Publicado em 29/04/2014, às 21h00 por Ligia Pacheco
Ouvi esta história de uma leitora e compartilho exatamente por parecer muito comum, repleta de semelhanças com o nosso cotidiano, do tipo que facilmente passa despercebida diante dos nossos olhos. No entanto, há nela um alto grau de periculosidade. A história, real, nos leva a refletir, imediatamente, sobre ‘o que’ e ‘como’ temos nos comunicado com nossos filhos.
Três irmãos moravam numa casa. No jardim, havia uma frondosa árvore que atraia diariamente famílias de saguis. As crianças adoravam brincar, rir das macaquices e alimentar os bichanos. Era uma alegria! Mas a mãe, com medo de doenças, ameaçava com braveza colocar todos de castigo se soubesse que algum deles tivesse tido algum contato com os saguis.
Um dia, o filho mais velho desobedeceu e foi mordido. Temeroso da bronca e do castigo, contou apenas à irmã menor, que também teve medo de contar à mãe. Logo o menino caiu doente. Sintomas de náusea, vômitos, espasmos musculares, alucinações, insônia, episódios de violência. A irmã caçula, em prantos, contou aos pais da desobediência. Tarde demais. A raiva já havia tomado o menino, que logo morreu. Como se não bastasse, antes de morrer, em um dos ataques sintomáticos da doença, o menino mordeu a mãe, contaminando-a com o próprio veneno. Que fim! Que história! Análises não lhe faltam. Mas, vamos focar a comunicação, buscando levantar elementos para melhorá-la.
1. Não basta proibir ou impor. A comunicação deve ser bem completa. Uma regra, por exemplo, não deve vir isolada de seu princípio. Desde pequeno é importante saber o porquê se faz ou se deixa de fazer algo. Assim, ficará mais fácil obedecer, lidar com a tentação e a impulsividade da infância.
2. A comunicação deve se dar em via de mão dupla. Os filhos não podem ter medo dos pais. Respeito sim. Quando a criança nos conta algo, a nossa reação dirá se iremos manter uma comunicação aberta e de confiança ou bloqueá-la, impedindo a transparência dos fatos e dos sentimentos. Monólogos verticalizados não são educativos. Diálogo sim, e sem berros, ameaças, persuasão ou poder.
3. Aprenda a ouvir a necessidade da criança e o porquê faz o que faz. Corrija sim, mas seja para ela um apoio.
4. Tudo é interpretação, inclusive o que se é comunicado, pois depende das construções mentais de quem ouve. Assim, ao falar com seu filho, procure ao máximo entender a partir da cabeça dele e não da sua. E sempre lhe peça para dizer com as próprias palavras o que foi dito e faça os ajustes necessários.
5. Atente-se à comunicação corporal. Muitas vezes a boca diz algo e o corpo diz diferente.
Em suma, preste atenção às regras e aos princípios que as sustentam, à clareza das mesmas, ao tom e à entonação de voz usada e à postura corporal. Olhe-se em comunicação, dialogue e aproxime ‘o que’ e o ‘como’ tem comunicado com o ‘o que’ e ‘como’ tem sido recebido. Este investimento pode valer a vida!
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