Publicado em 10/02/2022, às 08h55 - Atualizado às 09h02 por Cecilia Troiano
Sempre existiu troca de ideias entre pessoas que compartilhavam de vivências, momentos de vida ou experiências semelhantes. No caso das mães, por exemplo, é muito usual desde o positivo da gravidez começarem os compartilhamentos de ideias, dividir como está sendo o momento, pedir dicas, contar como se sente e por aí vai. Provavelmente isso era uma prática desde os tempos mais remotos e segue sendo uma verdade hoje. A única mudança são os canais e velocidade em que essas trocas ocorrem.
Antes, mais espaçadas, mais lentas e mais dependentes de contatos físicos ou cartas. Hoje acontecem em todos os espaços, sejam físicos ou virtuais. Em questão de segundos, uma enxurrada de opiniões de uma mãe para outra se multiplicam. Experimente colocar qualquer comentário num grupo de WhatsApp sobre, por exemplo, a dificuldade de introduzir alimentos sólidos na alimentação do bebê ou fazer algum comentário sobre a escola ou pedir dicas de programas para se fazer no final de semana com as crianças. Uma lista de dicas, opiniões, críticas e sugestões pulam na tela.
É aí que fico pensando nas dores e delícias dessa facilidade de acessar as comunidades de mães. Do lado das delícias, penso em pelo menos duas delas. A primeira tem a ver com proximidade e cumplicidade. Ao ver tanta gente opinando, seja ajudando ou até atrapalhando, há um claro sentido de me sentir, como mãe, próxima de outras mães, cria-se no mesmo momento uma vinculação, mesmo que eu nem conheça aquela mãe. Por vivermos as mesmas coisas, é instantânea a conexão.
Trocar ideias sobre um tema em comum tem esse poder de encurtar distâncias, o que é maravilhoso. Não nos sentimos sozinhas, há mais gente que sofre do mesmo mal que eu ou ri à toa como eu. Somos unidas pelas experiências que compartilhamos. Esse é o lado delícia das comunidades de mães. Uma outra delícia é efetivamente conseguir responder às minhas inquietações e ter dúvidas respondidas. É um “Google” mais qualificado, pois responde não apenas como um buscador qualquer, mas como um que tem a experiência vivida.
Mas tem também o outro lado das comunidades de mães, as dores que elas geram. Aqui também penso em duas, a comparação e a imitação. No caso da comparação é aquele sentimento que temos quando os comentários suscitam em quem os recebe uma sensação de estar “devendo”. “Nossa, o filho dela tem 3 meses e já dorme a noite toda. O meu tem 3 anos e ainda segue me dando um baile à noite!”; “Eu deveria ser mais como essa mãe que vai na academia antes dos filhos acordarem…”; “Nossa, perto dessa mãe me sinto uma mãe pouco atenciosa…”.
É quase impossível não termos nessas comunidades, em algum momento, uma sensação de fracasso como mãe, como se nunca estivéssemos à altura dos padrões “perfeitos” que aparecem nos grupos. Outra dor das comunidades é que, pela facilidade de acessar esses espaços, muitas vezes nos precipitamos e antes de pensarmos como eu lidaria com um novo desafio, já saímos jogando perguntas no grupo. Ou seja, abro mão de pensar o que eu faria para lidar com a situação, deixo de ouvir minha intuição e já recorro a respostas prontas, que podem ou não ser as melhores para a minha dinâmica com o meu filho.
Não estou aqui pregando o fim das comunidades, ao contrário, elas estão aí e cada vez são mais relevantes. O que acredito, porém, é em saber usá-las de forma adequada, para serem nossas aliadas e não nossas competidoras. Como dizia uma antiga propaganda: “Comunidades: sabendo usar não vai faltar”.
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