Publicado em 17/02/2023, às 07h38 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Minha esposa nunca quis ter filhos, e não ajudou em nada quando, depois de uma gravidez surpresa, nossa filha a percebia apenas como um colo quentinho de onde poderia sugar leite infinito, e qualquer distância daquele peito a fazia chorar. Exausta, minha esposa esperava pelo menos um sorriso da bebê, um barulhinho agradecido pelo leite e cuidado, mas minha filha era muito séria e quando parecia que estava sorrindo, na verdade estava fazendo força para sujar a fralda.
Pra piorar, quando eu chegava do trabalho, cheio de brincadeirinhas, a menina se abria em sorrisos e alegria, deixando minha esposa ainda mais indignada. Ingrata! – ela pensava. Até os quatro anos, a criança não tem capacidade para entender passado e futuro. Quer tudo o que quer, na hora que quer, não importa quantas balas e chocolates ela já comeu, não faz diferença, o fato é que agora, neste instante, ela não está comendo nenhuma bala ou chocolate e é por isso que irá se jogar no chão esperneando.
O pai, que deu tudo o que o filho pediu, irá pensar – Ingrato!, mas o filho não tem culpa. O filho, como o pai, não pediu para vir ao mundo. Veio desavisado, acha que os outros estão ali para servi-lo, e isso segue durante toda a infância. Depois, na adolescência, principalmente na adolescência.
O pai, que esqueceu que foi filho, acha o filho um ingrato. O filho que não agradece pelo quarto novinho que o pai mobiliou, nem cuida dos brinquedos que o pai comprou depois de trabalhar tanto. O pai que dá todo amor para o filho, se compara com o próprio pai, muito menos amoroso, e espera que o filho agradeça. Olha como te amo, o pai pensa, eu podia ser muito pior, me agradeça.
Mas o filho, que não sabe e nem quer saber de nada disso, em algum momento pedirá para o pai estacionar longe da escola. Terá vergonha de tanto amor. Ingrato. Mesmo o pai ruim, que bate no filho e o castiga, pensa – Ingrato!, pois seu próprio pai batia mais forte e castigava mais violentamente. O pai ausente pensa – Ingrato!, pois seu pai era ainda mais ausente ou agressivo. O pai que dedicou sua vida ao filho pensa – Ingrato!, quando o jovem não faz nada importante da vida.
Então, o jovem cresce e daquele jovem nasce um filho. O pai vê o olhar do filho se iluminar. Verá, nos próximos anos, o filho passar adiante todo seu amor e atenção, verá o filho ser até mais amoroso e atento, até mais doce do que foi ele próprio. Não era ingrato, coisa nenhuma. O filho, afinal, guardava dentro dele os tesouros que o pai lhe dava, para passar adiante.
Ainda ontem durante um almoço com minha filha mais nova no restaurante ao lado da escola, uma família estava em pé de guerra na mesa ao lado. A mais nova não queria que a mais velha sentasse do lado da mãe. “A mamãe senta comigo”, resmungava chorando. A mais velha estava indignada e ficava gritando para os pais, no caixa – a fazer o pedido – “Ela não quer deixar eu sentar onde eu quero!”.
Eu e a Aurora rimos com gosto. Por mais que as minhas filhas sejam em média uns 6 anos mais velhas que aquelas menininhas, essa cena ainda se repete aqui em casa com frequência. Eu não estaria exagerando se dissesse que quase todo dia. No almoço também percebi que a mãe enfiava colheradas nas bocas das pequenas meliantes para que encerrassem suas lasanhas e fossem logo pra aula. Hoje em dia eu não faço mais isso, mas já fiz muito. Como nós, humanos, somos ridiculamente parecidos e repetimos nossos comportamentos como robôs.
É preciso um esforço para melhorarmos em relação aos antigos. É preciso estudar para aprender a não brigar, não ofender e tratar com respeito idosos e crianças. Educar os outros e nós mesmos dá um trabalho do cão, que muitas vezes nem é percebido, mas no conjunto da obra, vale a pena.
Toda vez que identificamos nos nossos pais, colegas e outros adultos comportamentos que não gostamos, é a nossa hora de refletir: como eu faço para ser diferente? Toda vez que magoamos alguém, também. Já que estamos nessa missão, de criar as novas gerações, é importante que a gente se questione: dá pra ser melhor, não dá?
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