Publicado em 03/10/2011, às 21h00 por Redação Pais&Filhos
Um conto que nos conta quantos vestidos temos que trocar até encontrarmos aquele que veste e revela exatamente quem somos
Nessas férias fomos à praia, eu, minhas filhas, minha vizinha e minhas amigas.
Uma era a Rosa. Daquelas pessoas cujo abraço é capaz de fazer um furacão parecer uma brisa boa e fresca. Dentro do seu abraço quase tudo é tudo bem.
Depois a Ana. Me ensinou a ter uma irmã. Ana sabe dizer sim, a dizer não ela está aprendendo. É tão bonita, simples e forte, com olhos que faíscam, às vezes, as intensidades de ser ela. Helena é a filha da Ana. Está aprendendo sobre o amor, está crescendo rápido. “Me conta suas histórias de amor?”, ela pedia na beira do rio, enquanto assistíamos às pequenas nadarem.
Eu contei. Até as bochechas corarem, até eu ser como a gente é quando descobre o amor. Num vestido tão bonito quanto cheio de furos por onde todo vento passa, num misto de perfume, frio, leveza e desproteção.
Ainda não falei de Luiza. É que acabou de completar 7 anos. Quase não a vi nesses dias, estava sempre nadando. Seu corpo magro e delicado, seu pensamento tão vigoroso e uma beleza de olhinhos puxados, cílios grandes e boca banguela. Eu passei muitos dias assistindo à Luiza entrar no mar depois do carinho quase shantala de revestir toda pele com protetor solar.
Uma alegria das coisas grandes. Do mar imenso. De mergulhar no que de tão grande parece ilimitado e azul e salgado e mexido como a vida parece também.
E pra completar a lista, Thereza. Que passeava em nossos colos, olhando pra nós como quem pergunta: o que é ser menina? Qual princesa vestir?
Tetê tem 4 anos. Se vestia cinco vezes por dia, trocava saias, vestidos, colares sem parar. engana-se quem olha pra Thereza sem ser por dentro das camadas furadinhas das saias dela. Thereza estava assim como Rosa, Ana, Helena, Luiza e Eu. Perguntando: qual vestido que, colado ao corpo, revela quem somos? O que revelar, o que proteger? Quando se despir e mergulhar? Tetê procurava a fantasia perfeita pra ser ela. Pra tocar o mundo com pés das mulheres todas que ela vai inventar pra ser.
E vestir-se de si quando crescer.
Tetê vestida, rodava. Procurava tontinha os olhos do pai para que lhe atribuísse toda a beleza do mundo.
Queria ser bela. Queria poder sempre mudar de ideia. Queria, como todas nós, encontrar-se e ser ela.
Kiara Terra, mãe de Luiza e Thereza, é contadora de histórias e escritora. www.kiaraterra.blogspot.com
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