Publicado em 05/12/2021, às 07h57 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Minha filha acorda todos os dias às nove da manhã. Escova os dentes, vai até a cozinha, começa a comer os pedaços de maçã que cortei pra ela. “Alexa, toca Xote da Alegria”, ela diz. Redescobrimos essa música assistindo à As Aventuras de Poliana, que agora está na Netflix. A máquina reproduz o forró e minha filha começa a cantar junto. “Se um dia alguém mandou ser o que sou e o que gostar, não sei quem sou e vou mudar”, ela canta.
Ouvimos umas seis, sete, oito vezes até ela decorar a letra e enquanto a gente fazia isso, dançávamos. Dançávamos, cantávamos, ela com um copo de leite e eu com minha caneca de café na mão. E enquanto dançávamos, ela ali e eu aqui, fechei meus olhos e eu estava no forró na Lagoa da Conceição, 20 anos atrás. Era a virada do século e eu tinha só vinte anos. Recém tinha entrado na universidade. Havia um forró muito popular em um bar chamado La Pedrera. As pessoas pagavam 5 reais pra entrar, se não me engano. Reunia todo tipo de gente, todas as meninas universitárias recém mudadas para a cidade, todos os meninos mais malandros e relaxados, todos os nativos e os turistas, em noites que acabavam perto das seis da manhã.
Naquela manhã, ouvindo forró com a Aurora, lembrei que tive um dia vinte anos, com a cara cheia de espinhas e o cabelo comprido, profundamente inseguro e ao mesmo tempo altivo, como todos os jovens são. Eu era um adolescente bobo e não sabia dançar, nervoso demais pra convidar qualquer menina pra formar uma dupla. E o Marcos de hoje, dançando na cozinha com a filha, sentiu pena do Marcos de ontem, se arrependeu de ter sido tão retraído, tão inseguro, tão preocupado com o que os outros vão pensar.
Se arrependeu de não ter dançado, rido, bebido, passado vergonha, aprendido a dançar forró com gente estranha, esquisita e suada e bêbada, conhecido todas as meninas recém mudadas para a cidade, se arrependeu de não ter sido um garoto mais leve, mais alegre, mais despreocupado com tudo. Se arrependeu dos nãos que disse, há vinte anos, e há dez anos, e há dois dias.
Então, Aurora pediu pra ouvir a música mais uma vez. Acredita que agora decorou a letra completa. Inventa uma dança com as mãos abertas e expressões faciais, abre os braços e pisca os olhos, interpretando cada frase da música. Canta, como se cantasse pra mim: “Pra que chorar suas mágoas, se afogando em agonia? Contra tempestade em copo d’água, cante o xote da alegria a a, ê ê. Derunde Dederunde Dederunde Dederunde”.
Ontem eu chorei ouvindo Shakira com minhas filhas. Nunca fui muito fã da cantora, mas, por algum motivo desconhecido, me emocionei. Será que foi a alegria, o swing, as saudades de quando eu era jovem e decorava as letras da colombiana e jurava que eu entendia tudo em espanhol? É impressionante como as músicas nos transportam para outros tempos, para mundos distantes e atiçam nossos sentimentos. “Perteneciste a una raza antigua, de piez descalzos y de sueños blancos”. Rolou uma lagriminha aí também?
Certa vez, era verão e a gente estava em Florianópolis de férias, na casa da minha sogra, no norte da ilha, mas tínhamos passado o dia num churrasco na praia no extremo sul. Na volta, queimados do sol, cansados do vento que insistiu em soprar o dia todo, e do trânsito, nos surpreendemos quando nossa filha pequena começou a gritar: “É essa música, é essa, da andorinha, que eu amo. É a música que o prof. Dani toca na aula da escola”.
Aumentamos o volume e nos deleitamos ouvindo “Voa, bicho”, cantada pelo Milton Nascimento e pela Maria Rita. Virou nosso hino naquele verão. Nossa filha adolescente é a DJ da casa. Foi ela quem nos apresentou a Billie Eillish, Ariana Grande e a dupla Videoclub. Eu já desisti de ouvir meus podcasts no carro. Se a Anita está junto, ela nem pede mais: “Mãe, posso pôr uma música?”. Não precisa pedir, ela sabe que gostamos da sua seleção. Entre as artistas nacionais, Clarice Falcão é a sua preferida. Já a Aurora gosta de Melim, Ana Vilela, Rita Lee e, recentemente, de forrós variados.
Quando o Marcos me conheceu, eu ouvia muito Kid Abelha. Era o único CD que eu tinha em casa. Ele me deu um dos Tribalistas e dobrou o repertório doméstico. Depois começamos a ouvir Nora Jones juntos e tantos outros. Toda família tem suas memórias, histórias e trilha sonora. Às vezes, basta um acorde pra acessar tudo, ao mesmo tempo. E é bom demais!
Moral: “Cante, dance e viva, sempre que puder. É aí que a felicidade se esconde”
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