Publicado em 10/09/2014, às 21h00 por Tatiana Schunck
Por que será que nos incomodamos tanto com as crianças que não são fofinhas, meigas, sorridentes, extremamente calmas e felizes quase o tempo todo? Criança é uma crítica (gratidão à artista inquieta Carmen que me ensinou assim), por si só, ela é uma crítica. Eu completaria dizendo que é uma crítica que anda e te faz cansar feito caminho inesgotável. Quanto mais você tenta “consertá-la”, maior a distância entre você e a criança. E maior o cansaço de frustração pelo nocaute. A criança “não perfeita” não nos deixa confortável quando não cumpre as regras da criança feliz. Isso acontece quando você sorri e ela não sorri de volta, quando você faz um cuti-cuti e ela não gosta e reclama, quando você quer conversar com outro adulto e ela implora por atenção… E por aí vai. Criança não é alegoria, não, minha gente.
Quando você se torna mãe e pai tem a grande chance, dentre outras, de aprender a ficar mais em silêncio diante desse ser criança para vê-lo de fato. Para ouvi-lo de fato, para conhecê-lo de fato. E, de fato, não sabemos quase nada sobre esse misterioso período inicial de vida. Sabemos, mas sabemos até demais no quesito informação e de menos no quesito experiência. Fora os diagnósticos terríveis que criamos para cada um destes seres. Se não sorri de volta, está bravo. Se grita enquanto você quer conversar, é mal educado, ou revoltado, ou a mãe não dá atenção nunca e o deixa abandonado. Se obedece a mãe, é lindo!
Parece-me cruel a forma absolutamente rígida com a qual nos relacionamos com as crianças. Estou generalizando, eu sei, mas não é de um tantão assim? O quanto admitimos o tempo da criança em nosso tempo? O nosso tempo é uma boca guilhotinada com dentes de planta carnívora que come o “devir” daquilo que seria para ela, a criança. É claro que enquanto escrevo não me ausento desta tarefa que os adultos levam muito a sério: educar as crianças, o nosso futuro! Um viva à nossa derrota! Mas,alguns de nós se esforçam para ver essa descida sem controle porque é íngreme demais. Temos que reconhecer as minorias que se fortalecem e trocam, de fato, as suas experiências. Sem medo de dizer o quanto já errou. Outro viva aos erros que estão na luz!
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