Publicado em 11/10/2021, às 05h51 - Atualizado às 07h38 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
Antigamente, o bebê considerado bonito era o bebê gordinho. Nesta sexta-feira, 11 de outubro, Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, é importante lembrar que uma criança ‘cheinha’ não é sinônimo de criança saudável. “Era comum vermos crianças gordinhas alguns anos atrás, que hoje se tornaram adultos com sobrepeso ou obesos. A obesidade gera uma inflamação no corpo da criança. Muitos pais pensam que é só esperar chegar a fase do estirão para que o filho volte ao peso ideal, mas essa atitude deixa a criança inflamada por mais tempo, o que pode comprometer o desenvolvimento, gerar puberdade precoce e até uma menstruação precoce, no caso das meninas”, explica Flávia Fernandes, filha de Vagner e Odilma, nutricionista da Clínica Ravenna e especialista em nutrição clínica.
Os estudos apontam um dado preocupante: conforme dados do Ministério da Saude, a estimativa é que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade. A doença afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas no Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde. Nessa faixa-etária, 28% das crianças apresentam excesso de peso, um sinal de alerta para o risco de obesidade ainda na infância ou no futuro. Entre os menores de 5 anos, o índice de sobrepeso é de 14,8, sendo 7% já apresentam obesidade.
Os números aumentam na mesma proporção em que as crianças são expostas a uma alimentação errada e ao sedentarismo, principais causas da obesidade infantil. “Por várias razões, as crianças estão gastando menos energia e consumindo mais calorias”, explica o endocrinologista pediátrico Hilton Kuperman, pai de Eduardo e Arthur.
Outro fator importante é a genética. De acordo com o endocrinologista, crianças com pais não obesos têm 8% de chance de se tornar um. Já quando apenas um deles tem excesso de peso, este percentual sobe para 30%. E quando os dois têm obesidade, o número aumenta para 80%.
Além da genética, do sedentarismo e de uma alimentação ruim, não se pode esquecer dos fatores sociais e comportamentais que também contribuem para o aumento do peso infantil. “Todo o ambiente em que a criança está inserida acaba influenciando a questão da alimentação saudável, como a casa e a escola”, diz a psicóloga Bruna Puga, filha de Marilene e Wagner.
Segundo Flávia, o primeiro passo para evitar que seu filho seja obeso é pensar em como a própria família se comporta em relação ao padrão alimentar. “A criança vai acompanhar o contexto familiar. Os pais são os maiores exemplos também na alimentação. É importante entender como a família se porta, se permite o consumo de açúcar e sal antes da criança completar 2 anos de idade, por exemplo”.
O acompanhamento com um pediatra deve ser feito regularmente desde o nascimento do bebê. “Consultas periódicas com o pediatra vão favorecer o diagnóstico precoce do excesso de peso. A percepção familiar é muito contaminada. Até pouco tempo, criança gordinha era criança saudável”, alerta a endocrinologista Rosana Radominski, mãe de Guilherme e Aline.
E o cuidado deve começar antes mesmo do bebê completar 1 ano. “Fatores como o controle de peso da mãe durante e antes da gestação, a amamentação exclusiva até os 6 meses e a introdução precoce do açúcar influenciam muito para que a criança tenha ou não obesidade no futuro”, explica Flávia.
É importante incluir a criança antes e durante o preparo da refeição para que ela entenda o que está comendo e se interesse pelo alimento. “Dá para levar as crianças para a feira, conhecer uma horta para ter contato com novos alimentos, colocar os filhos para cozinhar junto com os pais”, indica Flávia. Segundo a especialista, isso tudo faz com que a criança melhore sua interação com a comida, além de ter vontade de comer o que preparou. Em casa, também vale explicar que comer bem apenas para ser magro é errado. “A criança precisa entender que comer alimentos nutritivos faz bem para o corpo dela. A pressão extrema para ser magro também não é saudável para os pequenos”, defende a especialista.
A obesidade traz complicações parecidas com aquelas que encontramos nos adultos. O que muda, em alguns casos, são as manifestações. É comum excesso de gorduras no sangue (colesterol ruim e triglicerídeos), baixo colesterol bom, resistência à insulina (predisposição à diabetes no futuro), hipertensão arterial, problemas pulmonares e articulares, asma, depósito de gordura no fígado. “As complicações cardiovasculares vão se manifestar no futuro”, aponta a presidente do SBEM.
Por isso, em nome da saúde, é preciso procurar um profissional que ajude com medidas que vão reduzir de forma progressiva o peso da criança. Exames e orientações de melhoras na alimentação e atividade física fazem parte do pacote. “A prática de exercícios deve ser aquela que a criança goste, algo gostoso e atraente. Se não, é remédio amargo”, fala Kuperman. Em resumo, o melhor conselho é o exemplo. Se os pais não têm bons hábitos alimentares, não praticam atividades físicas, não dá para esperar uma atitude diferente dos filhos.
Saber dos problemas que o excesso de peso acarreta é importante para a criança. “A forma de abordagem depende da sensibilidade de cada uma”, aconselha Kuperman. Já Rosana Radominski, afirma que todos devem trabalhar juntos e que proibir, assustar e transferir a responsabilidade para a criança não resolve. “Quem cria o ambiente obeso é a família e a sociedade. A criança obesa não entende a diferença entre ser magro e gordo”, completa a profissional.
Segundo a psicóloga Bruna Puga, do ponto de vista psicológico, as crianças acima do peso podem desenvolver uma baixa autoestima, distúrbios ligados à imagem corporal e outras questões. “Os pais devem dar suporte a essa criança verificando, entendendo e ouvindo as possíveis queixas ambientais”, afirma a psicóloga.
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