Publicado em 23/04/2020, às 15h10 por Regina G Politi
Ócio é uma palavra que tem um significado negativo em geral, mas ele foi ressignificado a partir do lançamento da obra abaixo, no ano de 2000.
Domenico di Masi, sociólogo, escreveu o livro chamado “O ócio criativo” há 20 anos, e na época foi uma grande novidade. Ele disse: “O ócio não é tempo jogado fora, é tempo de hibernar, refletir, contemplar. Trabalhar 12 horas por dia, 7 dias por semana, vai prejudicar o desenvolvimento do indivíduo e de uma sociedade, pois vai gerar mais desequilíbrio e desajuste psicológico e social”.
Enfim, na época foi uma provocação, mas tal ousadia intelectual, entretanto, foi fruto de pesquisas e estudos científicos feitos por ele. Foi Domenico que introduziu o conceito de ócio criativo, ou seja, aquele que diz que “não fazer nada” é favorável desde que seja por períodos intercalados no tempo. Temos que incluir este tempo nas nossas agendas. Tempo de se isolar, de “olhar para si” e observar ao seu redor e o mundo, fazer um balanço, esfriar e descansar a mente com o “nada para fazer”. Apenas desfrutar.
Agora, no momento em que vivemos, o mundo parou – ou seja, estamos enfrentando o ócio compulsório, pois estamos com tempo livre pelo cancelamento da nossa agenda, sempre tão corrida e sobrecarregada. E como lidar com este tempo sobrando?
Como não deixar o ócio virar um ócio depressivo, mas sim transformá-lo em ócio criativo?
Primeiramente aproveitar o ócio para crescer culturalmente: lendo mais, ouvindo música, assistindo programas de conteúdo, filmes, palestras e talks inteligentes online. Hoje com a tecnologia é fácil aprender à distância e aumentar a cultura literária, musical, científica, religiosa, artística ou o que mais você preferir.
Aumentando a nossa cultura, nos enriquecemos como ser-humano, nos ampliamos e isso é um verdadeiro remédio (sem efeitos colaterais!) contra o tédio, o desânimo, a depressão e até a violência doméstica, pelo excesso de convívio e tensão relacional.
Esse tempo de reclusão consigo mesmo de desaceleração e descompressão, nos ajuda a construir nossa sabedoria, evitando os excessos de trabalho, de consumo, de eventos , e tantos outros que estamos habituados a fazer no piloto automático, na correria desenfreada do dia a dia da vida contemporânea que é extremamente acelerada cheia de compromissos.
Relaxar, se afastar para ver a “ilha”, ou seja, nos observar de longe, em perspectiva. Ver a floresta e não só as árvores ao lado. Esse é um exercício fundamental que precisamos começar a praticar. É um compromisso consigo mesmo de análise e sedimentação.
Temos que ter limites para tudo, e até mesmo para as coisas boas da vida. Os excessos são danosos em geral. Ter uma agenda saudável não só biologicamente, mas psíquica e emocionalmente, vai trazer benefícios de imediato, quanto mais no longo prazo.
Experimente o ócio criativo, cultive e usufrua este tempo para enxergar e privilegiar o essencial da vida, afastando-se do supérfluo e desnecessário.
Você poderá se tornar mais criativo a partir disso, tanto na teoria, no campo das ideias, quanto na prática do seu cotidiano.
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