Colunas / Mãe de Mochila

Falar com dedos

Rebecca Barreto

Publicado em 11/04/2018, às 11h17 - Atualizado às 11h18 por Rebecca Barreto


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“Mamãe, Mamãe, Mãaaaae, o que é aquilo?” apontou meu filho de 3 anos para a janela do ônibus que estávamos. Ônibus com bancos de pelúcia tigrada e janelas com cortinas de franjas azuis. Tínhamos acabado de sair do aeroporto microscópico de Kuatan, na costa Leste do meio da Malásia, numa estrada vicinal de uma região paupérrima.

Ele apontava com seus dedinhos firmes como sua curiosidade para o alto de um edifício, cheio de torres finas, janelas fechadas e topos dourados em forma de “pêra”, como ele se referia.

“aquilo meu filho, é uma mesquita. Uma ‘mosque’ ”. Chegamos a uma fase do bilinguismo, que muitas palavras novas têm que ser apresentadas nas duas línguas, e me espanta a quantidade de novas palavras que ele entende quando traduzo pro inglês, no nosso sempre resistente e meloso português.

– e o que é uma mesquita, mamãe?

E foi assim que começou mais uma de nossas viagens, onde conhecer e explorar e falar sobre qualquer assunto, é permitido, pois temos que estar abertos para o mundo.

(Foto: Rebecca Barreto)

Morar na Asia nos deixa mais próximos do tópico mais moderno, sociologicamente falando, que é as migrações de populações. Estar aqui, em países tão grudados e com religiões e cultura tão diversas, é saber que aquela imagem tão longínqua que no Brasil temos do que é ser muçulmano, é só um dedo mindinho do que a totalidade dessa cultura.

A Malásia é um país voando alto no ritmo de seu desenvolvimento, mas que, como todo país em ascensão, junta regiões áridas de plantações para sub-existência familiar com lugares gigantes e mágicos como Kuala Lumpur, que ainda está no meu bucket list.

Um bom pedaço de Singapura é “Malay” e muçulmano, e são muçulmanos coloridos, bem humorados. Dos antigos imigrantes, sobraram o arab quarter, a livraria incrível Wardah Books onde livros sobre Rumi, filosofia e amor, se misturam a livros de Woman Empowerment e Noam Chomsky, no meio de um público extremamente muçulmano. Do Arab quarter, as 5 da tarde, a mesquita fecha para visitação, e vemos um monte de gente entrando, ao som de altos falantes de uma música cantada por uma única voz masculina que alterna três notas contínuas numa língua impossível de se entender. E o rosa do por do sol de singapura, que dura quase duas horas, se mistura ao dourado reluzente das mesquitas dali. Cena linda de se ver.

(Foto: Rebecca Barreto)

Mas daqui, o que mais me impressiona, são as cores dos muçulmanos do lado de cá, as vibrantes estampas dos hijab das mulheres, cheias de broches e adornos e colares por cima do pescoço enrolado com véu, o cuidado na maquiagem e aparência facial, em olhos marcados com lápis e kajal. Aliás penso que se não fossem as mulheres aqui da Malásia, os broches já teriam sumido da humanidade.

Agora residindo na Asia há algum tempo, vejo que minha visão anterior do mundo muçulmano era totalmente simplista e parcial. Estereotipada por filmes com vilões e metralhadoras. E penso que, mesmo hoje tendo aprendido tanto sobre os Dervishes, Rumi, Al Corão o que eu preciso é me reconectar com a curiosidade de uma criança de 3 anos, igual a de meu filho no ônibus para Malásia, que sabe perguntar, apontar, questionar, e repetir muito, sem medo, o que ainda precisa ser descoberto até que isso que era estranho se torne familiar, e o mundo, ficando conhecido.

E quão enorme é a gratidão de ter olhos para ter o prazer em aprender sempre algo novo, a cada lugar que vamos.

(Foto: Rebecca Barreto)

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