Publicado em 16/03/2021, às 10h57 - Atualizado às 11h53 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
Durante a pandemia, passar mais tempo em frente às telas tem se tornado algo bastante comum. Seja durante as aulas online, ou nos momentos de lazer, é preciso ficar de olho na possibilidade do desenvolvimento de um Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). A partir de um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em parceria com a Universidade de Toronto, foi visto que crianças com idades entre 9 e 11 anos, que utilizam aparelhos eletrônicos com frequência, possuem uma maior chance de desenvolver TCAP um ano depois.
A cada hora gasta nas redes sociais, por exemplo, a pesquisa apontou que foi associado um risco de 62% maior de desenvolver a doença. Já para as horas assistindo televisão ou filmes, o número é de 39%. Para Jason Nagata, professor assistente de pediatria da Universidade da Califórnia em San Francisco e autor do estudo, isso acontece porque “as crianças podem ser mais propensas a comer em excesso quando distraídas em frente às telas”.
Pensando nisso, conversamos com as nutricionistas Dra. Flávia Montanari, da Liga da Cozinha Afetiva, filha de José Antônio e Sônia, e também com a Dra. Renata Buzzini, mãe de Carlos Eduardo e Maria Luiza, e diretora do Cardapioterapia, para tirar as principais dúvidas sobre o assunto e dar dicas de como driblar esse problema.
O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) pode ser caracterizado pelo consumo repetido de quantidades excepcionalmente grande de alimentos, de acordo com Renata Buzzini. “Ou seja, comer compulsivamenteacompanhado de um sentimento de perda de controle durante o episódio de compulsão alimentar”.
Além disso, Flávia Montanari comenta que geralmente o ato de comer acontece por um período de tempo curto, sendo uma enorme ingestão dos alimentos em 2 horas, aproximadamente. “A sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come, é seguido de sentimentos de vergonha e culpa, podendo de manifestar ainda na infância”, completa.
De acordo com a Unicef, um a cada três usuários de internet no mundo são crianças. Com a pandemia, houve uma popularização ainda maior de consumo, fazendo com que houvesse uma dedicação mais frequente ao uso de telas. A partir disso, Renata explica que pode haver uma maneira secundária de influência, pois a queda do gasto de energia aumenta o desejo por alimentos, fazendo com que a criança coma refeições mais calóricas, ocorrendo o aumento de peso associado também ao estresse e ansiedade.
Flávia acrescenta ainda que as crianças também podem passar a dividir a atenção entre as telas e as refeições. Com isso, elas não conseguem perceber a quantidade que estão comendo, além de impactar na mastigação, absorção de nutrientes, e digestão. “Isso pode ser um fator para o desenvolvimento de transtornos na alimentação“.
Por causa da imersão provocada pelas telas, isso interfere nos sinais fisiológicos de fome e saciedade. Além disso, “pode levar a escolhas alimentares inadequadas com o consumo de alimentos menos saudáveis”, reforça Flávia. Quando isso entra para a rotina, Renata faz um alerta para o início de um ciclo.
“Diante das telas, e criança não quer ‘perder tempo’ do jogo ou do que estiver fazendo e parte para algo prático e rápido para comer”, explica. “Com a recorrência disso, outros fatores vão sendo desencadeados, como o comer bem mais rápido que o normal, comer até se sentir desconfortável e acabar ingerindo grandes quantidades de alimentos, mesmo estando sem fome”, completa Renata.
Os principais sintomas do Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica são: comer mais rápido do que o normal, ingerir alimentos mesmo sem sentir fome, continuar comendo mesmo depois de estar saciado, sentir-se culpado por comer demais e comer excessivamente por, aproximadamente, duas horas. Caso você perceba alguns desses indícios na criança, procure pela ajuda de um especialista.
O momento da refeição começa antes mesmo de dar início ao consumo de alimentos. “Ele acontece na decisão do cardápio, na compra dos ingredientes, na preparação de uma receita, na mesa posta e no diálogo com a família”, explica Flávia. “Sempre que puder, faça as refeições em família. Estar com quem amamos e ainda desfrutar uma comida maravilhosa, não tem nada igual!”, recomenda a nutricionista.
A partir de um estudo realizado com 100 mil crianças e adolescentes brasileiros de 11 a 19 anos, foi visto que estar a mesa para fazer, pelo menos, as principais refeições com os pais está relacionado ao maior consumo de alimentos saudáveis e menor ingestão daqueles não saudáveis. Além disso, notou-se também um controle dos níveis de excesso de peso, o aperfeiçoamento das habilidades culinárias e hábitos mais saudáveis. O convívio social também fortalece (e muito!) os vínculosde toda a família e traz o bem-estar psicológico.
Para driblar o problema, as especialistas não descartam a importância de buscar por ajuda de um profissional e fazer acompanhamento com uma equipe Multidisciplinar como, médico, nutricionista, psicólogo, entre outros. Mas, apesar de ser um assunto bastante delicado e complicado, você também pode auxiliar em alguns hábitos dentro de casa.
A nutricionista Flávia Montanari explica que os pais podem: “Familiarizar a criança com o alimento (desde a compra até a mesa posta), cozinhar junto com a criança, fazer mais refeições em família, estimular a boa mastigação, limitar o tempo de telas em celulares, tablets, computador e televisão e, principalmente, incentivar mais atividades ao ar livre como, brincadeiras e exercícios físicos adequados para cada idade”, conclui.
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