Publicado em 16/04/2021, às 10h42 - Atualizado às 12h47 por Letícia Mutchnik, filha de Sofia e Christiano
No começo da pandemia da covid-19 pesquisadores apontaram que o vírus podia sobreviver em superfícies plásticas ou aço inoxidável e alertaram que se alguém tocasse uma superfície contaminada e então levasse as mãos aos olhos, nariz ou boca poderia se contaminar. O hábito de limpar as compras e desinfetar ambientes se popularizou. No entanto, a era do que ficou conhecido como “teatro da higiene” parece estar chegando ao fim.
Na última semana, segundo o Extra, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos ,atualizaram as diretrizes sobre a higiene de superfícies, tendo em vista que o risco de contrair o coronavírus ao tocar em um lugar contaminado era inferior a 1 em 10 mil. A nova orientação redireciona a importância que tem sido dada para essas medidas em comparação com outros cuidados, como distanciamento, uso de máscaras e ventilação de ambientes.
Em entrevista ao New York Times, a diretora dos CDC, Rochelle Walensky disse: “As pessoas podem pegar o vírus causador da covid-19 por meio do contato com superfícies e objetos contaminados. No entanto, os testes mostraram que o risco de transmissão por esta rota é muito baixo”.
Os cientistas já estavam esperando há muito tempo esse reconhecimento: “Mas as pessoas continuam a se concentrar muito na limpeza de superfícies. Não há evidências de que alguém pegou covid-19 ao tocar em uma superfície contaminada. Nós estamos mais familiarizados com a limpeza de superfícies, você pode ver as pessoas fazendo isso e a superfície limpa, acho que por isso as pessoas se sentem mais seguras” explica Linsey Marr, especialista em vírus aerotransportado do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia.
O físico Vitor Mori, pesquisador da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR, considera que o maior erro na condução da pandemia ao redor do mundo foi a má compreensão sobre a forma como o vírus é transmitido, o que levou à adoção de protocolos pouco eficientes para combater o contágio.
“Ainda hoje, com evidências robustas de que a transmissão pelo ar é a via mais importante, vemos cidades direcionando muitos recursos para desinfecção das ruas, ou a permissão para locais fechados e mal ventilados funcionarem só medindo temperatura e oferecendo álcool em gel. É urgente compreender como o vírus é transmitido e quais as implicações disso na forma como temos que nos prevenir”, explica Mori.
Ele explica que a transmissão pelo ar é muito mais preocupante e difícil de ser combatida, mas isso não justifica que as medidas adequadas não sejam tomadas, avalia. Dessa forma, medidas como lavar as compras feitas no mercado ou desinfetar sapatos e objetos não são efetivas contra a covid-19 e outros cuidados devem ser priorizados. “O grande risco não são os objetos, são as pessoas que carregam e transmitem o vírus para outras”.
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