Gravidez

Bebê é operada dentro do útero com apenas 23 semanas de gestação e sobrevive a “dois partos”

Margaret foi aconselhada a abortar - Reprodução/ Texas Children’s Hospital
Reprodução/ Texas Children’s Hospital

Publicado em 17/09/2020, às 09h43 - Atualizado às 11h33 por Letícia Mutchnik, filha de Sofia e Christiano


Diferente da maioria das crianças, a bebê Lynlee Boemer sobreviveu “dois partos“. A mãe, Margaret Boemer, já tinha duas filhas e ficou muito contente ao saber que teria mais uma. Em um ultrassom, no entanto, perceberam algo estranho. “Parecia haver uma cabeça de outro bebê na imagem”, relatou Margaret.

Contudo, segundo a BBC, descobriram que, o que parecia ser outra cabeça, era um teratoma sacrococcígeno que havia tomado forma na coluna da pequena Lynlee. O raro tumor, apesar de ser o tipo mais comum encontrado em bebês, tem maior probabilidade de aparecer em garotas, sendo até quatro vezes mais comum, e ocorre em 1 a cada 35 mil gestações.

Margaret foi aconselhada a abortar (Foto: Reprodução/ Texas Children’s Hospital)

O teratoma estava dificultando a sobrevivência da menina, fazendo com que ela recebesse menos sangue do que deveria podendo ter uma falência cardíaca. Com somente 16 semanas de gravidez o tumor já podia ser visto, revelando a gravidade do caso. “Geralmente ele só pode ser visto mais tarde ou depois do bebê nascer”, evidenciou a mãe. Com pouca chance de sobrevivência da menina, ela foi aconselhada a abortar.

Tudo pela pequena

Sem entender o porquê de todas as suas gestações passarem por complicações, Margaret contou que ficou “destruída” ao ouvir o conselho médico, principalmente ao lembrar que já tinha passado por complicações após o nascimento da filha mais velha.

Sem querer abrir mão da pequena Lynlee, nome dado em homenagem à avó, o casal encontrou uma solução na internet que se chama cirurgia fetal. Por mais arriscada que fosse, Margaret, achou que valia tentar pela pequena. No entanto, só haviam quatro hospitais nos Estados Unidos que realizavam esse procedimento, e por sorte um deles era no estado em que a família mora, o Hospital Infantil do Texas.

A pequena Lynlee tinha 50% de chance de sobreviver (Foto: Reprodução/ Texas Children’s Hospital)

Foi aí que o casal se encontrou pela primeira vez com o médico nigeriano Oluyinka Olutoye, que é especializado em cirurgia fetal, e os explicou o procedimento, que consistiria em tirar o bebê do útero, remover o máximo possível do tumor e depois colocá-lo de volta. Pouco tempo depois, quando a menina tinha apenas 20 semanas e 8 centímetros, o tumor já estava com o seu tamanho, o que fez com que realizassem a cirurgia – que tinha apenas 50% de chance de Lynlee sobreviver.

Ainda assim, Olutoye ressaltou: “Sem uma intervenção ela provavelmente morreria”. E adicionou: “Esse tipo de procedimento é sempre arriscado, porque você opera ao mesmo tempo duas pessoas e pode perder ambas”

A batalha contra o relógio

A bebê ainda era muito pequena para a cirurgia, com essa idade tudo era ainda mais perigoso. Os delicados procedimentos de incisão e sutura eram mais arriscados já que a pele da pequena ainda era “gelatinosa”.

Ainda assim, quanto mais esperavam para uma cirurgia com menos riscos, mais o tumor crescia. Oficializando uma corrida contra o tempo.

Com 23 semanas de gestação, fazendo grandes esforços para pagar o procedimento, os médicos perceberam que o teratoma tinha crescido com uma velocidade maior do que a esperada e tinham que realizar a operação imediatamente.

A mãe se despediu das outras duas filhas e entrou na sala de cirurgia, que continha 20 médicos para entendê-la. Conseguiram, sem danificar a placenta, fazer uma incisão no útero da Margaret, expondo somente a parte de trás da pequena. Muito miúda, Lynlee pesava apenas 530 gramas e tinha 11 cm, sendo necessário o uso de lentes de aumento durante a cirurgia.

Ao entrar na sala de cirurgia a mulher se deparou com 20 médicos (Foto: Reprodução/ Texas Children’s Hospital)

Colocando o próprio corpo em risco para salvar a filha, Margaret foi uma verdadeira heroína, apontou o médico, que ainda acrescentou no final de uma operação muito bem sucedida: “Foi um privilégio e uma honraestar envolvido em algo que as pessoas nem sabem que é possível”.

O pós-operatório

Esperando o restante da gestação em completo repouso, o plano era segurar o nascimento pelo menos até as 38 semanas. Mas, apressada como de costume, Lynlee nasceu com 36 semanas em uma cesariana. Com oito dias de vida, contudo, a menina passou pela sua segunda operação, na qual removeu o restante do tumor que tinha sobrado da primeira cirurgia.

Hoje, com 1 ano e 8 meses, a menina sorridente não fica parada. “Ela sempre foi uma bebê muito feliz… É uma alegria ver ela. Não sabia que isso seria possível”, contou Margaret.

Apesar de tudo, a pequena Lynlee sempre terá que ser monitorada para que o tumor não reapareça. “Essa é uma questão para o resto da vida dela”, apontou a mãe, que hoje se lembra da emoção de ouvi-la chorar pela primeira vez.


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