Família

Separar para ficar junto

Imagem Separar para ficar junto

Publicado em 25/03/2013, às 21h00 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h31 por Redação Pais&Filhos


“Ah! Por que você não pode ficar assim para sempre?”. A frase, do clássico livro do Peter Pan, é sobre a personagem Wendy, então com 2 anos. Esse é o desejo de quase todas as mães: que nossos filhos não cresçam. Depois de um período de fusão muito grande, é bem difícil ir se separando daquele bebê que esteve dentro de nós por bons meses. Às vezes, parece até que estamos nos tornando menos mães quando, na verdade, ir se desvinculando é sinal de um ótimo trabalho. Um estudo que durou mais de 30 anos, feito pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, acompanhou 482 pessoas desde o início de vida e provou que, quanto mais forte o vínculo afetivo da mãe com o filho, mais baixos eram os níveis de ansiedade e estresse na vida adulta. Sim, amar demais não faz mal, mas, pra ser benéfica, essa proximidade intensa do começo da relação tem que estar em constante mudança.

Crescer é separar
Algumas separações naturais são importantes, na medida em que a criança vai se desenvolvendo e adquirindo novas capacidades. A primeira é no fim da amamentação – que pode ocorrer por vários motivos e em diferentes épocas. De acordo com um levantamento da Organização Mundial da Saúde e do Unicef, 43% das mães param de amamentar antes que a criança complete três meses, mesmo que o recomendado seja a amamentação exclusiva até os seis meses e, depois, combinada com outros alimentos, até os 2 anos. O desmame indica que aquele momento exclusivamente materno acabou. “Essa separação é mais difícil para a mãe do que para a criança. O que ela precisa é de uma rede de apoio e informações. O ideal é que o peito seja retirado gradualmente e, aliado a isso, a mãe tem que ir trocando esse vínculo para momentos como o banho ou com brincadeiras”, explica a psicóloga Jéssica Fogaça, filha de Luiz e Leila.
Neste contexto, desde os primeiríssimos dias de vida do bebê, alguns terceiros separadores aparecem para mostrar a noção essencial de diferença. O mundo não é só mãe e filho. Entre esses separadores, o primeiro é o pai.
O marido ou namorado é um dos principais apoios da mãe no crescimento do filho. Geralmente, é ele quem percebe melhor a necessidade de autonomia da criança. A mãe, por mais conectada que esteja, tem que prestar atenção no que ele fala”, explica a psicóloga e professora de psicodrama Heloisa Fleury, filha de Stella e João.
Depois do pai, as colônias de férias, as temporadas com os avós e a pré-escola são excelentes meios para aprendermos a nos separar de maneira suave. E, enquanto o filho vai se adaptando, é saudável para a mãe aproveitar pra ir ao salão, perceber o desejo sexual, ter tempo para ela e para os outros também. O lado mulher não pode ser deixado de lado por conta do lado mãe.
Começando a explorar o mundo
Quando os pequenos engatinhadores começam a falar e a andar, esse é o primeiro passo para que comecem a acessar o mundo do jeito deles. “A resistência de se separar também envolve dificuldades próprias da mãe. Os momentos acabam se tornando desafios, já que trazem imensa satisfação, mas, ao mesmo tempo, acontece a renúncia da total influência”, diz Mariângela Mendes de Almeida, psicanalista do Instituto da Família e mãe da Rafaela.
É aqui que o suporte emocional do início vai se mostrar muito importante e eficiente. “A linguagem é um sinal essencial: um atraso na comunicação é resultado de muito grude que não é saudável, já que a criança não precisa nem falar que já é entendida. É preciso compreender a necessidade da criança de se comunicar e que, ao falar, ela se percebe um ser autônomo”, acrescenta Mariângela.
A base fortalecida e o suporte emocional dão segurança e deixam a criança confortável pra ir se aproximando das coisas novas e diferentes. “Filhos vão partir, isso é fato. Mas o amor não vai diminuir nem acabar com essa partida. Fico preocupada e apreensiva de quando esse dia chegar, mas sei que meu laço com ela é maior que apenas alguns minutos de amamentação”, conforta-se a professora particular de inglês Carolina Dias, mãe da Maria Eduarda, de apenas 5 meses. O papel da mãe, a partir de então, é estar ao lado do filho nesta bela e longa caminhada.
Primeiro dia de aula
A hora de ir pra escola ou berçário é um grande momento pra ambos, já que, agora, em boa parte do dia a criança estará fora de casa. O ideal, de acordo com a psicóloga Jéssica, é que a criança participe de todos os momentos da escolha de onde irá estudar para que a mudança de rotina ocorra da maneira mais tranquila possível. “Essa nova experiência tem que ser boa desde o começo.
Como nessa fase a criança começa a dividir a atenção do adulto com muitas outras crianças, a mudança de vínculo é sentida principalmente por ela, e tudo deve ser feito com calma. Tudo tem que ser conversado, pois, quanto mais informações a criança tiver, menos ela vai fantasiar, e menos insegura ficará. Contar a própria experiência – só com coisa boa – pode ajudar”, orienta. Ser a fonte de exemplo e inspiração é uma ótima nova forma de aproximação.
Vá dando explicações claras e objetivas de tudo e todos os dias. É preciso criar combinados e, principalmente, cumpri-los. Se ocorrer algum imprevisto e você for se atrasar, por exemplo, avise por que e em quanto tempo você vai estar lá. Isso vai tranquilizando a criança sobre a segurança do contato. Mãe não pode ser incomunicável.
De acordo com a psicanalista Mariângela, o essencial é que, com as separações, o tempo disponível para se estar com o filho seja com qualidade, sem que se tente compensar a ausência com culpa e sem limites. A maquiadora Estér Ganev, mãe de Zion, de 2 anos, e Noah, de um, conta que tenta sempre fazer alguma coisa que cada um gosta. “Eu tento descobrir o que eles querem, ver o ponto de vista deles, e isso requer tempo e um bom par de ouvidos atentos. Com o Zion, por exemplo, eu gosto de pintar, já que na outra preferência, o videogame, eu sou bem leiga”, diz.
Ao mesmo tempo em que o vínculo é bom, a mudança dele é muito melhor para a relação. Mãe continua mãe, filho continua filho, mas o mundo vai se abrindo. “Amar um filho é ajudá-lo a encontrar a autoestima necessária para que ele nos deixe assim que se sinta pronto para isso”, diz o psiquiatra francês Marcel Rufo, no livro “Me Larga! Separar-se pra Crescer”. É uma verdade forte, mas não é preciso se preocupar. Ainda que as amarras com seu filho se larguem, o seu colo continuará sendo para sempre o porto seguro preferido dele.
ACHOU!!!
Brincar de esconde-esconde é uma maneira fácil e divertida de ir preparando o psicológico do bebê para as separações, já que toda manifestação lúdica é importante pra criança elaborar situações de crise ou impasse. Quando a mãe ou pai se escondem do lado do berço e depois aparecem com o “Achou!”, a criança percebe que, aguardando, ele vai ter o retorno. A expectativa que a criança fica a acostuma à relação de ausência e presença, além de deixá-la confiante pra ficar sozinha – ainda que por pouco tempo.
ETAPAS DO CRESCIMENTO AFETIVO
Até os 6 meses
Dependência total absoluta, fisiológica e afetiva, durante a qual o bebê ainda não tem condições de tomar consciência dos cuidados maternos
e não diferencia necessidade de falta.
Entre 6 e 18 meses
É o tempo de dependência relativa. Quando a mãe se ausenta, o bebê chora, pois aparece a angústia, sinal de que ele percebe sua dependência. A criança começa a existir como sujeito e percebe uma diferença entre si mesma e o outro.
A partir dos 2 anos
Por ter introjetado a imagem e os cuidados maternos, a criança obterá a independência – muito relativa, claro – graças, sobretudo, à aquisição da linguagem.
BIBLIOTECA
ME LARGA! SEPARAR-SE PRA CRESCER, DE MARCEL RUFO
O psicanalista francês mostra que não é possível viver sem laços, mas, quando esse laço se torna exclusivo demais, ele ameaça nos sufocar.
Ed. MARTINS FONTES (MARTINSFONTES.COM.BR), R$41,80
FORMAS DE FICAR COM SEU FILHO DEPOIS DAS SEPARAÇÕES NATURAIS
Leitura antes de dormir
Brincar no tapete da sala
Shantala (método de massagem pra bebês)
Montar um quebra-cabeça juntos
Pintar e colorir quadrinhos
Criar um teatrinho a partir de fábulas
Consultoria
Jéssica Fogaça, filha de Luiz e Leia, é psicóloga infantil comportamental e arte educadora, tel.: (11) 8526-2622; Heloisa Fleury, filha de Stella e João, é psicóloga, heloisafleury.com.br, Mariângela Mendes de Almeida, mãe da Rafaela, é psicanalista do Instituto da Família, tel.: (11) 3812-6321

Palavras-chave
Papel da Mãe

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