH, formado por médicos, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas familiares, fonoaudiólogos, psicopedagogos e demais profissionais de saúde mental também participam dos encontros e reuniões.

No Brasil, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) é a maior organização brasileira de portadores, familiares e profissionais da educação e da saúde mental.  http://www.tdah.org.br/

Crianças diagnosticadas devem receber tratamento – seja de medicamentos e/ou de terapia – pois, se não bem cuidadas podem apresentar uma série de prejuízos ao longo dos anos, como perda de autoestima, tristeza, falta de motivação, episódios depressivos e, no extremo, podem se tornar adultos anti-sociais e inseguros.

Mas, quando tratadas, as crianças se tornam adultos e profissionais normais. O jornalista e escritor Gilberto Dimenstein foi diagnosticado tardiamente com o transtorno. Ele falou em entrevista a Pais & Filhos em 2007 que começou a enfrentar problemas ainda jovem. Durante a época da escola, ele chegou a ser considerado semi-analfabeto. “Era uma sensação horrível, como se eu estivesse na 25 de Março em véspera de natal. É uma coisa enlouquecedora”.

O jornalista descobriu o problema bem mais velho e o médico lhe indicou a medicação. O filho mais novo de Dimenstein também foi diagnosticado com TDAH e toma remédio. “Meu filho realmente melhorou, mas ele também começou a se auto-disciplinar. Isso é difícil, ainda mais para quem não sabe. É como tentar deslizar no gelo”.

Consultoria: Neurologista infantil e colunista da Pais & Filhos Saul Cypel, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.

Livro “Manual dos Transtornos Escolares: entendendo os problemas das crianças e adolescentes na escola”, 2013, de Gustavo Teixeira, Editora Best Seller LTDA.


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