Publicado em 30/06/2020, às 08h31 por Bianca Sollero
O mundo polarizado que não aceita ambiguidades e desmerece o “meio” nomeando-o de “em cima do muro”, reforça uma mente cartesiana, dominada por uma suposta lógica-de-tudo, que exclui – nunca inclui. Assim, vivemos ocupados na tarefa de distinguir entre certo e errado o tempo todo.
Meninas que brincam com carrinho e meninos que brincam com bonecas não estão errados. Estão apenas experimentando formas diferentes de se relacionarem com o mundo, através da brincadeira. Proibir esta experiência só prejudica o desenvolvimento saudável da criança e de sua criatividade. Além disso, nesta restrição mora um medo antigo de algo que, definitivamente, não está no seu controle.
A verdade é que pais e mães morrem de medo de ter um filho ou uma filha gay e supostamente acreditam que cercando esta ou aquela oportunidade controlarão a orientação do desejo sexual de seu filho. Mas não vão.
Se seu filh@ for gay, não adiantará palmada, nem sermão, nem mesmo todas as técnicas maravilhosas da disciplina positiva para fazê-lo “endireitar-se” (ou entrar na linha que você acredita ser “a correta”). Tudo isso, na melhor das hipóteses (“melhor” do ponto de vista da homofobia) apenas fará com que seu filh@ não se expresse autenticamente e viva embotado, omitindo-se perante a vida e sofrendo. Sofrendo muito.
Com palavras mais claras: ao impedir a expressão autêntica do seu filh@ você só conseguirá fazê-lo sofrer enquanto impõe um desejo egoísta e vaidoso seu em prol de um padrão que não aceita a diversidade. Aí eu te pergunto: cadê aquele velho e bom “amor incondicional”? Amar incondicionalmente pressupõe “amar a essência, não a expectativa”- como escrevi no meu livro “Pare de perguntar o que seu filho vai ser” (Solléro, 2019).
Estudar diversidade sexual e de gênero não precisa estar no seu checklist de “como ser um bom pai” ou “uma boa mãe” desde que você se lembre diariamente de que a vida é muito mais do que somente dois lados, duas possibilidades e que você esteja disposto a amar e a aceitar seu filh@ como ele é, não como você gostaria que el@ fosse. A vida não é um sistema binário.
Quando você se dedica a educar com leveza e criatividade, você deixa ir embora expectativas bobas (que só tendem a conduzir você e a criança a viverem uma vida falsa e, portanto, infeliz) e abre espaço para entrar uma educação respeitosa que valoriza a autenticidade de todos nesta relação.
Educar com leveza e criatividade é educar com RESPEITO à diversidade.
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