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O nome dela é Dandara

É fundamental apresentar referenciais históricos e ancestrais na criação dos filhos - Shutterstock
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Publicado em 22/07/2021, às 11h17 por Toda Família Preta Importa


**Texto por Claudia Walleska, escritora, compositora, mãe de Malik e Bruk, militante negra, professora e enfermeira sanitarista. Também é cofundadora do coletivo de escritoras negras “Flores de Baobá” (@floresdebaobaescritoras) e coordenadora da pasta em saúde no Instituto AfroAmparo e Saúde (@institutoafroamparoesaude)

É fundamental apresentar referenciais históricos e ancestrais na criação dos filhos (Foto: Shutterstock)

Lá estava ela em seu primeiro dia deste ano escolar, em um novo bairro. “Uma nova escola a encarar”, pensava ela, com todos os receios, preocupações e ansiedades derivadas de sua personalidade e idade adolescente.

— Filha, venha cá. – disse o pai, que a esperava na sala com sua mãe.

— E aí preparada querida, nova escola, tudo novo, legal né?! – diz a mãe.

— Sim! Estou animada para essa escola nova.

— Você está linda e é muito inteligente, tem tudo pra se dar bem nesta escola. Não esqueça, hein? – Quem é você? – pergunta o pai.

— Dandara Oadq.

— Que nome diferente, de onde vem? – indaga a mãe.

— Da beleza da minha ancestralidade africana.

— Seus pais são africanos então? – Diz o pai zombando.

— Não somos afrodescendentes, já ouviu falar?

E todos riem das possibilidades brancas que ela provavelmente passará.

— Vai lá filha, qualquer coisa liga, o celular está carregado?

— Sim mãe está.

— Te amo, boa aula meu amor.

— Também te amo pai, até a volta.

Lá vai Dandara, com uma postura radiante, esperando uma fala preconceituosa ou uma brincadeira maldosa. Lá vai Dandara preparada pra guerrilha. O dia foi longo, conheceu algumas pessoas que foram educadas, contrariando as expectativas, sua e de seus pais, pelo menos no dia de hoje.

A escola ficava perto do metrô que ela pegava para ir pra casa. Voltou com dois colegas de sala que também usavam metrô pra ir para suas casas. No caminho vieram conversando:

— Você mora aonde? – Pergunta Dandara.

— Moro próximo a estação Parque Dom Pedro e você?

— Moro na Bela Vista. Ainda estou conhecendo a região aos poucos.

— Dandara, você conhece esta região da Liberdade – Japão, bairro onde fica nossa escola? – antes que ela respondesse, a colega continua – Sabia que é um bairro onde tinha muito escravos e muitos morriam buscando liberdade, por isso o nome.

— Sim é verdade – continuou o outro colega – os escravos japoneses.

Um silêncio pairou no ar e a Dandara olhou a outra colega que também assustou-se com a resposta do amigo que falara com convicção. E começaram a rir. O amigo, não se atentando ao erro perguntou:

— Qual a graça?

— Desculpe é que sua resposta foi muito espontânea e minha reação foi igual. Pelo que eu sei este bairro da liberdade era, originalmente, um bairro de negros, abrigando organizações de militância negra, como a Frente Negra Brasileira, um grupo bem forte pra época. Meus pais me contaram que aqui, neste bairro, há muito tempo, se localizava uma famosa forca, aliás, a praça da Liberdade era chamada de Largo da Forca e era utilizada para a realizar enforcamento de muitos negros. Parece que o nome “Liberdade” surgiu como uma referência a abolição da escravatura ou que morrer, naquela época, nas condições que os negros viviam, era um ato de liberdade.

— Nossa que interessante, não sabia dessa conexão. Eu venho estudar aqui faz anos e não imaginava o motivo do nome do bairro, obrigada Dandara.

— Pois é, o bairro da Liberdade foi marcado por fatos sombrios, como os enforcamentos na Praça da Liberdade. Só fui saber quanto teve a polêmica da mudança do nome de Liberdade para Liberdade-Japão.

— Ainda bem que hoje vivemos em um país melhor né? – diz o colega.

Um silêncio paira neste momento, um silêncio desconfortável e eterno e ele continua.

— Não melhorou muito, melhorou um pouco. Precisa melhorar muito mais – diz o colega meio sem graça com a fala anterior. Dandara ri e concorda com o olhar.

— Foi bom te conhecer Dandara – continua o colega.

— Verdade. – diz a outra estudante.

— Digo o mesmo, hoje foi um bom “primeiro dia”.


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