Família

Tudo tem seu tempo: o que acontece quando você vai do papel de filha para mãe

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Publicado em 23/08/2020, às 06h09 - Atualizado às 12h22 por Redação Pais&Filhos


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Ela era adolescente e, um dia, saiu de casa sem avisar para onde ia e que horas voltava. Estava sem o celular. Quando se deu conta, tinha dezenas de ligações perdidas da mãe, que estava desesperada de preocupação. A história, que aconteceu com a blogueira do Just Real Moms, Renata Calazans, anos atrás, poderia ter se repetido com qualquer um de nós. E, para Renata ou outro adolescente, a mãe estaria exagerando, fazendo tempestade em copo d’água. 

Depois que você vira mãe tudo muda (Foto: Getty Images)

Agora que você já é mãe, entende tanta preocupação, não é? Pois é, o tempo muda nosso ponto de vista e a gente descobre que aquelas regras, conselhos e cobranças faziam parte do papel de mãe. E a gente estava no papel de filho de ir aos poucos conquistando mais espaço. Hoje, mãe dos gêmeos José e Maria Antônia, Renata reconhece em si o sentimento de angústia da mãe. “Eles ainda são pequenos, mas sei que, se um dia eu ficar sem notícias dessa forma, vou entrar em desespero. Para mim vai ser a morte”, diz.

E, independentemente do tipo de relação que se tem com a mãe, é bem comum que só com a maternidade a gente consiga entender muita coisa… Mas, sem culpa, não se deve exagerar na natureza dessa incompreensão: a diferença de perspectiva é normal em todas as relações – e na relação mãe e filha faz parte do processo natural de amadurecimento. O importante é aproveitar a maturidade para entender a mãe que ela foi.

Filha única, a contadora Priscila Rinaldis, mãe de Klaus, lembra sobre o relacionamento com a própria mãe na adolescência: “Achava que o amor dela era sufocante. Muito beijo, muito abraço, o tempo todo em cima de mim. Ela me dizia que, quando eu fosse mãe, saberia entender.” Depois que nasceu o Klaus, agora com 2 anos, Priscila entendeu o que é esse sentimento que nos faz querer estar junto do filho a cada segundo. “Falo para ela que finalmente sei o que é um amor incondicional. E ela dá risada.”

Mãe real

“A criança pequena tem uma visão idealizada dos pais – eles são perfeitos. Para desmontar essa visão, na adolescência, a gente começa a querer distância. É um contraponto”, explica a psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerar de Psicologia Perinatal, mãe de Gabriela e Mariana. O sentimento de finalmente entender a própria mãe é, portanto, uma oportunidade de se conciliar com as próprias falhas, perdoá-la e se perdoar, diz Vera. “Muitas mulheres idealizam a maternidade, e só na hora que trocam de lugar percebem que esse ideal não existe”, completa. Juliana Silveira, mãe de Olavo e Ana Helena, conta que teve bastante independência, o que evitou bate-bocas e brigas com a mãe, Jumara. “Mas co pensando: será que consegui retribuir o amor dela? Porque teve fases em que eu não dava a menor bola, só queria saber dos meus amigos”, diz.

A culpa pode até ser uma fase nesse processo de aceitação, mas tem de ser superada, afirma Vera. “É bom a pessoa perceber que fazia um julgamento muito severo da mãe. Mas ficar parada em um sentimento de culpa não ajuda em nada, é só mais uma forma de severidade consigo mesmo, ao supor que você poderia ter feito melhor no passado”, afirma. Assim como sua mãe, você fez o que pôde como filha.

Proteção e independência

No caso da fisioterapeuta Christianne Rodrigues, mãe de Mateus, o excesso de controle da mãe era o problema. “Ela sempre foi muito rígida e superprotetora. Teve uma época em que o nosso relacionamento ficou difícil, a gente brigava, eu batia de frente. Não entendia o porquê de tanto controle”, lembra.

Mas, ao se tornar mãe, Christianne ganhou essa nova capacidade de compreensão. “Hoje enxergo que essa vontade de dominação é algo que vem do querer bem, porque me preocupo muito com meu lho. Quando ele vai dormir na casa de uma tia, co pensando o tempo todo: será que estão fazendo tudo direitinho?”, diz. Apesar desse período difícil que teve com a mãe, Christianne consegue olhar para esse passado sem culpa. “Hoje nossa relação é ótima. Foi só uma fase mesmo; a gente tinha de passar por aquilo. Ela fazendo o papel de mãe, de se preocupar, e eu, o de filha.”

A psicanalista Karin Sapocznik Szapiro, mãe de Alan, Victoria e Helena, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise, explica que esse tipo de conflito é uma maneira de as filhas se “separarem” emocionalmente de sua própria mãe. Ela alerta, porém, que, mesmo reconhecendo que as diferenças são naturais, mãe e lhos devem se esforçar para ajustar as arestas durante a vida toda. “Cada ser é único e tem seu próprio modo de ver e lidar com as questões da vida. Portanto, uma dupla precisa constantemente estar disposta a buscar o entendimento, a compreensão. Isso significa que não é preciso pensar da mesma maneira, mas criar formas de conviver bem”, diz Karin.

Tal mãe, tal filha

Ser uma mãe parecida com a própria mãe é uma tendência em muitas mulheres. E não há nada de errado nisso. “Não tem como você se constituir numa nova função sem as identificações básicas. Ninguém escapa de ter a mãe como referência. O problema é quando essa figura é totalmente imitada, ou se tenta ser o completo oposto cada uma deve, aproveitar as marcas que tem, mas sem ficar aprisionada á figura materna“, diz Vera.

A jornalista Grace Barbosa, do site Mãezíssima, lha de Nadia e mãe de Julia, percebe que, com o tempo, está ficando bem parecida com a mãe, e fazendo até coisas que antes criticava. Ela sente apenas por sua mãe, que faleceu há um ano, não estar mais presente para ver tudo isso acontecendo. “Espero que ela tenha entendido o quanto eu ia me tornar igual a ela, mesmo sem eu ter conseguido expressar isso em palavras. Se ela estivesse viva, teríamos passado horas sentadas no sofá rindo das nossas coisas.”

Criada no interior do Paraná, Grace lembra que não entendia por que a mãe gastava tanto tempo em certas tarefas, e pouquíssimo para outras, como cuidar de si. “Levei anos para ver minha mãe de cabelo solto. Ela estava sempre de coque”, conta. Mas o que realmente a irritava era quando a mãe também lhe passava alguma pequena tarefa. “A gente tinha uma horta em casa em vez de ter um jardim. Ficava com raiva de ter que parar o que eu estivesse fazendo para ir à horta pegar uma salsinha para o almoço. Questionava por que ela não usava tempero de saquinho como todo mundo.” Atualmente, com a correria da vida de mãe, pega-se quase o tempo todo de cabelo preso. E, como não tem espaço para uma horta em casa, percorre a cidade para comprar sempre comida orgânica. Grace finalmente entendeu por que faz diferença, sim. O tempo ensina. E as memórias que ficam, mesmo das brigas, deixam de ser amargas e se tornam doces, de cumplicidade e de saudades!


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Comportamento Família pfnoinsta Educação Desenvolvimento Criança Mãe

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