Publicado em 13/05/2022, às 09h41 - Atualizado às 09h44 por Toda Família Preta Importa
**Texto por Glaucia Batista, Servidora Federal, licenciada em História e Economista pós graduada em gestão pública. Mãe de Thales e Breno. Criadora do @humaninhosTDL, um blog sobre maternidade atípica que trata do desenvolvimento da linguagem e aprendizagem na infância sob a perspectiva da família. Embaixadora do @ClubinhoPreto e da RADLD.org.
Sou uma mulher negra, casada com um homem negro e somos os pais biológicos de dois meninos negros. O nosso mais novo é autista, portanto considerado uma pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais. Começo com esta apresentação para nos localizarmos socialmente e fundamentar o que direi a seguir. Eu e minha família vivemos sob a intersecção do capacitismo e do racismo. Ambos os fenômenos se manifestam ora de forma intensa, ora de forma sutil. Algumas pessoas não conseguem distinguir esses eventos ou identificar como eles afetam a subjetividade de pessoas negras. Vou tentar exemplificar.
É comum uma criança negra se odiar ou se menosprezar enquanto cresce num país como o Brasil. Falta representatividade nos lugares de poder. Sobra representação em posições de subalternidade. Uma criança não nasce sabendo que é negra. E essa consciência geralmente se forma por meio de experiências dolorosas; frequentemente se percebe enquanto negra a partir de um discurso de desumanização ligado a agressões contra a sua imagem e habilidades, ainda durante a fase escolar. Nem todo mundo consegue fugir dessa percepção. O auto ódio se instala e é projetado no outro. Por sua vez, a criança branca se descobre branca em lugar de vantagem. Lugares onde ela é parte de uma maioria que está confortável com seus privilégios.
Esta realidade é reiteradamente convertida em imagens e memórias atreladas ao negativo. E crianças autistas são visuais. Muitas delas, sem oralidade, usam imagens para se comunicar. Recursos estes ainda com pouquíssima representatividade em salas de terapia, e aplicados por profissionais de saúde majoritariamente brancos.
O tal do “anjo azul”, como equivocadamente alguns insistem em chamar os meninos com Transtorno do Espectro Autista, sempre tem pele branca. Basta buscar por “menino autista” na internet. Onde está o meu pretinho? Enquanto pergunto, alguém grita lá do fundão que somos todos iguais e que não devemos falar de maternidade atípica preta pois isso desvia a atenção da luta anticapacitista. Mas como posso ignorar nossos atravessamentos? Sou a mãe que sempre surpreende quando chega com o pai da criança em uma consulta. Sou eu a mãe que faz o terapeuta arquear as sobrancelhas quando respondo que sou economista na anamnese. Sou eu que causo incômodo quando converso de igual consciência sobre o quadro clínico do meu filho. Sim, eu estudo sobre o assunto e consigo processar informações complexas. Esperam menos de nós. E eu percebo que o mundo espera menos do meu filho também. Ele, nem mesmo equivocadamente, é lido como anjo.
Seja pela trajetória de exceções ou pelo caminho da grande maioria, o racismo encontra suas vias para atingir uma mãe atípica negra. Os mesmos criadores do auto ódio que distorcem a percepção de valor da pessoa negra sobre o próprio corpo, ao suprimirem a presença dos nossos filhos pretos com deficiência das narrativas de empoderamento, auto aceitação, potencialidades e talentos revelados, abalam a nossa fé e disponibilidade de lutar por eles. Em nossa sociedade, o trabalho braçal do cuidado é ocupado majoritariamente por mulheres negras. O que nos obriga escolher entre o assistencialismo e a maternidade atípica ou trabalhar e delegar as demandas da criança. Acompanhar os tratamentos, estudar sobre o diagnóstico, oferecer ambiente estimulante em casa. Em que momento?
Culpa, sensação constante de inadequação, sobrecarga física e mental. Sentimentos comuns à mães atípicas, porém potencializados pela subjetividade do racismo. Não podemos ignorar esta interseccionalidade. Falar sobre isso ajuda na compreensão coletiva da dor e eventualmente gera a perspectiva de que é possível supera-las. Não ter espaço para compartilhar estas realidades favorece a invisibilidade e a desumanização da nossa maternidade.
Eu construí um espaço de acolhimento nas redes sociais. Contudo, o controle sobre o ouvinte é apenas uma aposta na qual a moeda de troca é a minha habilidade com a comunicação. Por vezes, penso em parar de compartilhar minhas ideias e relatos por me sentir exposta demais, afinal, “já somos pretos” e não deveríamos mostrar vulnerabilidades que podem ser usadas contra nós.
Sou a mãe escritora de dois meninos com atraso de linguagem tentando reconstruir no imaginário dos meus leitores e a percepção de quem nós realmente somos. Uma família unida, armada de amor e força ancestral, que insiste em dar cor e lançar positividade a essas experiências de maternidades atípicas e bastante comuns.
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