Publicado em 07/02/2012, às 08h00 - Atualizado em 26/04/2016, às 08h57 por Redação Pais&Filhos
Sindicato dos gêmeos, gravidez falsa de quadrigêmeos, gêmeos com diferença de cinco anos… O assunto está em alta. E você, está esperando filhos múltiplos? Saiba o que te espera.
Por Nivia de Souza, prima das gêmeas Jéssica e Michelle
Ela tinha 29 anos, um bom emprego, um carro novo. Parou de tomar pílula anticoncepcional e, apenas um mês depois, as suspeitas. Será? Por meio de um exame de sangue, a confirmação – e a certeza de que sua vida mudaria completamente. Ela ia ser mãe.
Como se não fosse surpresa suficiente, o primeiro ultrassom logo revelou: eram dois bebês. Não! Dois, não, eram três bebês! A raridade da situação – afinal, ela não havia feito nenhum tipo de tratamento – já a impressionava e foi em busca de um exame especializado. Então, descobriu: eram quatro bebês!
Foi assim que a jornalista Ana Carolina Barbosa Lima e seu marido, Jerônimo, descobriram que seriam pais dos quadrigêmeos Sofia, João Pedro, Laura e Beatriz.
Hoje, dois anos, 1.200 fraldas mensais e 32 mamadeiras diárias depois, a situação parece ter se ajeitado. Ana Carolina comprou um furgão, trabalha de casa, adaptou o apartamento para oito moradores (o que inclui as duas babás) e convive, feliz, com todo o barulho da criançada.
Ao receber a notícia da gestação rara, Ana Carolina saiu aos prantos do consultório médico. “Eu ficava o tempo todo pensando no que ia fazer. Tinha aquela conversa de que ‘no fim dá certo’, mas eu queria que desse certo desde o começo”, diz. O ginecologista Edílson Ogea, pai de Filipe e Beatriz, conta que, em geral, as reações são diferentes, dependendo se é ou não a primeira gravidez. “O marido quase cai da cadeira de tanto fazer contas! Mas é algo que traz uma alegria imensa”, compartilha o médico.
Choque, euforia e apreensão também estiveram presentes durante a gravidez da modelo e apresentadora Isabella Fiorentino. O caso dela foi ainda mais raro. Os trigêmeos Bernardo, Nicholas e Lorenzo são univitelinos, ou seja, os três se desenvolveram em uma única placenta. Apenas um óvulo foi fecundado e dividido, o que significa que são idênticos. “A cada ultrassom era uma angústia para saber se eles estavam bem, pois eu tinha apenas uma placenta para alimentar os três”, lembra a apresentadora.
Mundo dos gêmeos
Segundo o ginecologista Edílson Ogea, qualquer mulher está sujeita a ter uma gestação gemelar idêntica, que são os casos mais raros. Já a gravidez de gêmeos fraternos (dois ou mais óvulos fecundados) é diferente, porque costuma existir uma predisposição familiar.
O último censo do IBGE confirma o aumento de gestação múltipla. “Sem dúvida nenhuma, isso se deve às técnicas de reprodução assistida”, aponta Adelino Amaral Silva, pai de Maria Eduarda e Manuella, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). De acordo com estimativas do médico, das 12.750 mulheres grávidas por meio de fertilização in vitro e inseminação artificial, cerca de 3.200 estão em gestação de múltiplos, ou seja, entre 25% e 30% delas.
O impacto é grande e tem preocupado a SBRA. Tanto que a instituição solicitou ao Conselho Federal de Medicina (CFM) a limitação do número de embriões a serem transferidos ao organismo feminino. Os custos dos tratamentos ainda são elevados e, procurando aumentar a chance de êxito, é implantado mais de um embrião. “Hoje, só podemos transferir dois para as mulheres de até 35 anos, três para as entre 35 e 40 e quatro para as acima dos 40”, diz Silva.
A gravidez
A gestante de múltiplos sente falta de ar de forma mais intensa. A respiração é curta e rápida. Os batimentos cardíacos são mais acelerados, a pressão sanguínea fica um pouco mais baixa, e as crises de hipertensão são comuns. Barriga, mãos e face incham com mais facilidade. A digestão fica complicada, e as chances de refluxo são maiores. Por isso, elas não devem consumir líquidos durante as refeições – e o acompanhamento de um nutricionista é aconselhável. A quantidade de urina diminui a cada ida ao banheiro, e as idas aumentam, pois, com o crescimento do útero, a bexiga não tem espaço suficiente para encher-se por completo. É preciso também ter acompanhamento de um fisioterapeuta, por conta da acentuação da lordose, que pode refletir em dores.
É comum vermos por aí grávidas de múltiplos fazendo repousos longos, principalmente após a 20ª semana. Isso diminui o estresse.
Com o repouso, Isabella passou a trabalhar em casa. “As reuniões eram feitas na minha casa, às vezes no meu quarto, quando não podia mais levantar da cama”, conta a modelo. Já Ana Carolina revela que foi teimosa, tomou banho de pé até o último dia, escolheu a decoração dos quartos, jantou fora e até viajou. Mas é bom saber: se a mulher não obedece às ordens médicas, pode entrar em trabalho de parto prematuramente.
Organizando a rotina
Após o nascimento, as crianças precisam de um período de adaptação, que começa ainda na sala de parto. “Tem de ter um neonatologista para cada bebê durante o parto”, explica Ogea. Crianças de gestações múltiplas tendem a nascer prematuras e isso demanda um cuidado todo especial na maternidade.
É no berçário ou na UTI neonatal que começa a implementação de uma rotina no dia a dia dos bebês e da mãe e, também, a criação do vínculo entre eles. “Cada criança precisa ter suas coisas. Indicamos que seja feita uma planilha, para que todos tenham o mesmo cuidado”, exemplifica a enfermeira Débora de Oliveira, filha de Maria Emilia e Leovaldo.
“Minha casa era um quartel”, conta Ana Carolina, que tinha uma lousa para anotar os cocôs, as trocas de fralda, as mamadas. Tudo dividido entre manhã, tarde e noite. “Eu precisava saber das trocas para descobrir quando um deles estava com prisão de ventre”.
Segundo a enfermeira, amamentar os dois filhos de uma vez é saudável, pois as mães se sentem bem por poderem fazer isso. Quando só um está sendo amamentado, o sentimento é duplo: de felicidade por um estar ali e de receio pelo outro não estar.
Em muitos casos, a mãe recebe alta primeiro, porque os filhos demandam certos cuidados, como ganhar mais peso. Em outras situações, um bebê vai para casa antes dos outros, mas isso nunca é feito com grandes intervalos entre uma alta e outra. “Os bebês sentem falta um do outro”, afirma a enfermeira Débora.
De mãos dadas
A psicopedagoga Maria Irene Maluf, mãe de Maria Fernanda e Maria Paula, alerta para o fato de que algumas famílias tendem a querer que as crianças se pareçam ainda mais. “Não é uma pessoa dupla, são duas ou mais crianças”, comenta Maria Irene.
Aos poucos, cada criança começa a demonstrar gostos, preferências, jeitos e manias. E isso não pode ser esquecido pelos pais. “Cada um tem suas necessidades e características, e eles irão conviver bem com elas”, afirma a psicopedagoga.
Ana Carolina conta que a primeira coisa que fez foi não vestir os quadrigêmeos iguaizinhos – o único momento em que se vestem igual é nas festas. “Fica mais fácil controlar os quatro”, brinca. Já os trigêmeos de Isabella, por enquanto, estão se vestindo com as mesmas roupas. “Acho que, em breve, isso vai mudar. É importante cada um ter sua identidade”, afirma a apresentadora.
A escola é uma das preocupações dos pais de múltiplos. Muitas instituições pré-determinam que os irmãos gêmeos fiquem, cada um, em uma classe. “Não vejo grandes problemas e nem prejuízos pedagógicos e emocionais em deixar os irmãos juntos”, opina Maria Irene. Ela também comenta que as pesquisas mostram que, no fim do processo educativo, o rendimento dos gêmeos que estiveram juntos é similar ao dos que estavam separados.
Em casa, Ana Carolina observa que os quatro ficam muito felizes quando estão juntos. “Percebi que é ruim separar. Às vezes, um tem algum problema e não vai à escola, os outros sentem falta e procuram o irmão”, relata.
A comparação é um risco que irmãos, de gestações múltiplas ou não, podem correr de qualquer forma. Por isso, é aconselhável evitar esse tipo de comportamento por parte dos pais e da família. Gêmeos não têm as mesmas potencialidades. “Um pode ser um matemático e o outro péssimo nisso. Compare a criança com ela mesma, como faria com qualquer outro filho”, argumenta Maria Irene.
Em toda gravidez, o apoio e suporte da família são essenciais, mas, em gestações múltiplas, a dose precisa ser maior. “Não é fácil para a mulher. Para ela, parece que os desconfortos não vão acabar nunca”, diz Ogea. Ana Carolina sabe que dentro de sua casa estão quatro crianças que vão compartilhar, juntas, muitos momentos e descobertas. “Dificuldades à parte, é uma maravilha. Ninguém pôde me orientar a criar quadrigêmeos. Tive de inventar”.
No fim das contas, o instinto materno resolve tudo. A gente inventa, se vira, aprende – e as crianças também. Um amigo, certa vez, disse que já nasceu de mãos dadas com o irmão gêmeo. A natureza é assim.
Você viu?
• Falsa gravidez
No início de janeiro, uma mulher de 25 anos, moradora de Taubaté (SP), disse estar prestes a dar à luz quadrigêmeas univitelinas. Porém, seu ginecologista confirmou que, na última consulta, em outubro, ela não estava grávida. Existiam suspeitas, também, de que a mulher usou a imagem de ultrassom de uma outra gestante, tirada de um blog, para sustentar sua história. No final de janeiro, o advogado da mulher confirmou que a gravidez era falsa.
• Sindicato dos gêmeos
Os cartunistas gêmeos Paulo e Chico Caruso e os médicos gêmeos Ricardo e Alexandre Ghelmer, no intuito de misturar humor e ciência, criaram o Sindicato dos Gêmeos. Para fazer parte do grupo não é preciso ser, necessariamente, um gemelar – pode ser simpatizante! O grupo tem seus 10 Mandamentos e até reivindicações. Para saber mais, acesse: sindicatodosgemeos.com.br
• Gêmeo congelado
Um casal inglês, em 2005, fez um tratamento de fertilidade que originou cinco embriões. Com a implantação de dois deles, no ano seguinte, nasceu o primogênito do casal: Reuben. Os excedentes foram congelados. Ao decidir aumentar a família, o casal não teve dúvidas: usou um embrião congelado. Foi assim que nasceu Floren, gêmea de Reuben, só que cinco anos mais n
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